SEPARAÇÃO, ENVIO, E UNIDADE CONTRA OS EXTREMISMOS – Manoel Coelho Jr. João 17: 14-23.


Antes de avançarmos na exposição deste precioso capítulo, precisamos olhar para trás para relembrarmos algumas verdades que temos aprendido na Oração de Nosso Senhor, especialmente no trecho dos versos 14 ao 23, olhando-as agora tendo em vista o tema que perpassa o trecho e une estas verdades. Falo da questão sobre o relacionamento dos cristão com o mundo, como dos cristão com outros cristãos. Este é um tema delicado que tem sido alvo de muitas opiniões, algumas bastante extremistas, gerando problemas sérios para cristãos e igrejas. Na graça de Cristo, desejo mostrar-lhes, neste estudo e no seguinte, que tais complicações advém da falta de cuidado de cristãos em atentar para a natureza destas verdades, como sobre a relação que elas têm umas com as outras. Refiro-me às verdades que mostram que como cristãos somos separados do mundo (João 17: 14), enviados ao mundo (João 17: 18), e unidos uns aos outros em Cristo (João 17: 21-23). Tais verdades sendo bem compreendidas e relacionadas, produzem equilíbrio e serenidade nas relações dos cristãos com o mundo e com outros cristãos. Mas se ao contrário não forem bem compreendidas e relacionadas, o resultado será perigosa radicalização e extremismos, que minarão o papel dos cristão na sociedade, descaracterizando, finalmente, o próprio cristianismo. Portanto, podemos notar que este assunto é seríssimo e muito pertinente, pois estes problemas são demasiadamente danosos, e têm ocorrido ao longo da história da Igreja, como também têm se verificado em nossos próprios dias. Vamos, então, olhar para o assunto nos pontos seguintes, pedindo a graça do Senhor.
I - Os extremismos nos relacionamentos dos cristãos.
Extremismos são sempre perigosos. Tratam-se de desequilíbrios, exageros, pensamentos e ações sem a devida reflexão sobre as relações das diversas verdades, tendendo só para um lado, sem levar em conta outros aspectos das questões envolvidas, radicalizando. Extremismo é fruto do pecado, que escolhe um ponto da realidade e o absolutiza, tornando-o em um ídolo, fazendo com que tudo seja enxergado com esta lente idolátrica que não consegue ver o todo, mas somente o ponto em destaque, o “absoluto”. O resultado são crenças, observações e análises "capengas'' da realidade, que geram ações igualmente “capengas”. Todavia, a Palavra de Deus leva ao equilíbrio, pois mostra a Deus como Único Deus revelado em Cristo, Aquele que dá sentido a todas as coisas, que foram criadas para sua glória, fazendo com que cada ponto da realidade seja visto no seu devido valor e natureza, visto em relação a Deus e Sua Vontade, sem que seja absolutizado e exagerado. Então, cada parte assume seu papel, harmonizando-se com o todo, gerando, finalmente, benefícios. O resultado é equilíbrio e serenidade nas crenças e práticas. Consequentemente um cristão genuíno deve ser equilibrado, moderado, sereno, não extremista.
Em nosso caso desejo destacar dois grupos de extremismos. Primeiro, extremismos que dizem respeito à relação entre a cristãos e o mundo em geral. Segundo, extremismos que dizem respeito à relação de cristãos com outros cristãos.
1 - Quanto ao primeiro grupo, no que diz respeito à relação entre a cristãos e o mundo em geral, temos dois extremos:
A - Mistura indiscriminada com o mundo.
Lembro que trato de “mundo” no sentido do Evangelho de João, ou seja, no sentido da humanidade caída em Adão, que odeia a Deus, à Cristo, e aos seus discípulos, preferindo seus ídolos (João 5: 41-44; 8: 42-47; 15: 18-25). O extremo que agora trato é o daquela atitude de desconsiderar qualquer diferença entre cristãos e o mundo, misturando-se a ele, agindo como se não houvesse qualquer tentação ou perigo no mundo para os cristãos. Neste caso há pouca, ou até mesmo nenhuma restrição, separação, limites, ou cuidados e critérios, incentivando-se a estar no mundo de forma despreocupada, procurando crer e agir de maneira semelhante às pessoas que não professam o cristianismo. Normalmente este pensamento vem acompanhado da ideia de que é necessário parecer com o mundo para atraí-lo, e finalmente conquistá-lo para a fé cristã. Isso pode ser aplicado na teologia, nas crenças, na ética, na estética, na arte, e no culto, ditos cristãos, enfim, a todo o modo de viver, fazendo com que a cultura do mundo seja assumida indiscriminadamente, de maneira que não se perceba de fato alguma diferença entre cristãos e não cristãos, excetuando-se as meras e frágeis expressões religiosas e confissões, quando a pessoa participa de algum ritual dito cristão, e se afirma cristã, mas sua vida, pensamento, e obras, praticamente não diferem dos demais de sua cultura ou país.
