ELES CLAMAVAM: CRUCIFICA-O – Manoel Coelho Jr. João 19: 1-16.


Chegamos a este solene trecho, que mostra que diante da hesitação de Pilatos, o povo, tendo já rejeitado a Cristo em favor de Barrabás, agora clama por sua crucificação. Eles clamavam: Crucifica-o. Mas para que isso aconteça, há a participação das autoridades judaicas, que incentivam o povo, e das autoridades romanas (Pilatos e soldados), que usam de violência e omissão no julgamento. Todavia, por trás de tudo isso está Deus, entregando Seu Filho para morrer pelos eleitos. Vamos, neste estudo, olhar para todos estes agentes em suas reações a Cristo como Salvador, e como ser humano, e para a obra de Deus em Seu amado Filho em prol de nossa salvação, aplicando às nossas almas estes ensinos.

I - Pilatos e os soldados diante de Cristo (1-3).
Pilatos constatou a inocência de Cristo. Mas temeu fazer justiça libertando a Cristo, para não se indispor com aqueles perigosos líderes judeus. Assim, de maneira completamente indigna, entrega Cristo à tortura dos acoites, esperando com este castigo cruel, satisfazer os judeus. “Estes açoites eram uma forma bárbara de tortura; as tiras de couro de que o açoite era feito estavam entrelaçados com pedaços de metal ou de ossos que transformavam o corpo da vítima em uma massa sangrenta, e não é surpreendente que, às vezes, este tratamento em si já fosse suficiente para causar a morte” (F. F. Bruce). Além dessa grande violência, Nosso Senhor sofreu mais uma sessão de tortura, recebendo uma coroa de espinhos preparada pelos soldados romanos, que passaram a ricularizá-lo dando-lhe bofetadas enquanto diziam ”Salve, Rei dos judeus”. Aqueles homens, os soldados romanos, desprezavam os judeus, e, consequentemente, zombavam daquele homem preso e humilhado, como rei deles.
Vemos nestas ações de Pilatos, que acabara de ouvir as Palavras de Cristo sobre seu reino de outro mundo, sobre ser aquele que testemunha a Verdade (Jo 18: 36, 37), um total desprezo pelo Rei vindo do Céu. Por outro lado notamos sua absoluta injustiça com o homem Jesus, pois mesmo sabendo de sua inocência, o açoitou cruelmente, e o expôs a ainda mais tortura e humilhação. Quanto aos soldados, vemos a indiferença sobre quem era Jesus. Não se davam conta que estavam diante do Redentor, e nem mesmo desejavam saber alguma coisa a respeito. Para eles era apenas um pobre coitado judeu, sobre o qual só podiam atribuir desprezo e zombaria.
II - Pilatos, e os líderes judeus diante de Cristo (4-16).
Neste trecho notamos uma espécie de jogo entre Pilatos e a liderança judaica, uma disputa entre a perversidade dos judeus e a hesitação de Pilatos, que resultará finalmente na crucificação de Cristo. Observamos esta disputa nos seguintes movimentos:
1 - Pilatos apresenta Cristo ferido e humilhado (4-6).
Pilatos desejava satisfazer os perversos líderes judaicos, apresentando o Senhor naquele estado deplorável. Cristo está ensanguentado. Sua face está grandemente machucada devido às muitas bofetadas, e por ela escorre sangue, resultado dos espinhos da terrível coroa. Suas costas estão dilaceradas pelos cruéis açoites. Ele está horrivelmente ferido e humilhado. Pilatos ainda afirma: “Nele não vejo crime algum”. Com isso queria dizer que já tinha sido suficientemente castigado. Diz, ainda: “Eis o homem”. Aqui está este homem humilhado. Possivelmente João observa tais palavras, para destacar a humanidade de Nosso Senhor; O Deus-homem estava sofrendo pelos homens. Mas o resultado não é o esperado por Pilatos. Aqueles líderes perversos querem matar a Cristo de qualquer maneira. Eles incitam a multidão e todos gritam “Crucifica-o” repetidamente (Mt 27: 20-22). Pilatos retrucou dizendo que se é assim, que eles o crucifiquem. Ele sabia que eles não podiam fazer isso. Mas o diz para demonstrar que não faria aquilo, pois Cristo era inocente.
