ESTUDO XXVII - PÕE FIM AOS TEUS PECADOS - Dn 4: 27 - Manoel Coelho Jr




Portanto, ó rei, aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados, praticando a justiça, e às tuas iniqüidades, usando de misericórdia com os pobres, pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade” Dn 4: 27.


Chegamos à exortação do profeta ao rei, após ter interpretado o sonho. A exortação é ao arrependimento e à esperança na misericórdia de Deus. Lembremos que o sonho e toda a experiência, na verdade, visavam produzir humilhação e arrependimento no rei. E sempre é assim. A Palavra é sempre uma exortação ao arrependimento e à fé na misericórdia de Deus em Cristo, e neste caso, como verdadeiramente em cada caso,  constitui-se no abandono do orgulho e dos pecados contra o próximo. Assim também é para nós. O texto está a nos dizer: “Põe fim aos teus pecados”, pecados de orgulho e mal ao próximo, e olhe para Cristo em esperança. Vamos entender melhor nos seguintes pontos: 


1 - Aceita o meu conselho: 


Este pequeno e precioso verso se constitui num conselho da Palavra de Deus, um conselho do profeta Daniel a Nabucodonosor. Devemos observar a atitude do profeta ao dar o conselho, e a exortação que faz ao rei sobre a maneira como deveria recebê-lo. Aqui temos, portanto, respostas a duas questões: Primeiro: Como devemos aconselhar os pecadores? Segundo, Como devemos ouvir conselhos baseados na Palavra de Deus, que confrontam nossos pecados?   


A - Como devemos aconselhar os pecadores? O profeta mostra amor pelo pecador Nabucodonosor. Todo o conselho ao pecador, chamando-o ao arrependimento, deve ser feito em atitude de misericórdia, apontando para a graça de Deus em Cristo. Notemos que Daniel chama o rei para considerar seu conselho como aceitável. Aqui ele demonstra sincero desejo pelo bem do rei. Outro ponto importante é que no final do verso Daniel diz: “pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade”. Ou seja, Daniel chama Nabucodonosor a esperar na misericórdia e graça de Deus. Um conselho que não mostra Deus como Aquele que é cheio de graça, bondade e misericórdia, não é um conselho real ao pecador, pois o deixa sem esperança, sem solução, enfim.


No entanto, o conselho de Daniel não é somente amoroso, mas também corajoso. Não era fácil dizer ao rei que Ele deveria deixar seus pecados de injustiça e opressão aos pobres. Não era fácil apontar a arrogância do rei, e confrontá-lo com a realidade de que o Senhor Deus é quem reina de fato. Mas Daniel fez isso por amor a Deus e ao próprio rei.


Assim, todo o que aconselha um pecador ao arrependimento, deve fazê-lo em atitude de misericórdia e coragem, apontando para a misericórdia em Cristo. Trata-se de uma misericórdia corajosa, ou coragem misericordiosa. 

B - Chama para ouvir o conselho como aceitável. O pecador precisa atentar para tal conselho como aceitável. “Aceita meu conselho e põe fim aos teus pecados” Dn 4: 27. Aqui temos a exortação de Daniel a que Nabucodonosor considere este conselho como digno de valor, como algo aceitável, útil. O rei pecara gravemente contra Deus e seria alvo de seu justo juízo. Afrontar a Deus, não se humilhar diante de Deus, é a essência da loucura do pecado. Por isso, o conselho que faz ver essa realidade, que chama ao arrependimento e humilhação, e à esperança na graça de Deus, é aceitável, absolutamente aceitável. Dessa forma, o pecador deve ouvir toda a exortação baseada na Palavra de Deus, que confronta a sua loucura pecaminosa.  


2 - Põe fim aos pecados e iniquidade. Arrependimento.


Mas quais são os pecados dos quais Nabucodonosor precisa se arrepender? Trata-se da injustiça com o próximo, e da maldade contra os pobres. É interessante que neste momento Daniel não cita a soberba de Nabucodonosor, pecado denunciado tão claramente em todo este capítulo. Mas na verdade a soberba não está ausente, pois é a base de todos estes pecados contra o próximo. Mas entendamos melhor todo este assunto nos seguintes aspectos: 


A - Notemos a ligação do orgulho contra Deus com os pecados contra o próximo. Cristo resumiu a Lei de Deus em amar a Deus e ao próximo (Mc 12: 29-31). Estas coisas estão ligadas. Quando não amamos a Deus, não amamos o próximo. Todas as vezes que o homem se orgulha contra Deus, achando que é “deus”, acaba por ser injusto e maldoso contra o seu semelhante. Isso acontece porque faz de si mesmo o centro, tornando-se egoísta, em vez de fazer de Deus o centro, tornando-se altruísta e  servo, em adoração ao Senhor.


