GUARDA-OS PARA QUE SEJAM UM – Manoel Coelho Jr. João 17: 11.


Este verso prossegue a segunda parte da Oração Sacerdotal, em que o Senhor ora pelos seus apóstolos. Mas, como já temos destacado, tudo o que se diz aqui também se aplica aos crentes em geral. No entanto, neste momento, se inaugura uma nova fase da oração. De fato, pela primeira vez Nosso Senhor faz uma solicitação pelos seus discípulos, pois até o momento tinha somente apresentado relatórios sobre sua obra por eles. Claro que também já tinha apresentado pedidos por si na primeira parte, o que também os beneficiava. Mas agora, iniciam-se os pedidos diretos pelos discípulos. Mais uma vez precisamos dizer que o propósito é consolador, pacificador, em relação aos seus amados. E quando lemos o conteúdo das solicitações, isto é, que sejam guardados, santificados, e glorificados, podemos constatar que de fato são consoladoras. Mas qual a solicitação específica neste verso onze? Solicita-se que sejam guardados. É interessante notarmos a estrutura com a qual Nosso Senhor a apresenta. Ele fala do que eles devem ser guardados, do motivo desta proteção, em que eles devem ser guardados, e para que. Vejamos esta estrutura mais de perto para nossa edificação:

I - Do que eles devem ser guardados? Do mundo.
Já temos visto que mundo, em geral, é apresentado no Evangelho de João como a humanidade caída e rebelada em Adão, humanidade que odeia a Deus. O mundo rejeita a Cristo porque rejeita a Deus (Jo 15: 18-25), e consequentemente, odiará os discípulos e os tentará para que abandonem a Verdade. Ora, se Cristo orou ao Pai para que os discípulos fossem guardados do mundo, é porque este representa um real perigo à caminhada cristã. E é assim, seja pela perseguição, seja pela sedução, procurando fazê-los capitular. Faremos bem em estarmos atentos a estas tentações, para nos acautelarmos e resistirmos à elas na graça de Cristo. Vejamos estes aspectos do perigo:
1 - Perseguição: Os discípulos de Cristo são estranhos ao mundo em sua fé e comportamento (I Pedro 4: 4). Por eles brilha a luz de Jesus, mostrando os pecados dos homens, e incomodando-os (João 3: 19). Por eles Deus se revela em Seu Filho. Isso faz com que os odeiem e persigam. Tal perseguição tem sua graduação, ou seja, pode ser fraca ou forte, velada ou explícita, tocando na vida social ou mesmo física, mas sempre existirá (João 16: 1,2). Ná é preciso dizer que isso significará uma forte tentação aos discípulos para que abandonem o cristianismo. Esse é o motivo da exortação em Hebreus, por exemplo, para que resistam e tenham paciência (Veja Hebreus 10: 32-39 e 12: 4). Por isso que Nosso Senhor orou por eles. O mundo os ameaçaria pela perseguição. Eles precisavam ser guardados do mundo.
2 - Sedução: A perseguição também vem acompanhada da sedução, pois o mundo oferece a oportunidade de pararem de sofrer, de serem “amados” por ele (João 15: 19), de possuírem sua “paz” (João 14: 27), de receberem suas glórias, honras e palmas (João 5: 41-44 e 7: 3, 4). Talvez a sedução seja até mais perigosa que a perseguição, pois não é tão descarada como esta, mas sutil, aparentando ser benéfica, e por vezes, até mesmo “cristã”. Trata-se de confiar no homem e buscar sua glória e benefício, em vez de se confiar em Cristo e sua graça, anelando unicamente pela glória de Deus. O que nos tenta a não dependermos de Cristo, mas sim da força do homem, não passa de mundanismo e carnalidade, mesmo que se denomine cristão, quando, então, é ainda mais sútil, podendo ocorrer em ambientes familiares, acadêmicos, profissionais, políticos ou eclesiásticos. No entanto, a Luz das Escrituras o desmascara, visto que todo o seu ensino centraliza-se em Cristo. Mas podemos afirmar, à luz destes fatos, que se trata de um perigo muito real. É por isso que Nosso Senhor ora para que seus amados sejam guardados do mundo.
