ELE FOI CRUCIFICADO POR PECADORES – Manoel Coelho Jr. João 19:16-22.

Vimos nas exposições passadas que Pilatos por várias vezes declarou a inocência de Cristo. Homem perfeito era o Senhor, o Deus-homem, e, portanto, capaz de morrer no lugar de pecadores para salvá-los. Apesar da sua inocência, Pilatos, pressionado pelos líderes judeus, o entrega para ser crucificado. No entanto, tudo estava no propósito do Pai. Veremos neste estudo que o que João nos relata sobre a crucificação de Cristo, na verdade cumpre as profecias do Antigo Testamento. De fato, desde Gênesis 3:15. o Senhor já prometera que viria o descendente da mulher, Aquele que pisaria na cabeça da serpente libertando a humanidade. Cristo cumpre as profecias e os tipos do Antigo Testamento. Ao observarmos o cumprimento de tais profecias, chegamos à compreensão da natureza da crucificação de Nosso Senhor, como sua obra sacrificial, morrendo no lugar de seu povo para salvá-lo. Ele é o Único Salvador, portanto. Por outro lado, o trecho também nos informa que Pilatos pregou um letreiro na Cruz com os seguintes dizeres: JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS. Assim, a segunda informação que temos é que Aquele que foi crucificado também é Rei. Pilatos, mesmo sem saber, estava sendo usado por Deus para declarar a todos a realeza de Nosso Senhor. Jesus é Rei, o Rei ungido de Deus. O texto, então, chama todos para fé nesse Redentor Único, para que creiam na Verdade, tornando-se súditos de seu Reino Eterno, para que consequentemente vivam em gratidão a Ele, seguindo o seu exemplo de amor e serviço. Vamos estudar este trecho observando os seus ensinos, aplicando-o às nossas vidas pela graça do Senhor.

I - Ele morreu por pecadores (16-18, 20).

Há eventos na narrativa de João que claramente cumprem profecias do Antigo Testamento, e com tais cumprimentos entendemos o significado de sua morte. Vejamos:

1 - Ele carregou a sua cruz.

Em Isaías 53: 7 lemos: “Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a sua boca; como um cordeiro foi levado ao matadouro, e como a ovelha muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a sua boca”. Cristo carrega a sua cruz em silêncio, sem nenhum protesto, cumprindo a profecia de Isaías. Cristo, que com poucas palavras jogou por terra um batalhão, em silêncio carregou a própria cruz para o calvário, a fim de morrer no lugar de pecadores. O Deus-homem amou os seus até o fim, até a Cruz (Jo 18: 5, 6; 19: 17; Is 53: 7; Jo.13: 1). A ação de carregá-la em silêncio, mostra a voluntariedade de Nosso Senhor, por amor ao Pai e aos eleitos, os amados do Pai. Ele o obedeceu perfeitamente, bebendo o cálice de sofrimento que lhe deu (Jo 18:11). O Senhor agiu assim porque este era o único caminho, para a salvação de seu povo. Quanto amor! Quão gloriosa é esta obra de salvação, única e cheia de amor.

2 - Ele se fez maldito na cruz.

Lemos em Dt 21: 22, 23: “Quando também em alguém houver pecado, digno do juízo de morte, e for morto, e o pendurares num madeiro, O seu cadáver não permanecerá no madeiro, mas certamente o enterrarás no mesmo dia; porquanto o pendurado é maldito de Deus; assim não contaminarás a tua terra, que o Senhor teu Deus te dá em herança”. O pendurado no madeiro, após a execução por um criem que cometera, era considerado maldito de Deus. Por esse motivo tinha que ser enterrado no mesmo dia sem falta, para que a terra não fosse contaminada. Mas Paulo, em Gálatas 3: 13, liga este fato ao que aconteceu com Cristo, nas seguintes palavras “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se maldição por nós; porque está escrito: Maldito todo aquele que for pendurado no madeiro”. Cristo, ao ser pendurado na cruz, se fez maldito por seus amados. Isso aponta para a realidade de que Ele assumiu a maldição deles, maldição que a Lei lhes trazia por suas iniquidades, “para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós recebamos a promessa do Espírito”. Cristo morreu, para que seu povo vivesse. Cristo paga por seus pecados. Somente nEle há salvação e justificação (Rm 5: 1).

3 - Ele morreu entre transgressores.

João nos relata que o Senhor foi crucificado entre dois malfeitores, dois transgressores. Isso cumpre a profecia de Isaías 53: 12 que diz: “... e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”. O Senhor já tinha dito em Lucas 22: 37: “Porquanto vos digo que importa que em mim se cumpra aquilo que está escrito: E com os malfeitores foi contado. Porque o que está escrito de mim terá cumprimento”. Cristo, como servo sofredor, se humilha até a vergonha da cruz, e de estar entre transgressores, para que seu povo fosse resgatado. Inclusive salvou um daqueles transgressores como demonstração de sua obra salvífica unicamente pela graça (Lc 23: 40-43).

