Amor e humildade contrapondo o egoísmo e a soberba (Texto, áudio e vídeo)* - João 13: 1-20 - Manoel Coelho Jr.
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I – INTRODUÇÃO:
Este é um trecho cheio de contrastes. Aqui se inicia o
ministério mais particular de Nosso Senhor. Nele Cristo cuidará dos seus
amados, o seus mais achegados. O texto inicia com estas belas palavras: “Ora, antes da Festa da Páscoa, sabendo Jesus
que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, tendo amado os
seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim”. São as últimas horas de
Cristo e tudo o que faz é em prol dos seus amados. O ministério público encerara
de forma triste para os ouvintes, pois estes em geral não creram (Jo 12:37-40).
Mas há os do Senhor e estes são amados por Ele. Assim temos neste texto o
início destes atos de amor que vão culminar na própria Cruz, quando morrerá em
lugar deles. Mas aqui o contraste principal está no fato de que há também obra
do diabo em Judas. Judas não ama, mas trai. Não dá a vida, mas a mata. Não faz
nada pelos outros, mas os usa em “benefício” próprio. O contraste nos leva a
pensarmos em cada leitor. Em que lado você está? Do de Cristo ou de Judas?
II – CRISTO E JUDAS (Jo 13:1-5).
Cristo ama e sabe que se aproxima a sua hora de morrer pelos
seus amados. Dessa forma tudo o que faz é movido por este amor, tendo em vista
a sua obra sacrificial na Cruz. Mas neste trecho o ato destacado é o de lavar
os pés dos discípulos. Ele queria ensinar-lhes sobre o seu propósito de
servi-los, e os chamar para seguirem seu exemplo. Mas em Judas vemos outra
motivação e ação tão opostas que chega a ser assustador o contraste. Em Cristo
vemos amor e serviço sacrificial. Em Judas vemos egoísmo e traição. Em Cristo
vemos a obra do Pai em prol dos amados. Dai se dizer: “sabendo este que o Pai tudo
confiara às suas mãos, e que ele viera de Deus, e voltava para Deus”.
Mas em Judas vemos a obra do diabo. Por isso se diz dele: “tendo já o diabo posto no coração
de Judas Iscariotes, filho de Simão, que traísse a Jesus”.
Na verdade nenhum ser humano está fora destes padrões, isto
é, ou se está sendo objeto a obra graciosa e amorosa de Deus, ou se está sendo
manipulado pelo diabo. Lembremos que a obra do maligno é correspondente ao
coração não regenerado. Por isso o Senhor chegou a dizer para os seus ouvintes
incrédulos: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhe os
desejos. Ele foi homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade,
porque nele não há verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira.” Jo 8: 44. O diabo
encontra campo aberto no coração de homens ímpios como Judas. Ele já era
avarento em seu coração e por isso foi dominado pela tentação do maligno. Judas
também amava a mentira, o engano. Por isso se deixou levar pela sedução da
serpente como Eva no Éden. A mentira neste caso foi que ele poderia lucrar com
a traição. Mas Judas um dia se encontrou com a realidade e teve morte terrível.
Já a obra do Pai acontece no coração dos regenerados. Estes
são as ovelhas que ouvem a voz do Bom Pastor, Cristo Jesus (Jo 10:3). Há no
coração deles uma correspondência com a Palavra de Cristo. Eles possuem um
princípio santo de vida no íntimo, que os leva a amar os mandamentos e desejar
a Verdade, seguindo-a quando a encontram. Estes não se decepcionam, pois
encontraram a realidade espiritual.
Amado leitor, tome estes dois padrões bíblicos e em oração e
investigue a si mesmo à luz deles. Seja muito imparcial. O que há em seu
coração? Você ama o pecado ou a santidade? Você ama a Verdade ou a mentira?
Você está recebendo o amor de Cristo e sendo guiado por Ele ou é o diabo que o
conduz por sua sedução? Você vive na Verdade ou na mentira? Para onde você está
indo? Para onde seus caminhos o estão levando? Qual será o seu final? Você
segue o padrão dos amados por Cristo ou o de Judas, o seduzido e enganado por
satanás? Investigue-se atentamente.
III – O SERVO HUMILDE (Jo 13: 3-11).