II - Por qual motivo eles devem ser guardados pelo Pai? Cristo não estaria mais com eles fisicamente.
O Senhor afirma sua ausência do mundo para estar com o Pai, o que não ocorreria com os discípulos, que aqui ainda permaneceriam, num mundo que os odeia. Enquanto Cristo esteve com eles, os protegia das perseguições e seduções do mundo, de forma que nenhum se perdeu (João 17: 12). Mas agora partiria. Eles precisariam, desde então, da proteção do Pai nesta nova fase. Proteção esta, que pela sua característica de ocorrer após a consumação da obra de Jesus, não mais se manifestaria por meio do Cristo encarnado e humilhado, mas pelo outro auxiliador, enviado pelo Pai e pelo Cristo agora exaltado. O que seria muito consolador para os discípulos ao ouvirem estas palavras, como também para nós, os crentes de hoje, é saberem que em cada fase, o Pai, O Filho e o Espírito Santo estão cuidando dos que o Pai deu ao Filho. Desde a eternidade os eleitos estão no Decreto Divino como aqueles que são guardados de um mundo que os quer tentar a desistir, sendo finalmente apresentados como os que vencem tal mundo em Cristo, o Senhor deles (João 16: 33). Nenhum deles se perderá porque o Pai, o Filho e o Espírito Santo operam a sua salvação (João 17: 12). É bem verdade que há um grande perigo no mundo, e os discípulos devem estar conscientes disso, para que não se exponham e sejam prudentes. No entanto, esta prudência é corajosa e não amedrontada, pois também é verdade que Cristo orou ao Pai para que fossem guardados do mundo, e nunca estarão sem a benção do Senhor. É como uma criança na beira de um precipício segura pelas mãos de seu pai. Ela pode ver o perigo, mas sente-se protegida porque percebe as mãos fortes do pai segurando a sua pequenina mão. O cristãos devem estar conscientes dos perigos do mundo nas formas de perseguição e sedução, para que andem cautelosamente, mas também conscientes da proteção do Pai Celestial, conforme Cristo orou, para que tenham coragem na caminhada.
III - Em que eles devem ser guardados? No nome do Pai.
Já vimos que Cristo manifestou o nome do Pai aos seus amados (João 17: 6). Isso significa que, na qualidade de Verbo Divino, O revelou como Deus Verdadeiro, o que é a Vida Eterna (João 1: 1,14,18 e 17: 3). Este é o conhecimento mais importante, e que dá sentido a todos os outros conhecimentos, pois em saber-se quem é o Deus Verdadeiro, tem-se a genuína percepção da realidade. Por outro lado, o mundo é um mar de idolatria e engano, o que será uma constante tentação aos discípulos. Se não fosse a graça do Senhor, eles sucumbiriam neste mar. Mas, louvado seja Nosso Senhor, Cristo orou ao Pai que eles sejam guardados em Seu Nome, o que significa que serão de fato guardados de se afastarem da Verdade em Jesus. Todavia, eles devem atentar continuamente a esta verdade, e a exortação consequente: “Sabemos que somos de Deus, e que todo o mundo está no maligno. E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para que conheçamos ao Verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus e a vida eterna. FILHINHOS, GUARDAI-VOS DOS ÍDOLOS. AMÉM” I João 5: 19-21.
Outro fato importante em nosso texto, é que Cristo neste ponto chama a Deus Pai de: “Pai Santo”. Tal denominação mostra que Deus está separado da criatura. É o Senhor Criador com quem nada nem ninguém pode ser comparado. Mas também indica a absoluta pureza do Senhor. Ele é SANTO, totalmente separado do pecado. Este Pai Santo os guardará, portanto, como Aquele que o mundo não pode atingir em nenhum sentido. Este Pai santo os guardará em Verdade e Santidade.
Verdadeiramente os discípulos podem estar certos e consolados de que o Pai Santo os guardará da tentativa do mundo de os afastar de Seu Nome revelado em Cristo, para seguirem a mentira e a idolatria, Ele os guardará do pecado em Seu Nome.