B - Arrependimento implica em abandono do pecado. Daniel chama Nabucodonosor a romper com seus pecados, a abandonar o pecado. Deve deixar a injustiça e a maldade. Esse é o lado negativo. No entanto, há o lado positivo. Ao deixar a injustiça, deve seguir a justiça, e ao abandonar a maldade, deve usar de misericórdia. O arrependimento é o reconhecimento do pecado como mal dos males, e consequentemente como  algo que deve ser deixado e não acalentado. Mas é também o apreciar da retidão da Vontade de Deus, acolhendo-a como plenamente aceitável.


C - Romper com pecado e praticar a justiça, a retidão com relação ao próximo. O rei era injusto. Devemos lembrar aqui de todas as injustiças que já observamos em Nabucodonosor em relação aos seus súditos ou dominados. Ele não teve piedade de Jerusalém (1: 1). Ele mandou matar os sábios porque não conseguiam dizer seu sonho com a interpretação (2: 5-12). Também fez uma estátua de ouro e ameaçou de morte os que não a adorassem, e por isso jogou na fornalha, sete vezes aquecida, os jovens piedosos, o que inclusive matou os que os jogaram (3: 1-23). Tudo isso mostra a sua injustiça. Ele deveria se arrepender e agir com retidão com seus próximos e súditos.  Nabucodonosor deveria ver este conselho como aceitável. 


D - Romper com a iniquidade (perversidade), e praticar a misericórdia (favor) com os pobres. Nabucodonosor, como muitos poderosos e ricos de hoje, era maldoso com os pobres. Ele oprimiu Jerusalém, por exemplo, e pisava nos que não podiam lhe resistir. É interessante, neste ponto, pararmos um pouco para meditarmos no que as Escrituras falam dos pobres. Quero chamar atenção para alguns versos e suas verdades. Venha comigo: 


*A pobreza pode vir da preguiça: 

A preguiça faz cair em profundo sono, e a alma indolente padecerá fome” Pv 19: 15.

*Mas a pobreza extrema também vem da opressão dos poderosos e ricos, podendo provocar a morte: 

Não oprimirás o diarista pobre e necessitado de teus irmãos, ou de teus estrangeiros, que está na tua terra e nas tuas portas. No seu dia lhe pagarás a sua diária, e o sol não se porá sobre isso; porquanto pobre é, e sua vida depende disso; para que não clame contra ti ao Senhor, e haja em ti pecado” Dt 24: 14, 15.

*O Evangelho opera temor a Deus, culto, e o abandono da opressão contra o pobre, em prol da generosidade, de forma que na igreja primitiva não havia necessitados: 

De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e naquele dia agregaram-se quase três mil almas, E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações. E em toda a alma havia temor, e muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos. E todos os que criam estavam juntos, e tinham tudo em comum. E vendiam suas propriedades e bens, e repartiam com todos, segundo cada um havia de mister. E, perseverando unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam juntos com alegria e singeleza de coração, Louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” At 2: 41-47.

E os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus, e em todos eles havia abundante graça. Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um, segundo a necessidade que cada um tinha. Então José, cognominado pelos apóstolos Barnabé(que, traduzido, é Filho da consolação), levita, natural de Chipre, Possuindo uma herdade, vendeu-a, e trouxe o preço, e o depositou aos pés dos apóstolos” At 4: 33-37.

*Mas Tiago também denuncia a opressão dos poderosos de fora da Igreja (Leia Tg 5: 1-6):

Eles devem chorar, pois virá seu julgamento:

“Eia, pois, agora vós, ricos, chorai e pranteai, por vossas misérias, que sobre vós hão de vir” Tg 5: 1.

Suas riquezas estão apodrecendo, pois eles escolheram apenas o que é dos últimos dias, ou seja, deste tempo antes da vinda de Cristo, e desprezando a riqueza eterna (Mt 6: 19-21): 

As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas de traça. O vosso ouro e a vossa prata se enferrujaram; e a sua ferrugem dará testemunho contra vós, e comerá como fogo a vossa carne. Entesourastes para os últimos dias” Tg 6: 2, 3.

Eles fraudaram o salário de seu trabalhadores, desprezando o que diz Deuteronômio 24: 14, 15, e esta injustiça é conhecida por Deus: 

Eis que o jornal dos trabalhadores que ceifaram as vossas terras, e que por vós foi diminuído, clama; e os clamores dos que ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos exércitos” Tg 5: 4.

Eles se engordam como animais para o abate, se deliciam na riqueza, buscando juízo contra si mesmos, enquanto condenam e matam o pobre que não cometeu injustiça contra eles, e que não pode lhes oferecer resistência. Tiago já tinha dito que os ricos levam os pobres cristãos aos tribunais: 

Deliciosamente vivestes sobre a terra, e vos deleitastes; cevastes os vossos corações, como num dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu” Tg 5: 5, 6.

