Ser ou ter? - Manoel Coelho Jr.

 Buscai, antes de tudo, o seu reino, e estas coisas vos serão acrescentadas. Não temais, ó pequenino rebanho; porque vosso Pai se agradou em dar-vos o seu reino. Vendei os vossos bens e dai esmola; fazei para vós outros bolsas que não desgastem, tesouro inextinguível nos céus, onde não chega o ladrão, nem a traça consome, porque, onde está o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração.
 (Lc 12:31-34)

Proponho-me a pensar com você agora sobre a seguinte questão: O que é o mais importante o ser ou o ter? É mais importante o que somos ou o que possuímos? Penso que tal questão é de suma importância pois vai determinar em que direção conduziremos nossas vidas e o que buscaremos a cada dia como nossa prioridade. Afinal isso é importante, pois a nossa escolha quanto a estas questões ou nos conduzirá ao verdadeiro alvo de toda a nossa vida ou a um alvo falso que mais cedo ou mais tarde nos trará decepção. O fato é que na sociedade consumista em que vivemos boa parte das pessoas está gastando os seus dias em adquirir coisas. Querem ter aquela calça, aquele tênis, etc. Hoje tem um celular e amanhã querem outro com mais recursos. Hoje tem um carro, amanhã querem um mais potente. Os mais ricos querem um helicóptero ou um avião. Tal coisa não é nova na história da humanidade. Mas eu pergunto: Para onde isso nos levará? Não seria melhor cuidar do que somos? E você meu amigo o que tem feito de sua vida? Pense um pouco nestas coisas enquanto lê este texto.

Dentro da sociedade consumista a procura pelo ter é insaciável. Porém uma das perguntas que as pessoas deveriam fazer é a seguinte: É para isso que eu existo? Será que o sentido de minha vida é apenas para que eu consuma as coisas e continue a consumir mais e mais resumindo-se tudo só a isso? Para respondermos a estas perguntas deveríamos pensar na questão da satisfação. Quando algo é usado dentro do propósito para o qual foi feito logo ocorre a satisfação. Por exemplo, se tomarmos uma lâmpada e a colocarmos para iluminar um ambiente e ela for apropriada para o mesmo, então haverá satisfação, ou seja, aquela lâmpada bastará. Ela é própria para o ambiente. Mas será que isto acontece na vida daquele que prioriza o ter? Penso que não! Ora, um homem consumista consegue comprar em uma loja uma TV de plasma. Ele fica todo contente naquele momento. Mas não muito depois ele já pensa em comprar outra coisa para sua casa. Então consegue esta outra coisa. Porém, logo adiante ele quer mais outra coisa e isso passa a se repetir indefinidamente. Será que este homem está de fato tendo satisfação? Se está, porque vive sempre nesta busca de comprar, comprar e comprar? Não será isto um indício de falta de sentido na vida?

Outro ponto que devemos pensar é em relação a que resultado este modo de ver a vida causa com o passar do tempo. O resultado que segue é normalmente o egoísmo. Se eu priorizo o ter, eu colocarei estas minhas supostas necessidades acima do interesse alheio. Você já parou para pensar por que existe tanta necessidade no mundo? Não será porque boa parte das pessoas gasta seus recursos nesta busca insaciável pelo ter? Será que é apropriado dentro de uma mesma cidade, dentro de um mesmo bairro, existirem pessoas consumindo, consumindo e até estragando coisas e alimentos enquanto na vizinhança muitos passam fome? Será que precisamos juntar muito dinheiro e coisas enquanto nossos semelhantes não têm nada? Creio que a busca pelo ter e o egoísmo andam juntos. Dessa forma o segundo invalida o primeiro.

Ligado ao que acabei de mostrar está toda a questão da violência. Em nome do ter, muitos chegam tão longe ao ponto de passarem por cima da vida de seus semelhantes. Por poder, dinheiro e bens chegam a matar para conseguir o que querem. Por traz da violência que assistimos nos noticiários como consequência do tráfico de drogas, dos conflitos no campo e por herança, e da corrupção política e religiosa não está o terrível consumismo? Estes homens e mulheres querem ter e ter, por isso matam ou deixam morrer. Em nome do ter, muitos chegam a destruir vidas. Um carro passa a valer mais que um ser humano. Uma mansão passa a valer mais que multidões de idosos e crianças que precisam de médicos nos postos de saúde, e que podem morrer sem atendimento. Para o político corrupto o que importa é que esteja com os bolsos cheios de dinheiro para que possa ter mais e mais. Para o falso pastor milagreiro, não importa que seus seguidores morram por não procurarem médico acreditando que serão curados. Se estão contribuindo, o que importa? Se temos dinheiro o que importa? Por traz de toda esta visão distorcida da vida está a busca insaciável pelo ter a despeito do ser. Para tal tipo de pessoa não importa que esteja sendo desonesto e isso prejudique os semelhantes, contanto que tenham mais e mais.