B - Separação radical do mundo.
O extremo oposto, nesta mesma categoria do relacionamento dos cristãos com o mundo, é a separação radical dos mundanos, ou o isolacionismo dos cristaos em relação às pessoas não cristãs. A ideia aqui vem, diferentemente do extremo anterior, da crença que o mundo é muitíssimo perigoso, maligno, não contendo nada de Deus, enfim. Neste caso não se vê em parte alguma aquilo que podemos chamar de “graça comum de Deus", que se manifesta naqueles que são incrédulos. Não, isso é totalmente desconsiderado. Tudo é visto como absolutamente mau. Na cultura geral, na intelectualidade, na ciência, na filosofia, na arte, na política, nos costumes, enfim, em nada se vê a graça comum de Deus. Tudo, excetuando-se o que venha diretamente dos cristãos, é visto como do diabo, portanto muito perigoso e tentador. O resultado é que estas pessoas, no desejo de guardarem a si mesmas e aos seus amados, levantam “muros”, físicos ou intelectuais, separando-se de todo aquele que não professa o cristianismo. Assim, vizinhos deixam de se relacionar, crianças são separadas, empregos são abandonados, e tudo o que vem da cultura de uma nação, conforme já citei, ou seja, a intelectualidade, a ciência, a filosofia, a arte, a política, os costumes, são, ou desconsiderados, ou outras vezes vistos mesmo como coisas do diabo.
2 - Quanto ao segundo grupo, no que diz respeito à relação entre cristãos e outros cristãos, também temos dois extremos:
A - Unidade indiscriminada entre cristãos professos:
Este extremo é daqueles que entendem que devemos desconsiderar radicalmente aquilo que separa os cristãos. Todas as diferenças são vistas como irrelevantes, e até mesmo como danosas, pelo simples fato de estarem resultando em alguma separação entre cristãos professos. Algumas vezes, mesmo doutrinas essenciais da fé cristã, como expiação e justificação, por exemplo, começam a ser vistas como prejudiciais neste sentido. Também as posições quanto à vida cristã prática, e à natureza da santificação, começam a ficar frouxas, e tudo é relativizado. Quanto a isso podemos exemplificar assim: Pode ocorrer que a pregação sobre a Lei de Deus é logo vista como legalismo, e a graça é rebaixada a mera aceitação de pecadores, mesmo sem a demonstração de arrependimento e nova vida. Enfim, dei alguns exemplos para mostrar que o propósito deste extremismo é produzir unidade tirando aquilo que pode nos separar, seja em doutrina, seja na prática. Desde que uma pessoa se professe cristã, então deve ser tida como cristã e seguidora de Cristo, e as barreiras devem ser derrubadas. Creio que podemos afirmar que o alvo dos que adotam este extremo é normalmente fazer com que o cristianismo se torne forte e relevante no mundo, simplesmente pela quantidade e de pessoas unidas.