Ouvi, meus amados irmãos: Porventura não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé, e herdeiros do reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre. Porventura não vos oprimem os ricos, e não vos arrastam aos tribunais?” Tg 2: 5, 6.


Pecados semelhantes a estes, Nabucodonosor havia cometido contra os pobres de seu império. O Senhor o chama ao arrependimento. Ainda que Nabucodonosor não tenha se convertido, devemos destacar que o Evangelho transforma os corações para que deixem a opressão e promovam a generosidade ao pobres, pois foram objeto da misericórdia dAquele que se fez pobre para lhes enriquecer espiritualmente (Leia II Co 8: 1-9).


3 - Para prolongar a tranquilidade. Esperança em Deus.


Finalmente diz Daniel: “pois, talvez se prolongue a tua tranqüilidade”. O profeta chama o rei ao arrependimento, e a esperança em Deus. Daniel estava chamando o rei a esperar a misericórdia de Deus. Como já disse, um conselho ao arrependimento que não mostra Deus como Aquele que é cheio de graça, bondade e misericórdia, não é um conselho real ao pecador, pois o deixa sem esperança, sem solução, enfim. Por isso Daniel diz que “talvez se prolongue a tua tranqüilidade”. É possível que o profeta esteja dizendo que Deus adiaria ou atenuaria o castigo, ou mesmo o suspenderia. No caso de Acabe, Deus afirmou que o castigo viria depois (I Reis 21: 29). No caso de Nínive, Deus não trouxe o castigo outrora anunciado (Jn 3). De qualquer forma, se destaca aqui a misericórdia e compaixão de Deus. “Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, e com choro, e com pranto. E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, em oferta de alimentos e libação para o Senhor vosso Deus?” Joel 2: 12-14.


4 - Conselhos:


1 - Que exortemos os nossos próximos, conforme a Palavra de Deus, ao arrependimento e à fé em Cristo, com amor e coragem. Todo o que aconselha um pecador ao arrependimento, deve fazê-lo em atitude de misericórdia e coragem, apontando para a misericórdia em Cristo. Trata-se de uma misericórdia corajosa, ou coragem misericordiosa. Os chamemos para um conselho aceitável. 


2 - Que ouçamos a Palavra. Que ouçamos os que nos aconselham ao arrependimento. Que nos arrependamos de nossos pecados e corramos para Cristo, seja isso no caso de sermos crentes ou não. Os que se arrependem acham misericórdia. Mas os que não se arrependem acham juízo. No caso de não crentes, se não se arrependerem e crerem em Cristo, serão condenados no juízo final. Oh, pecador não convertido, se arrependa e creia em Cristo. Nele há toda a graça de Deus. Mas aqui há também um alerta para os crentes. Estes devem também esperar repreensões de Seu Pai Celestial, se forem teimosos em seus pecados. Arrependa-se! Confesse! Busque em Cristo purificação e perdão! Tomemos este conselho como aceitável. “Aceita o meu conselho, e põe fim aos teus pecados”.  


3 - Sendo mais específico, conforme os pecados destacados no texto: Arrependa-se do pecado do orgulho contra Deus, e da injustiça contra o próximo, como também da perversidade contra os pobres. Você tem se ensoberbecido, não dando glória a Deus por seus talentos e realizações. Arrependa-se e busque purificação em Cristo! Tem sido injusto com seu próximo? Arrependa-se e busque purificação em Cristo! Tem prejudicado de alguma forma pessoas mais pobres, ou apoiado tal maldade? Arrependa-se e busque purificação em Cristo! Lembre, ainda, que o arrependimento verdadeiro é romper com o pecado, seguindo o que é justo, na graça de Cristo. 


4 -  Por último quero lhe aconselhar a lutar pela justiça aos próximo e misericórdia pelos pobres em nossa nação e sociedade. Devemos fazer isso com amor, e de acordo com nossas posições. Os cristãos não devem apoiar nenhuma opressão, nem em seu país, nem no estrangeiro, seja em palavras ou ações. Mas como recebemos a riqueza espiritual, dAquele que se fez pobre por nós na Cruz, assim em seu amor, devemos favorecer os que possuem menos que nós. O Evangelho opera temor a Deus, culto, e o abandono da opressão contra os pobres, em prol da generosidade, de forma a glorificar ao Senhor que tanto nos amou. Amém!! 


  *Esboço da exposição ministrada na Igreja Batista Reformada do Tapanã, em 17 de março de 2024. Venha ouvir estas exposições aos domingos, às 19h. Endereço: Conjunto Tapajós,  Rua Búzios,  Número 35, Bairro do Tapanã em Belém do Pará.

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