Para entendermos esta passagem devemos olhar dois outros
textos dos evangelhos que nos ajudam a entender o contexto e o que acontecia na
mente dos discípulos. Leiamos:
“Então, se aproximaram dele Tiago e João, filhos de Zebedeu,
dizendo-lhe: Mestre, queremos que nos concedas o que te vamos pedir. E ele lhes
perguntou: Que quereis que vos faça? Responderam-lhe: Permite-nos que, na tua
glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda. Mas Jesus
lhes disse: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o cálice que eu bebo ou
receber o batismo com que eu sou batizado? Disseram-lhe: Podemos. Tornou-lhes
Jesus: Bebereis o cálice que eu bebo e recebereis o batismo com que eu sou
batizado; quanto, porém, ao assentar-se à minha direita ou à minha esquerda,
não me compete concedê-lo; porque é para aqueles a quem está preparado. Ouvindo
isto, indignaram-se os dez contra Tiago e João. Mas Jesus, chamando-os para
junto de si, disse-lhes: Sabeis que os que são considerados governadores dos
povos têm-nos sob seu domínio, e sobre eles os seus maiorais exercem
autoridade. Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se
grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro entre
vós será servo de todos. Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser
servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” Mc
10: 35-45.
Entre os discípulos aqui e ali havia a manifestação da
soberba pecaminosa que quer levar os homens a sobrepujar e dominar os demais.
Mas Cristo mostra que o princípio em seu Reino é diferente. O maior é o que
humildemente serve. Cristo se apresenta como exemplo deste princípio, visto que
veio morrer pelos seus. Mas leiamos o outro texto.
“Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o
cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós. Todavia, a mão
do traidor está comigo à mesa. Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo
o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo
traído! Então, começaram a indagar entre si quem seria, dentre eles, o que
estava para fazer isto. Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual
deles parecia ser o maior. Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam
sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores. Mas vós não
sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que
dirige seja como o que serve. Pois qual é maior: quem está à mesa ou quem
serve? Porventura, não é quem está à mesa? Pois, no meio de vós, eu sou como
quem serve.” Lc 22:20-27.
A mesma discussão volta, e, que coisa impressionante,
durante o estabelecimento da Ceia do Senhor. Isso nos ajuda a entender o motivo
de Cristo ter lavado os pés dos discípulos, o que ocorreu na mesma ocasião. Ele
queria demostrar na prática o princípio de serviço humilde em seu Reino. E em
tudo isso Ele amou-os até o fim, ou em absoluto. Seu amor o movia a quebrar a
soberba dos discípulos e mostrar-lhes, em seu exemplo, que somos chamados ao
serviço humilde. Ora, o que há no mundo? Resposta: “a concupiscência da carne, a
concupiscência dos olhos e a soberba da vida” I Jo 2: 16. No mundo há
soberba que quer se impor aos outros e manipulá-los para fins egoístas. Mas no
Reino de Cristo há humildade que se dispõe a servir aos outros. Percebe a
grande diferença?
Daí que Cristo assume uma posição de servo e passa a lavar
os pés dos discípulos, coisa que nenhum deles foi capaz de fazer. Mas como a poderiam,
se estavam discutindo sobre qual era o maior? Mas o constrangimento era muito
grande até que Pedro, o mais falante, o manifestou. Disse ele: “Senhor,
tu me lavas os pés a mim?”. Cristo respondeu: “O que eu faço não o sabes agora;
compreendê-lo-ás depois”. E esse “depois” deveria se referir a depois
de sua morte e ressurreição, pois só então compreenderiam as implicações
daquele ato que já apontava para a Cruz, como o veremos a seguir. Mas Pedro não
se confirmou. Disse em seguida: “Nunca me lavarás os pés.”. Neste
caso o Senhor respondeu: “Se eu não te lavar, não tens parte comigo”.
Aqui ficou evidente que aquele ato de lavar os pés simbolizava a verdadeira
purificação, que é a espiritual, e que aconteceria na Cruz, quando Nosso Senhor
morreria em lugar dos seus amados para limpá-los dos pecados. O Senhor já
dissera que “o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e
dar a sua vida em resgate por muitos.” Mc 10: 45. Por isso Cristo falou
que se não lavasse os pés de Pedro isso implicaria numa negação do discípulo de
seu serviço maior, que era sua morte sacrificial por ele. Mas Pedro não entendeu
e disse: “Senhor, não somente os pés, mas também as mãos e a cabeça.”.
Pedro não compreendera a simbologia implicando que a importância estava no ato
físico. Mas Cristo o corrige afirmando: “Quem já se banhou não necessita de lavar
senão os pés; quanto ao mais, está todo limpo. Ora, vós estais limpos”.
Cristo retomou a simbologia, e aqui deve-se entender que limpos são os
justificados em seu sangue. Neste caso a pessoa já se banhou precisando apenas
lavar os pés quando chega da rua, ou seja, precisa apenas ser perdoada ao pecar,
pois “se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar
os pecados e nos purificar de toda injustiça.” I Jo 1: 9. Mas lembremos
que Cristo também disse: “Ora, vós estais limpos, mas não todos.”.
Evidentemente Ele se referia a Judas, “pois ele sabia quem era o traidor. Foi por
isso que disse: Nem todos estais limpos”. Judas não era de Cristo.