Notemos nestas palavras o quanto Cristo sofreu e foi humilhado pelos pecados de seu povo. Notemos, também, a ênfase em sua inocência. Ele tinha que ser inocente para ser sacrificado por nossa salvação. Além disso, é digno de observação a hesitação de Pilatos, que não libera logo a Cristo, mesmo sabendo de sua inocência, mas o expõe à humilhação, já tendo-o feito sofrer tanto, e tudo por egoísmo e covardia. E note-se, ainda, a perversidade dos líderes religiosos judaicos, que por ambição e inveja (Mt 27: 18) querem matar o inocente Jesus.
2 - Os líderes judaicos destacam a sua Lei (7-11).
Observando a hesitação de Pilatos, e que não estavam conseguindo a condenação de Cristo pela acusação de sedição, os líderes judaicos apelam para sua Lei, para outra acusação, dizendo que Cristo se fez culpado por declarar-se Filho de Deus (Leia: Mt 26: 62-66). Portanto, pela Lei do Antigo Testamento, Cristo deveria ser punido com morte por ter blasfemado (Veja: Lv 24: 16). Claro que não havia blasfêmia alguma, pois Cristo de fato é o Filho de Deus, mas aqueles incrédulos não queriam saber da verdade. Assim, eles pressionam Pilatos com sua Lei judaica. Possivelmente estão apelando para seus direitos diante de sua própria Lei, conforme conferido por Roma.
A reação de Pilatos foi de temor supersticioso, ao ouvir que Jesus alegara ser “filho de Deus”. Afinal, teria aquele homem alguma ligação com a divindade? Ele teme muito. Por isso pergunta: “De onde és tu?”. Mas Cristo se cala. Aqui vemos o Cordeiro de Deus se entregando silenciosamente à morte. Mas também devemos notar que não falaria mais a Pilatos sobre quem era, após já ter se identificado como Rei de outro mundo, e como testemunha da Verdade (Jo 18: 36, 37), ainda mais diante de uma curiosidade supersticiosa. Quem despreza a Palavra de Deus, e segue superstições, em breve não a terá mais, sendo entregue a seu próprio coração mau (Lc 19: 26; Rm 1).
Diante do silêncio de Cristo, apesar de estar com medo, Pilatos cheio de orgulho diz que a morte ou soltura de Cristo estão em suas mãos. O Senhor retruca com a afirmação preciosa de que o poder que Pilatos possuía sobre Ele, lhe tinha sido concedido de cima, ou seja, de Deus. Com isso Cristo queria dizer duas coisas interligadas: Primeiro, que o Pai é quem estava entregando o Seu Filho a Pilatos, para que fosse sacrificado pelos eleitos. Segundo, é que toda a autoridade de Pilatos, como de qualquer outra pessoa que exerça governo, vem de Deus. Por esse motivo é que Cristo diz que quem O entregou a Pilatos, maior pecado tem. Evidentemente o Senhor aqui se refere a Caifás. Este homem perverso usa sua autoridade dada por Deus para matar o Filho de Deus, entregando-o a outra autoridade, que é Pilatos. Neste sentido, Caifás ainda é mais culpado que Pilatos, ainda que este também seja culpado.
Neste trecho temos a teimosa determinação da liderança judaica em matar o homem Jesus, avançando com outra acusação, quando a primeira parece falhar. Tudo por causa da inveja e ambição. Mas, ainda no mais profundo, temos a incredulidade, que rejeita a Cristo como Filho de Deus, atribuindo-lhe blasfêmia. Já em Pilatos vemos desprezo à Palavra de Cristo e superstição, o que leva ao silêncio condenador de Cristo. Nele também vemos orgulho sobre o homem Jesus, não observando que ali estava Aquele que lhe fora entregue pelo Pai para morrer por pecadores, e que toda autoridade que tinha sobre aquele homem, provinha de Deus.
3 - Os líderes judaicos ameaçam Pilatos com o poder de César.