4 - Ele foi crucificado fora da cidade.

João também relata que o local da crucificação foi fora da cidade. Eis o cumprimento de mais um tipo do Antigo Testamento. Leiamos Exodo 29: 10 -14: “E farás chegar o novilho diante da tenda da congregação, e Arão e seus filhos porão as suas mãos sobre a cabeça do novilho; E imolarás o novilho perante o Senhor, à porta da tenda da congregação. Depois tomarás do sangue do novilho, e o porás com o teu dedo sobre as pontas do altar, e todo o sangue restante derramarás à base do altar. Também tomarás toda a gordura que cobre as entranhas, e o redenho de sobre o fígado, e ambos os rins, e a gordura que houver neles, e queimá-los-ás sobre o altar; Mas a carne do novilho, e a sua pele, e o seu esterco queimarás com fogo FORA DO ARRAIAL; É SACRIFÍCIO PELO PECADO”. Hebreus 13: 11-13 vê isso se cumprir na morte de Nosso Senhor fora da cidade. Veja: “Porque os corpos dos animais, cujo sangue é, pelo pecado, trazido pelo sumo sacerdote para o santuário, são queimados FORA DO ARRAIAL. E por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, padeceu FORA DA PORTA. Saiamos, pois, a ele fora do arraial, levando o seu vitupério”. Cristo carrega os pecados de seu povo, se sacrifica por ele fora da cidade, cumprindo aquele tipo do Antigo Testamento. Sofre desonra no lugar de seu povo.

Vimos que, conforme o relato de João, Cristo cumpre estes tipos e profecias do Antigo Testamento, que apontam que Ele se colocou no lugar de seus amados, assumindo seus pecados e maldição, para que pudessem ser justificados e salvos em seu sangue remidor. Por isso somente em Cristo há salvação.

II - O Rei na cruz (19-22).

João nos relata também que Pilatos pregou na cruz de Cristo o seguinte título: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS”. Talvez tenha agindo assim para provocar e desonrar aqueles judeus que o tinham manipulado a crucificar a Cristo, pois para eles seria uma vergonha ter seu Rei numa cruz. Realmente homens inclusive lhe solicitaram que mudasse o título para “ele disse: Sou o Rei dos Judeus”. Porém, não importa qual era a intenção de Pilatos ao proceder assim. O mais importante é que com este ato, mesmo sem saber, Pilatos estava cumprindo a vontade de Deus Pai, que por esse meio declarava a todo o mundo que Seu Filho era de fato o Único Rei. Notemos que o título foi escrito em hebraico, a língua dos judeus; em grego, a língua da cultura e comunicação da época; e em latim, a língua dos romanos. Isso apontava para a realidade de que Deus anunciava ao mundo: Eis o Verdadeiro Rei.

Mas uma questão se levanta imediatamente: Como é possível um Rei numa cruz, um Rei humilhado e morrendo? Como explicar esta aparente contradição. É que sua morte é a sua glória. Isso também cumpre Isaías 53: 11, 12. Veja: “Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo, o justo, JUSTIFICARÁ A MUITOS; porque as iniqüidades deles levará sobre si. POR ISSO LHE DAREI A PARTE DE MUITOS, E COM OS PODEROSOS REPARTIRÁ ELE O DESPOJO; porquanto derramou a sua alma na morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e intercedeu pelos transgressores”. É exatamente em sua morte que Cristo resgata o Seu povo, os seus súditos, e os atrai, tornando-se Rei deles, na medida em que ouvem a Verdade. Veja estes textos:

“E eu, QUANDO FOR LEVANTADO DA TERRA, TODOS ATRAIREI A MIM” João 12:32.

Em Sua morte Ele atrai a todos, todos os eleitos de todas as nações, povos e raças. “Depois destas coisas olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono, e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos” (Apocalipse 7: 9).

“Respondeu Jesus: O MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora o meu reino não é daqui. Disse-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: TU DIZES QUE EU SOU REI. EU PARA ISSO NASCI, E PARA ISSO VIM AO MUNDO, A FIM DE DAR TESTEMUNHO DA VERDADE. TODO AQUELE QUE É DA VERDADE OUVE A MINHA VOZ” João 18: 36, 37.

O Seu Reino é diferente. Não é deste mundo. É por isso que, mesmo estando na cruz, Ele é Rei. De fato é Rei porque está na cruz. É na cruz que Ele resgata seus súditos e os atrai. Seu Reino é espiritual e cresce quando os súditos ouvem a verdade e creem. O Reino não terá aparência exterior, mas estará nos crentes (Lc 17: 20,21).