Judas não estava perdoado. Judas era do maligno e se entregava a sujeira
espiritual. Judas estava impuro diante de Deus. Que terrível! O fato é que cada
pessoa que lê estas linhas ou está como Pedro ou como Judas.
IV – O SERVIÇO HUMILDE CONTRASTADO COM ARROGÂNCIA TRAIDORA
(Jo 13: 12-18).
Daí o Senhor passa para a lição. Em resumo Ele mostra que se
é o Senhor deles e assim agiu, então que sigam seu exemplo de serviço humilde.
O nosso exemplo é Cristo, e em especial em sua morte sacrificial. Ele veio
servir e dar a vida pelos seus. Ele foi até as últimas consequências neste
serviço. Ele os amou (Jo 13: 1), e por isso os serviu dando sua própria vida na
Cruz. Agora Ele diz a cada discípulo: “eu
vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também”. Em outras
palavras: “Vão e sigam o meu exemplo.
Sirvam aos seus irmãos. Sirvam, sirvam,
sirvam! Sirvam de forma humilde. Estejam dispostos a fazer os serviços mais
desprezíveis por eles. Estejam dispostos a lavar os seus pés sujos. Amem-nos, e
neste amor sejam levados a humildade do serviço sacrificial por eles”.
Este, meus amados leitores, é o princípio do Reino de Cristo. E Cristo
acrescenta : “Ora, se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.”.
Louvado seja o Senhor!
Mas o contrário de tudo isso está em Judas. Cristo diz: “Não
falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes,
para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim
seu calcanhar.”. Judas é o exemplo da soberba e egoísmo dos ímpios. É
um exemplo medonho daqueles que se voltam contra o próprio Deus encarnado
desejando sua morte. Exemplo daqueles
que se voltam contra alguém que os tratou como um dos seus amigos. Daqueles que
apunhalam pelas costas quem acabou de lhes ajudar, quem acabou de lhes dar o
pão. Estes são os egoístas presunçosos que não amam ao próximo, mas apenas os
usam para o proveito próprio. São aqueles que nunca servem a ninguém, mas muito
ao contrário, se servem deles e depois os traem.
Façamos então a comparação mostrando o estrondoso contraste:
1 – No Reino de Cristo
há amor a Cristo e aos irmãos, e consequentemente o serviço humilde motivado
por tal amor. Eis que esta é a vida de cada servo de Cristo, ainda que haja
imperfeições.
2 – No reino das
trevas há ódio a Deus, e consequentemente egoísmo e soberba, que os leva a
servirem-se dos próximos para benefício próprio, traindo-os em seguida. Esta é
a vida de cada homem e mulher não regenerados, ainda que não cheguem a um grau
extremo como o de Judas. Mas em todos há isso de alguma forma.
Que meus leitores analisem suas vidas: O que prevalece em seu
ser? Há amor a Cristo e admiração por
sua obra na Cruz, ou desagrado por seus ensinos e exemplo de serviço humilde?
Há amor aos irmãos ou indiferença quanto a eles? Há serviço aos irmãos, ou o
servir-se dos irmãos para fins egoístas? Há disposição para serviços mais
humilhantes, como lavar os pés, ou entende-se que isso é baixo demais para ser
executado por pessoas tão elevadas como nós? Enfim, somos de Cristo ou somos de
Judas?
V – A SEGURANÇA DOS ENVIADOS (Jo 13: 19, 20).
A Palavra de Cristo é digna de total crédito, pois Ele é o
EU SOU. Ele sabia tudo sobre Judas. Não foi pego de surpresa. Ele mostra assim
que tem a autoridade de Deus. Daí que os seus enviados vão ao mundo como
aqueles que possuem a Palavra do próprio Deus, sendo que se forem ouvidos será
Cristo o recebido, e Aquele que o enviou, ou seja, o Pai. Eis a confiança e
certeza dos discípulos de Cristo. Eis que Judas não participou dela, assim como
cada ímpio também não participa. A estes resta apenas o Juízo, pois desprezaram
o próprio Deus em sua Palavra em Cristo. Mas os crentes receberam a Verdade, e
agora são enviados com a autoridade do próprio Deus em sua Palavra que
anunciam. Duas situações completamente opostas. Em qual deles você está?
VI – CONCLUSÃO:
Cristo ama aos seus absolutamente. Por isso os serve e os
chama ao serviço. Judas não ama a Cristo, e a ninguém serve, mas trai. Em qual
destes casos nos encaixamos?
Pode ser copiado e distribuído livremente, desde que indicada a fonte, a autoria, e o conteúdo não seja modificado.
*Pregação da noite de domingo, dia 07 de setembro de 2014, na Congregação Batista Reformada em Belém.
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