B - Separação por motivos injustificáveis:
Outro extremo que quero apresentar, é daqueles cristãos professos que se separam de outros por motivos muito pequenos ou injustificáveis, pois não podem aceitar que as coisas não andem exatamente conforme a sua crença e vontade. Neste caso não é necessário que doutrinas essenciais sejam abandonadas, ou a santificação seja desconsiderada, levando a graves pecados ou corrupção eclesiástica, mas qualquer coisa insignificante pode fazer com que se afastem de outros cristãos. Já ouvi sobre cristãos que abandonaram determinada Igreja, por exemplo, pelos motivos mais tolos possíveis, como a cor do tapete ou da pintura do prédio. Isso mesmo. É um exemplo extremo do extremo, mas exemplifica a absurdidade, e que aqui nada mais há do que arrogância tola, em que se algo não agrada no mínimo, então afasto-me. Evidentemente cristãos professos têm se separado por motivos menos absurdos, mas que também não podem ser justificados. Neste ponto me pergunto se há necessidade de tantas denominações entre nós. Outro dia, por exemplo, ao andar por uma rua, deparei-me com uma igreja bem do lado de outra, sendo que bem pertinho já tinha visto uma outra igreja. Pergunto: Será isso necessário? Será necessário divisões surgirem de divisões, que por sua vez já vêm de divisões anteriores? Evidentemente há muitos pecados de divisões desnecessárias ao longo de gerações. Eis mais um extremo.
Cada um destes extremos são pecaminosos, evidentemente, e imensamente danosos para os cristãos e o mundo, e tanto são motivados, como fomentam orgulho, ódio, intolerância, tolice, e perda de identidade, gerando os mais absurdos desequilíbrios, envergonhando o nome cristão. A cura e prevenção para estes males está em observarmos o que Cristo nos ensina na Oração Sacerdotal sobre o relacionamento dos cristão entre si e com o mundo.
II - A separação bíblica.
Há uma separação real entre cristãos e não cristãos. Nos versos que estamos destacando da Oração Sacerdotal, e em outros trechos da mesma Oração, podemos observar esta separação em três aspectos. Vejamos:
Primeiro, há uma separação na fé. Veja:
“Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo”. João 17:14.
Os cristão genuínos receberam pela fé a Palavra do Pai que Cristo lhes trouxe. Cristãos genuínos crêem e vivem conforme a Palavra de Deus. Já os do mundo, os não cristãos, odeiam a Palavra, pautando suas vidas em filosofias, ideologias ou tradições humanas. Eles não crêem na Palavra mas nas idéias humanas. Assim, cristãos são crentes, e não cristãos são incrédulos. Há uma enorme separação e diferença entre uma pessoa e outra, portanto.
Segundo, há uma separação em relação ao Salvador, Jesus Cristo. Veja:
“Agora já têm conhecido que tudo quanto me deste provém de ti; Porque lhes dei as palavras que tu me deste; e eles as receberam, e têm verdadeiramente conhecido que saí de ti, e creram que me enviaste”. João 17:7,8.
Ao receberem a Palavra de Cristo com fé, os cristãos passam a ter Cristo como Único e Suficiente Salvador, Salvador dos pecados, Aquele que lhes reconcilia com Deus Pai. Já os não cristãos põem sua confiança em muitos falsos messias. De fato os do mundo nem percebem do que precisam ser salvos, não consideram seus pecados contra Deus, não percebem a situação gravíssima em que estão, crendo que podem encontrar solução para seus problemas, que são vistos sempre superficialmente, em falsos mestres, nos recursos humanos, na política, tecnologia, ciência e filosofia, por exemplo. Enfim, os não cristãos possuem muitos messias falsos. Já os cristãos genuínos possuem o Único e Verdadeiro, Salvador, O Senhor Jesus Cristo. Cristãos são agora do Reino de Cristo. Eles têm Cristo como seu Cabeça, enquanto que os do mundo estão em outro reino, o reino do mundo, da mentira, do maligno.
Terceiro, há uma separação quanto ao Deus adorado. Veja:
“Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos quantos lhe deste. E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste”. João 17:2,3.
Desde que creram na Palavra de Cristo, e O tiveram como Único Salvador, os cristãos genuínos passam a servir ao Verdadeiro Deus revelado no Filho. Ele conheceram ao Pai no Filho, e viram que seus ídolos são todos falsos, e então passam a cada vez mais viver para a glória deste Deus Único e Verdadeiro. Isto é muito diferente no caso das pessoas não crentes. Estas servem a ídolos fabricados por seus incrédulos corações, tendo as suas vidas, em cada aspecto, voltadas a adoração a estes falsos deuses.