Mas precisamos ainda afirmar que esta busca pelo ter no final da vida se mostra totalmente inútil. A morte é o fim desta busca, e o que se adquiriu é completamente perdido. Aquele homem rico deixa sua riqueza. Aquela mulher de muitas joias não terá mais contato com elas. Tudo, tudo, tudo se perde. É absolutamente vã toda esta busca pelo ter pois a morte irremediavelmente tirará tudo dos homens e mulheres.

Portanto, neste momento quero defender a visão bíblica desta questão. Na verdade a preocupação excessiva pelo ter faz parte de nossa natureza má e pecaminosa. O pecado, que é uma cegueira, nos faz pensar que o mais importante é consumir. Mas eu convido você a ouvir aquele que te criou. Será que Deus te criou para ter ou para ser? Vejamos: “Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra. Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.” (Gn 1:26,27). Observe que a ênfase estar em o homem ser. Deus o criou sendo: a sua imagem e semelhança. Assim o criador nos fez com este propósito, para sermos a sua imagem e semelhança. Fora disto não há aquela satisfação da qual já me referi. Mas o que significa ser a imagem e semelhança de Deus? Significa dizer que o homem foi criado parecido com Deus. Observemos bem este detalhe: O homem foi criado semelhante, parecido com Deus, e não igual a ele. A Bíblia não quer dizer neste texto que o homem é igual a Deus, pois com isso estaria dizendo que o homem é Deus. Ora, só existe um Deus e só a ele seja dada a glória. Porém a afirmação bíblica é que o homem possui características semelhantes às de Deus, parecidas com as do Senhor.

Entre as características semelhantes quero destacar apenas uma: a santidade. O Senhor é santo. Isto significa que Ele é impecável. A sua natureza é santa e é impossível que ele peque. Nisto o homem se assemelhava a Deus, pois, era santo no sentido de ter uma natureza santa. Apesar de que o homem não era impecável, e que de fato ele posteriormente chegou a pecar, ainda assim possuía uma natureza semelhante a Deus no sentido em que o seu coração desejava o que Deus desejava, amava o que Deus amava, queria o que Deus queria. Todo o seu ser, mente, corpo, vontade, desejos, planos, práticas, tudo o que era e o que fazia, corria como um rio na mesma direção da vontade de Deus. Ele andava junto com Deus, de acordo com Ele. Alegrava-se em obedecer-lhe. Não havia no homem qualquer resquício de rebeldia à vontade divina. Quando Deus trouxe os animais ao homem para que este lhe desse nome, observamos sua imediata obediência. Porque o homem agia assim? Porque interiormente queria agradar a Deus, a sua natureza era santa, e nisto ele se assemelhava ao criador. Em resumo o homem possuía uma natureza amante de Deus.

Assim meu leitor eu quero lhe afirmar que fomos criados para amar a Deus. Isso fazia parte de nossa natureza no início. Os homem era por natureza um amante de Deus. Na verdade esta é a base de tudo segundo as Escrituras. O seu ensino é que os homens devem buscar que seus corações sejam corações que amem a Deus. A Bíblia nos ordena: “Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força.” (Dt 6:5). Devemos ter sede Dele e buscá-lo de todo o coração e seremos então satisfeitos (Sl 42:1,2; Mt 5:6, Mt 6:33). Junto a estas busca está o amor ao próximo. Somos exortados a amar a Deus e ao próximo, e se não amamos ao próximo não amamos a Deus (Mc 12:33, I Jo 4:20). Este amor ao próximo é manifestado por meio de ações (I Jo 3:16-18). Aqueles que vivem desta forma não passarão (I Jo 2:17). Assim aprendemos as seguintes coisas ensinadas pelas Escrituras com relação ao ser ou ter:

A – Deus nos criou pensando em sermos conforme a sua imagem. Assim o importante para o Criador é o ser muito mais que o ter. Achamos sentido e satisfação verdadeira em sermos como Ele.

B – Ser como Ele implica em santidade o que nos leva a amá-lo de todo o coração. Assim o sentido de nossa vida está em sermos pessoas que amam a Deus.

C – Ninguém ama a Deus sem amar ao próximo. Assim faz parte do plano de Deus que sejamos essencialmente, ou seja, em nossa natureza, cheios de amor aos nossos próximos.

D – Os que são assim vivem para sempre. Suas vidas não são vãs.