IV - Para que eles devem ser guardados? Para a unidade.
Na medida em que eles são guardados pelo Pai em Seu Nome, eles também são guardados para estarem unidos em prol deste Nome. A preservação não é para que vivam individualmente em correspondência com a Verdade em Jesus, mas para que a vivam em unidade com seus irmãos, em unidade com a Igreja, que é a coluna e firmeza da Verdade (I Timóteo 3: 15). A unidade dos discípulos é citada várias vezes nesta oração (Veja: João 17: 11, 21, 22, 23). É uma unidade na Palavra, que é a Verdade, e em amor (João 15: 12-17 e 17: 17, 23). É uma unidade espiritual, e não meramente institucional, unidade na Videira que é Jesus (João 15: 1-10).
Outro aspecto importante nesta unidade, é que o Senhor Jesus afirma que é como a que existe entre Ele e o Pai. O Pai, o Filho e o Espírito Santo possuem unidade essencial e eterna como o Deus Triuno. Mas esta unidade também se manifesta na Obra da Redenção dos eleitos, em que cada Pessoa da Santíssima Trindade possui um papel nesta obra, trabalhando em perfeita harmonia com as demais pessoas. É aqui que podemos entender as palavras de Nosso Senhor neste verso. Na medida em que os discípulos são guardados pelo Pai em Seu Nome, isso será para unidade, ou seja, que como o Pai e o Filho estão unidos nesta obra, eles também estão sendo unidos na obra, unidos em prol da proclamação do Nome do Pai em Seu Filho Jesus Cristo em amor, para Sua Glória (João 17: 4 e 10).
Na medida em que olhamos para estes fatos, percebemos quão consoladores são para os discípulos. Eles estão guardados do mundo pelo Pai, e não para uma vida individualista, mas para viverem em união com os demais amados do Senhor, para proclamarem o Nome do Pai em amor,para O glorificarem. Amém!
V - Conselhos:
1 - Estejamos conscientes do real perigo que o mundo representa para a caminhada cristã. Fosse diferente, o Senhor não oraria dessa forma ao Pai. Nessa consciência devemos destacar que o perigo se manifestará na perseguição e na sedução. Pela luz das Escrituras devemos detectar as formas destas manifestações em nosso viver diário, observando que basicamente, seja pela perseguição ou sedução, sempre será algo que procura nos afastar da Verdade em Jesus, tentando-nos com ídolos. O caminho da prudência cristã é aquele que não nega esses perigos, mas os detecta pelas Escrituras, não expondo-se a eles, e resistindo-os quando se apresentarem, na graça de Cristo.
2 - Nos consolemos na oração de Cristo pelo cuidado do Pai para nossa proteção. A cautela do conselho anterior, não é uma cautela amedrontada, mas confiante no cuidado de Deus Pai, levando a buscar os recursos da graça para a vitória diária, que já possuímos em Cristo (João 16;33).
3 - Firmemo-nos na revelação do Nome do Pai concedido a nós por Seu Filho, resistindo a toda idolatria. “Filhinhos, guardai-vos dos ídolos” (I João 5:21). Isso deve ser feito, não pelos recursos humanos, mas confiando na obra de Cristo, conforme seu pedido em João 17: 11. Confiantes na proteção do Pai, conforme a solicitação de Seu Filho, estejamos firmes na revelação de Seu Nome.
4 - Estejamos unidos em Verdade e amor, na proclamação do Nome do Pai, para Sua Glória. Também isso não deve ser feito por meio dos recursos humanos, mas na confiança de que já se trata de uma realidade espiritual, conforme a oração de Nosso Senhor.
5 - Diante dos perigos que o mundo oferece para os discípulos de Cristo, seguindo o exemplo de Nosso Senhor, oremos pela proteção de todos os nossos irmãos pelo Pai em Seu Nome, para unidade, descansando na própria intercessão do Amado Salvador Jesus. Amém!
*Esboço do sermão do dia do Senhor, 24 de abril de 2022.
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