“Jesus falou assim e, levantando seus olhos ao céu, e disse: Pai, é chegada a hora; GLORIFICA A TEU FILHO, PARA QUE TAMBÉM O TEU FILHO TE GLORIFIQUE A TI” João 17: 1.

A glória de Cristo e do Pai é a cruz. Lá está demonstrado o amor de Deus na salvação dos eleitos. Lá Cristo é declarado o Rei que vem resgatar seus súditos em amor, lutando e vencendo os inimigos espirituais.

No entanto, os líderes judeus, como vimos, se incomodam com o título e o rejeitam, solicitando a Pilatos que faça a correção: “Ele disse ser Rei”. Com isso diziam: “Não o consideramos nosso Rei ”. Ora, eles já haviam mesmo escolhido a César (Jo 19: 15). Lembram? Mas Pilatos ficou firme. Não cederia mais aqueles judeus que tanto odiava. Ele diz: “O que escrevi, escrevi”. Mas por trás de Pilatos estava o Senhor Deus Pai dizendo: “Eu, porém, ungi o meu Rei sobre o meu santo monte de Sião. Proclamarei o decreto: o Senhor me disse: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei. Pede-me, e eu te darei os gentios por herança, e os fins da terra por tua possessão” Salmo 2: 6-8. Este mesmo Pai misericordiosamente diz aos reis da terra e a todos os homens em nossos próprios dias: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam” Sl 2: 10-12. Que todos reconheçam que Cristo é Rei. Que todos creiam em Cristo e sejam salvos, tornando-se seus súditos, súditos de Seu Reino Eterno . Amém!

III - Conselhos:

1 - Cristo, o Deus-homem inocente, carregou sua cruz para a morte em amor, pois este era o único meio determinado pelo Pai para a salvação de seus discípulos. Ele tornou-se maldição por eles, assumindo seus pecados, morrendo por eles. Cristo esteve entre os transgressores. Como servo sofredor, se humilhou até a vergonha da cruz, e em estar entre transgressores, para que seu povo fosse resgatado. Inclusive salvou um deles, como demonstração de sua obra salvífica unicamente pela graça (Lc 23: 40-43). Ele foi crucificado fora da cidade em desonra, levando a vergonha de seus amados, purificando-os dos seus pecados em seu sangue remidor. No entanto, exatamente nesta tão grande obra de humilhação, maldição e morte, Cristo mostrou-se como o Rei do Reino dos céus, Rei de todos os eleitos dentre todos os povos e nações, aqueles que ouvem e crêem na verdade que veio testemunhar. Cristo é o Único Salvador e Rei da parte do Pai. Você já creu nEle como seu Único Salvador. Ele já é seu Rei? Você já se arrependeu dos seus pecados, olhando para Ele como sua única esperança, como aquele malfeitor na cruz. Não importa a gravidade e quantidade de seus pecados. Cristo salva pecadores como você. Morreu na Cruz para salvar pecadores. Seu sacrifício é suficiente para trazer perdão, vida e paz com Deus. Arrependa-se e creia nEle, somente nEle! Não seja como aqueles judeus que rejeitaram o Rei. “Ó reis, sede prudentes; deixai-vos instruir, juízes da terra. Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor. Beijai o Filho, para que se não ire, e pereçais no caminho, quando em breve se acender a sua ira; bem-aventurados todos aqueles que nele confiam” Sl 2: 10-12.

2 - Você já creu em Cristo. Já foi salvo nEle somente. Então seja grato. Procure agora conhecer mais e mais o significado de sua obra na cruz, pois lá Deus é glorificado sumamente em Seu maravilhoso amor, em sua maravilhosa graça. Estude esta obra. Pense e medite nela continuamente, conforme as Escrituras, iluminado por Seu Espírito. Nisso seu coração será cheio de gratidão por Cristo, levando-o a amá-lo mais e mais, revigorando sua obediência ao Deus que tanto nos amou em Seu Filho Jesus.

3 - Siga o exemplo de Seu Salvador, em seu amor e sacrifício por pecadores. Lave os pés do próximo como Ele lavou (Jo 13: 3-17). Ame conforme seu amor. Sirva como Ele serviu, em humildade, altruísmo e amor, fazendo a vontade do Pai. Não seja como Pilatos, arrogante, interesseiro, covarde, que deixa o inocente morrer. Não seja como os líderes judeus, também orgulhosos, hipócritas religiosos, cheios de ódio, inveja, assassinato, maldade. Se somos servos de Cristo, andemos como servos dEle, como Ele, servindo em amor, humildade e altruísmo. Esta é a maior evidência do verdadeiro cristianismo, ser discípulo de Cristo, seguir seu exemplo. Que você seja assim. Amém!

*Esboço do sermão do Culto Público de 18 de dezembro de 2022.

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