Depois das palavras de Cristo, que mostraram mais ainda que o Senhor não era um revolucionário, pois reconheceu as autoridade constituídas, Pilatos trabalha para libertar a Jesus. Ele não deu atenção à acusação de sedição, e também não consideraria a acusação de acordo com a Lei dos juderus, se Cristo era ou não Filho de Deus. Diante disso, os líderes judeus dão a “cartada final”. Eles dizem: “Se soltas este, não és amigo de César; qualquer que se faz rei é contra César”. Aqui está uma ameaça. É como se tivessem dito: “Se não o crucificares, nós te denunciamos ao Imperador, pois segundo nossa denúncia este se fez Rei”. Foi o movimento decisivo nesta disputa. Pilatos, como egoísta e covarde que era, não tinha mais saída. Ele não queria problemas com aqueles homens perversos e perigosos. Sabia que podia perder tudo, e até mesmo morrer, se isso chegasse a César. Tinha que entregar Cristo para a Cruz. E foi o que fez. Ainda zombou deles dizendo: “Eis aqui o vosso Rei. Mas eles bradaram: Tira, tira, crucifica-o. Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os principais dos sacerdotes: Não temos rei, senão César”. Que coisa terrível; Eles que odiavam tanto a César e aos romanos, escolheram como Rei a César em lugar de Cristo. E de fato era esse o caso deles. Cristo não era seu Rei. Então Pilatos se assenta para declarar o veredito final: Cristo é entregue à Cruz. Cristo é entregue à vontade deles (Verso 16). Mas, na verdade, era a Vontade do Pai. Notemos o destaque de João sobre a Páscoa no verso 14. Se refere à preparação para o sábado da semana da Páscoa. Cristo é o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. Cristo é o Cordeiro Pascal (Jo 1: 29; I Co 15: 7).
Pilatos rejeitou o Rei Jesus para ficar bem com César. Pilatos açoitou, torturou e condenou à morte o inocente homem Jesus, para livrar-se de complicações com os líderes judaicos assassinos (Jo 19: 1-3; 12-16). Assim são os ímpios, desejam a amizade dos poderosos desta vida, afrontando o Todo-Poderoso; entregam inocentes à morte, para não despertarem o ódio dos culpados perseguidores. A falta de temor a Deus, conduz ao egoísmo e covardia, e à consequente destruição do próximo, criado à imagem de Deus.
Mas os líderes religiosos judaicos são ainda piores que Pilatos. Eles o manipulam para matar a Cristo. Eles vão mudando de estratégia para conseguir seu intento assassino. Chegam a usar a própria Lei de Deus, que apontava claramente para Jesus como messias, deturpando-a completamente para o matarem. Que absurdo! Que falta de temor a Deus! Assim são os ímpios religiosos. São cheios de zelo aparente por Deus e pela religião. Mas no fundo no fundo, são cheios de ódio a Deus, a Cristo, e aos homens, aos quais enganam, manipulam, e matam, por poder, ambição e inveja.
Todavia, em tudo isso vemos o amor do Pai, que dá o Seu Amado Filho por pecadores, e o amor de Cristo, que se entrega a toda aquela humilhação, violência, dor e sofrimento, para salvá-los. Que impressionante! Que amor!
III - Conselhos:
1 - Como temos reagido a Cristo? Como os soldados, com indiferença completa, cheios de soberba? Como Pilatos, com interesses mais pelos benefícios desta vida, e por tais benefícios passageiros, desprezando Sua Palavra e Reino Eterno? Ou, tem sido comos os líderes religiosos judaicos, que com uma falsa religião encobrem seu ódio a Ele e ao Pai? Pensemos: Nossas reações têm sido semelhantes a alguma destas? Se sim, é necessário a genuína conversão, o arrependimento e a fé em Cristo.
2 - Como reagimos ao próximo? Como os soldados, com desprezo, preconceito racial e de outras ordens, com crueldades, violência e tortura, verbal ou física, humilhando-os? Como Pilatos, que tendo poder, não fez justiça, não livrou o inocente, mas para não perder benefícios, se acovardou e o deixou morrer? Como os hipócritas judeus, cheios de religião aparente, mas que no coração estão cheios de ódio, inveja, mentira, e desejo de fazer o mal? Será que nosso tratamento com o próximo se parece com um destes casos? Como podemos, então, nos dizermos cristãos? Como nos professarmos seguidores de Cristo neste comportamento? Ora, Cristo amou, serviu, se sacrificou, se humilhou, para salvar os homens. Somos como Ele? Se não, é preciso profundo arrependimento. Aos que se professam cristãos, amem e sirvam, como dizem que foram amados e servidos por Cristo. Eis a evidência de discipulado e cristianismo autênticos. “Porque para isto sois chamados; pois também Cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigais as suas pisadas. O qual não cometeu pecado, nem na sua boca se achou engano. O qual, quando o injuriavam, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente” (I Pe 2: 21-23).
3 - Cristo entregou-se ao sofrimento por nós, sendo homem, inocente, o Cordeiro Pascal, segundo a vontade do Pai. Somente em Cristo há salvação. Que todos creiam nEle. E que os crentes sejam profundamente gratos, andando em suas pisadas. Amém!
*Esboço do sermão do Culto Público de 11 de dezembro de 2022.

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