E – Conclusão: O que importa é sermos seres humanos que amem a Deus e ao próximo no coração a despeito do que tivermos.

No entanto, a Bíblia mostra que o coração do homem está contaminado pelo pecado e é isto que o faz inverter as coisas considerando o ter mais importante que o ser. Este coração mau faz com que os homens esqueçam o ser distraindo-se com o ter (Mt 13:22). Deste coração mau é que brota este consumismo avarento (Mc 7:21-23). Portanto, os homem preferem loucamente ter coisas que ser o que Deus quer. E isso brota exatamente deles mesmos, ou seja, é porque eles são pecaminosos que eles estão tão preocupados com o ter. Isso brota naturalmente do que eles são. Assim de forma totalmente irracional o ser corrompido deles, sim, este próprio ser, faz que eles não busquem uma mudança interior que tanto precisam. Em vez disso eles procuram se entulhar de coisas, eles querem ter, ter e ter, achando que assim serão satisfeitos. Mas isto não os satisfaz pois internamente eles estão distorcidos, estão fora do propósito do Criador, e não adianta continuarem se enchendo de coisas, porque estas coisas não mudarão o interior corrompido deles. O problema deles está no ser e não no ter.

O que você me diz diante disto? Você se identifica com isso? Você é alguém assim? Eu quero lhe dizer que você precisa nascer de novo (Jo 3:1-16). E digo-lhe mais: Só Deus pode mudar você. Só Ele pode mudar sua natureza. Clame a Ele hoje meu amigo, suplique-lhe que mude seu coração. A mudança que Deus opera no coração de seu povo é na raiz. E desta raiz Ele faz brotar um novo entendimento do que realmente é importante. Na verdade Ele abre nossos olhos, nos tira da cegueira. Este novo nascimento que Deus opera leva nosso coração ao propósito para o qual foi criado: O amor ao Senhor (I Pe 1:18, I Jo 4:15- 5:5). A partir daí tudo entra no seu prumo, a vida se organiza, encontra o seu sentido, e este homem transformado passa a amar seu próximo (I Jo 4:12). Este homem agora sabe que a razão de sua vida é amar a Deus, obedecer-lhe, viver para sua glória, ou seja, ele sabe que deve expressar a imagem e semelhança de Deus, deve ser semelhante a Deus (Rm 8:28-30). Assim este homem percebe que o que mais importa nesta vida é ser. E quanto ao ter ele compreende que é uma dádiva de Deus a qual ele deve usar para sua glória (Tg 4:13-17; I Tm 6:3-21). E devemos ainda dizer que este homem está sim a ajuntar para si um tesouro. Mas este tesouro não é material mas espiritual, visto que o material perece, mas o espiritual é eterno (Mt 6:19-21). Assim a esperança deste homem não é vã, como daquele que só pensa no ter, ao contrário, a esperança do homem nascido de Deus é recompensadora, pois traz a eternidade na glória do Deus vivo em Cristo.

É em Cristo que Deus nos traz todas esta coisas de que lhe falo. É Nele que o Pai nos salva e regenera nosso coração. Pois, foi Ele quem morreu na cruz para libertar seu povo desta vida vã (I Pe 1;18,19). É preciso crer em Cristo e arrepender-se desta vida de inutilidade do pecado. Assim eu lhe exorto a que você clame pela misericórdia de Deus, arrependa-se por estar desperdiçando sua vida nesta loucura do consumismo. Arrependa-se por não se preocupar com o estado de seu coração diante de Deus, por não amá-lo, como Ele deve ser amado, por não obedecê-lo, por não viver para sua glória, por também não amar seu próximo como deveria. Creia em Cristo. Saiba que só seu Sacrifício pode trazer-lhe o perdão de Deus. Vá a Deus confiando unicamente em Cristo e em nada mais. Se assim fizer receberá o perdão de Deus e sua vida encontrará o sentido verdadeiro: A glória de Deus. Sim meu leitor a você diz o Senhor Jesus: “ Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes. Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela que subsiste para a vida eterna, a qual o Filho do Homem vos dará; porque Deus, o Pai, o confirmou com o seu selo. Dirigiram-se, pois, a ele, perguntando: Que faremos para realizar as obras de Deus?Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado. Então, lhe disseram eles: Que sinal fazes para que o vejamos e creiamos em ti? Quais são os teus feitos?Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Deu-lhes a comer pão do céu. Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: não foi Moisés quem vos deu o pão do céu; o verdadeiro pão do céu é meu Pai quem vos dá. Porque o pão de Deus é o que desce do céu e dá vida ao mundo. Então, lhe disseram: Senhor, dá-nos sempre desse pão. Declarou-lhes, pois, Jesus: Eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede.” (Jo 6:26-35).

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