Manifestações e a Bíblia (Vídeo e Texto) - Manoel Coelho Jr.
Muitos têm perguntado se é
correto o cristão participar de manifestações publicas que fazem reivindicações
diante das autoridades. Para responder a esta pergunta devemos, como em todas
as questões, recorrer as Escrituras Sagradas. Creio que os pontos a seguir nos
ajudam a ver as coisas da perspectiva bíblica:
1 – A origem dos problemas sociais está no pecado.
Antes do pecado Adão disse de sua
mulher:
“E disse o homem: Esta, afinal, é
osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do
varão foi tomada” Gn 2:23.
Notamos aqui amor, unidade, e companheirismo.
Mas logo depois do pecado o mesmo
homem afirmou:
“Então, disse o homem: A mulher
que me deste por esposa, ela me deu da árvore, e eu comi” Gn 3: 12.
Notamos agora irresponsabilidade,
pois não assumiu a própria culpa, além de acusação a sua mulher. Notamos, ainda,
que a raiz dessa mudança está na inimizade a Deus, visto que ao acusar a sua
mulher indiretamente acusa o próprio Deus que a havia dado. Lembremos que o
Senhor Jesus mostrou que o resumo da Lei é amar a Deus e ao próximo (Mc
12:30,31). Ao pecar o homem mostra que não ama a Deus e consequentemente não
ama ao próximo, pois o segundo mandamento está ligado e depende do primeiro.
Conclusão: Uma sociedade pecadora
é inevitavelmente cheia de problemas sociais.
2 – O povo remido é o sal e a luz da sociedade.
Jesus diz:
“Vós sois o sal da terra; ora, se
o sal vier a ser insípido, como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta
senão para, lançado fora, ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo. Não
se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia
para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se
encontram na casa. Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que
vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus.”
Mt 5: 13-16.
Há dois efeitos no sal:
A – Refreia o apodrecimento.
B – Modifica o sabor.
Dessa forma os discípulos de
Cristo são aqueles que estão para o mundo como o sal está para a carne. Eles
refreiam a corrupção pecaminosa e influenciam a sociedade para ser mais justa.
Há pelo menos dois efeitos na luz.
A – Expulsa as trevas.
B – Revela a realidade.
Dessa forma, os discípulos de
Cristo estão para o mundo como a luz está para o ambiente. Eles expulsam o
pecado e distribuem conhecimento espiritual.
Apenas a Igreja produz estes
efeitos e ela faz isso por ser coluna e baluarte da Verdade no Evangelho de
Cristo (I Tm 3:14-16). Assim, a função primordial
da Igreja é pregar e viver o Evangelho e dessa forma ele produz tremenda influência
na sociedade. O exemplo clássico deste fato está em Atos capítulo dois. Leia
este capítulo, por favor.
3 – Em nenhum momento vemos a Igreja Primitiva reunir-se para protestar,
mas algumas vezes vemos as multidões de ímpios protestarem contra Cristo e a Igreja.
Observe os seguintes textos:
“Ora, por ocasião da festa, era
costume soltar ao povo um dos presos, qualquer que eles pedissem. Havia um,
chamado Barrabás, preso com amotinadores, os quais em um tumulto haviam
cometido homicídio. Vindo a multidão, começou a pedir que lhes fizesse como de
costume. E Pilatos lhes respondeu, dizendo: Quereis que eu vos solte o rei dos
judeus? Pois ele bem percebia que por inveja os principais sacerdotes lho
haviam entregado. Mas estes incitaram a multidão no sentido de que lhes
soltasse, de preferência, Barrabás. Mas Pilatos lhes perguntou: Que farei,
então, deste a quem chamais o rei dos judeus? Eles, porém, clamavam:
Crucifica-o! Mas Pilatos lhes disse: Que mal fez ele? E eles gritavam cada vez
mais: Crucifica-o! Então, Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes
Barrabás; e, após mandar açoitar a Jesus, entregou-o para ser crucificado.”
Mc 15:6-15.
“Sobrevieram, porém, judeus de
Antioquia e Icônio e, instigando as multidões e apedrejando a Paulo,
arrastaram-no para fora da cidade, dando-o por morto” At 14:19.
“Aconteceu que, indo nós para o
lugar de oração, nos saiu ao encontro uma jovem possessa de espírito
adivinhador, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Seguindo
a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens são servos do Deus Altíssimo e
vos anunciam o caminho da salvação. Isto se repetia por muitos dias. Então,
Paulo, já indignado, voltando-se, disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo,
eu te mando: retira-te dela. E ele, na mesma hora, saiu. Vendo os seus
senhores que se lhes desfizera a esperança do lucro, agarrando em Paulo e Silas,
os arrastaram para a praça, à presença das autoridades; e, levando-os aos
pretores, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbam a nossa cidade, propagando
costumes que não podemos receber, nem praticar, porque somos romanos. Levantou-se
a multidão, unida contra eles, e os pretores, rasgando-lhes as vestes, mandaram
açoitá-los com varas.” At 16: 16-22.
Observe que estes protestos são
sempre contra a Verdade, e também sempre incitados por uma minoria que manipula
a multidão para o “bem” de seus interesses egoístas. Todavia nunca a Igreja se
reuniu em multidão para protestar ante as autoridades quando era perseguida. Muito
ao contrário, a igreja orava e prosseguia na pregação do Evangelho. Veja:
“Por volta da meia-noite, Paulo
e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de
prisão escutavam” At 16:25.