Portanto, vemos que há uma diferença radical entre cristãos e não cristãos. Digo radical porque tal diferença vem do mais profundo do ser, do coração. Cristãos servem a Deus no coração. Os do mundo servem aos ídolos no coração. Resumindo: Primeiro, cristãos genuínos crêem e vivem conforme a Palavra de Deus, enquanto os outros a odeiam, pautando suas vidas nas filosofias, ideologias ou tradições humanas. Segundo, cristãos têm Cristo como Único Salvador. Já os não cristãos põem sua confiança em muitos falsos messias. Terceiro, cristãos servem ao Verdadeiro Deus revelado em Cristo, diferentemente de pessoas não crentes, que servem a ídolos fabricados por seus incrédulos corações. Diante disso vemos que não se pode ter unidade plena, comunhão real, entre dois tipos de pessoas tão diferentes. Evidentemente que isso não significa isolacionismo, pois, conforme veremos ainda, os cristãos são enviados ao mundo. No entanto, isso significa que há sim diferença entre cristãos e não cristãos, e é a diferença mais profunda que pode existir, pois trata-se da diferença no coração.
Isso naturalmente nos previne e cura de dois extremos. Quais? Vejamos:
Primeiro, nos livra da ideia extremada de que podemos e devemos nos misturar com o mundo indiscriminadamente. Não podemos. Somos povo diferente. Portanto, haverá de ter limites em nosso envolvimento com o mundo. Estaremos no mundo, mas nossa fé é na Palavra, nosso Salvador é Unicamente Cristo, nosso Deus é tão somente o Pai Celestial revelado no Filho. Isso nos levará a não pensarmos e andarmos como os mundanos pensam e andam. Haverá diferenças reais em cada aspecto da vida. E isso será manifesto. Também tal entendimento nos levará a nos acautelarmos. Não consideraremos o mundo como inofensivo. Há verdadeiro perigo no mundo, Há pecados, idolatrias, tentações e seduções. Não me afastarei radicalmente das pessoas, não considerarei que não há graça comum de Deus no mundo, mas estarei consciente dos perigos e tentações, procurando ter cuidado em não brincar com o pecado, sendo criterioso quanto a relacionamentos e conteúdos que permito entrar em minha mente.
No entanto, devemos sempre lembrar que é a Palavra de Cristo que nos guiará e santificará em cada passo. Nosso Senhor orou assim:
“Santifica-os na tua verdade; a tua palavra é a verdade”. João 17:17.
Assim, o que nos protegerá das influências do mundo será a Palavra de Deus. Dessa forma, devemos diariamente meditar nela e nos expor à fiel pregação. E nisso, conforme temos sidos orientados na Palavra de Deus, devemos nos levantar e brilhar no mundo, sendo diferentes, crendo que conforme Cristo orou, podemos viver assim pela graça do Senhor. E o mundo precisa de tal luz da diferença. O mundo mundo não precisa de critãos iguais a ele. Em que isso o ajudará? O mundo está em trevas. Como as trevas da igualdade o ajudará? Se os cristãos tentarem ganhar o mundo misturando-se indiscriminadamente com ele, não o ajudará porque será trevas com trevas, e isso só mostrará que tais cristãos não são de fato cristãos. O Senhor nos livre disso!
Segundo, tal compreensão da verdade da separação e diferença, também nos livrará e curará do extremo da unidade indiscriminada entre cristãos professos. Se alguém não crê na Palavra, não confia unicamente em Cristo como Salvador, e não vive em adoração ao Deus verdadeiro revelado em Cristo, verdadeiramente não é crisitão, por mais que professe o cristianismo. Não poderemos nos unir a esta pessoa e chamá-la de cristã para implementarmos uma unidade à força, superficial. Isso seria produzir falsificação, desonraria a Deus, e faria mal à própria pessoa. Na verdade, para o bem dela eu devo mostrar-lhe que ainda não é uma cristã. Chamá-la de cristã, no sentido bíblico, não há ajudaria em nada. Muito ao contrário, a prejudicaria. Ela ficaria iludida. A ausência de clareza sobre o que distingue um cristão genuíno, pode levar ao terrível engano de ver-se como cristão enquanto ainda se precisa de verdadeira conversão. O Senhor nos guarde de fazer tal mal a alguém.
Do que, então, precisam as pessoas do mundo e os falsos cristãos? Elas precisam ser evangelizadas. Mas falaremos disso no próximo estudo.
*Esboço do sermão do dia do Senhor, 24 de julho de 2022.

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