“Uma vez soltos, procuraram os
irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes
e os anciãos. Ouvindo isto, unânimes, levantaram a voz a Deus e disseram:
Tu, Soberano Senhor, que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que
disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu
servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? Levantaram-se
os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra
o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu
santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e
gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito
predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus
servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes
a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo
Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos
ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de
Deus.” At 4: 23-31.
Portanto temos até aqui:
A – As multidões de ímpios
protestavam diante das autoridades contra a Verdade do Evangelho, incitadas por
uma minoria que lutava por seus interesses egoístas.
B – Nunca a Igreja reunia multidões
para protestar quando passava por perseguições, mas sempre orava, pregando e vivendo
o Evangelho.
4 – Certa vez Paulo reivindicou um direito diante de uma autoridade.
“Quando amanheceu, os pretores
enviaram oficiais de justiça, com a seguinte ordem: Põe aqueles homens em
liberdade. Então, o carcereiro comunicou a Paulo estas palavras: Os pretores
ordenaram que fôsseis postos em liberdade. Agora, pois, saí e ide em paz. Paulo,
porém, lhes replicou: Sem ter havido processo formal contra nós, nos açoitaram publicamente
e nos recolheram ao cárcere, sendo nós cidadãos romanos; querem agora, às
ocultas, lançar-nos fora? Não será assim; pelo contrário, venham eles e,
pessoalmente, nos ponham em liberdade. Os oficiais de justiça comunicaram
isso aos pretores; e estes ficaram possuídos de temor, quando souberam que se
tratava de cidadãos romanos. Então, foram ter com eles e lhes pediram
desculpas; e, relaxando-lhes a prisão, rogaram que se retirassem da cidade.”
At 16:35-39.
Veja que Paulo reivindicou um
direito por parte da autoridade que havia falhado. Note, porém, que o interesse
de Paulo, como observa Marshall em seu comentário sobre Atos, era com a missão
que poderia ser prejudicada no futuro se a Lei Romana não fosse cumprida.
Todavia temos de fato aqui uma reinvindicação ante a uma autoridade.
5 – Conclusão.
Parece-me que diante dos fatos
bíblicos que estudamos e a realidade das igrejas na atualidade, podemos dizer o
seguinte sobre a participação de cristãos em manifestações.
A – Participação em manifestação
publica não é o ato primordial dos cristãos, mas orar, pregar e viver o
Evangelho tornando-se assim sal e luz da sociedade, pois a Igreja primitiva
nunca realizou atos assim, porém sempre orava, pregava, e vivia o Evangelho. A
Igreja é coluna e baluarte da Verdade.
B – Visto que as igrejas de hoje
vergonhosamente não têm sido sal e luz, pois não tem pregado nem vivido o
Evangelho como devem, penso que antes de ir para as ruas devemos fazer uma análise
de nossa própria situação, com posterior clamor a Deus por graça e avivamento
do Espírito.
C – Não é pecado reivindicar,
pois Paulo reivindicou, mas deve-se antes disso pensar seriamente no ponto B. Pergunto:
Será que é hora de reivindicarmos, ou antes, de nos humilharmos diante de Deus
pelos pecados que vemos em nós mesmos e nas igrejas em geral? Temos sido sal e
luz?
D – Devemos ter plena consciência
que a verdadeira influência sobre a sociedade não será por reivindicarmos junto
a multidões por direitos, mas por pregarmos e vivermos o Evangelho.
E – Devemos lembrar que multidões
geralmente são usadas por uma minoria interesseira que é totalmente contraria ao
Evangelho, e que luta contra ele no final das contas. Pergunto, então: Podemos
dizer com certeza que não estamos sendo usados por inimigos do Evangelho ao nos
unirmos as multidões que reivindicam? Já avaliamos isso seriamente?
À luz dos pontos anteriores
afirmo:
A – Creio firmemente que, diante
da decadência nas igrejas de hoje, não estamos aptos a reivindicar nada nos
unindo as multidões.
B – Creio que não está claro, pelo
menos para a maioria de nós, se estas multidões estão ou não sendo manipuladas
por grupos contrários ao Evangelho de Cristo. Se este é o caso, acredito não
ser correto nos unirmos a tais multidões, antes de buscarmos clareza sobre o
que realmente está acontecendo “por trás dos bastidores”. Não ter prudência aqui é expor-se a lutar
contra nossa maior causa, isto é, a causa do Evangelho. Você quer correr esse
risco?
C – Creio que antes devemos nos
humilhar diante de Deus pedindo a graça da genuína conversão e santificação, e intrepidez
para pregar a Palavra (At 4: 29). Apenas depois devemos pensar em ir para as
ruas.
D – Creio que ir para as ruas reivindicar
não é prática obrigatória para todo o cristão, pois a igreja primitiva nunca fez
isso, mas sim multidões ímpias manipuladas por inimigos do Evangelho, mostrando
que tal ato no máximo é apenas paliativo e pode ser grandemente prejudicial
para a pregação do Evangelho. Lembre: Orar, anunciar e viver o Evangelho, estes
sim são atos obrigatórios para todo o cristão e não são atos paliativos, mas
que mostram a verdadeira solução para os problemas sociais, ou seja, a Redenção
em Cristo.
E – Amarrando as afirmações
anteriores, creio que não é hora de irmos para as ruas, mas de nos humilharmos
diante de Deus. Pessoalmente, pelo menos nesse momento, não irei e não aconselharei
ninguém a ir, ainda que não seja errado em si mesmo o ato de ir. Assim afirmo:
Ir para as ruas não é errado, mas com
certeza não é o caminho mais urgente nem o mais prudente, ao menos agora.
Que Deus nos dê graça para
entendermos cada vez melhor esta situação, orientados por sua Palavra e iluminados
por seu Espírito, para sua Glória. Amém!
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