A Santidade de Deus - Edson Azevedo.

Fala a toda a congregação dos filhos de Israel e dize-lhes: Santos sereis, porque eu, o Senhor, vosso Deus, sou santo. Lv 19.2

Introdução –

No último sermão expusemos sobre o juízo de Deus. Vimos que ele é executado quando a sua ira se levanta e vimos que a sua ira se levanta quando a sua santidade é agredida pelo nosso pecado. Mas, eu pergunto: qual a intensidade da agressão que cometemos contra a santidade de Deus quando pecamos? Os crentes maduros dirão: ‘gravíssima!’. Os crentes novos ou os que não desenvolvem, impedidos que são pela interpretação arminiana, dirão: ‘leve!”. E os crentes que estão dentro das igrejas, mas que não são crentes, juntar-se-ão aos incrédulos e dirão: ‘não cometemos nenhuma agressão à santidade de Deus quando pecamos, aliás, nós nunca pecamos!”. A questão é sempre essa, a santidade de Deus e a nossa. Se fizermos uma pesquisa entre os crentes e lhes perguntarmos sobre qual é a maior aspiração, o maior desejo deles, como crentes, na escalada espiritual, é certo que a maioria esmagadora vai responder que é a vontade de ser santo, separado. De fato, irmãos, essa é a grande luta interna do cristão. É tão intensa que alguns chegam a compará-la a uma gangorra, oscilando intermitentemente entre altos e baixos, numa sucessão interminável de sobe e desce. Lutamos e lutamos e parece não haver trégua, pior, parece não haver progresso algum. Quando estamos em cima, sossegamos, e julgamos nunca mais descer. De repente, estamos em baixo, cabisbaixos, ansiando por subir novamente, mas com vergonha de subir e ter que descer de novo, hesitando entre a desgraça de permanecer em baixo e a vergonha de subir e ter de descer. Mas, será que tem que ser assim? Será que é assim a vida cristã? É esse o modelo que Deus quer que vivamos? É esse o modelo que a Palavra prega? Por que a vida da grande maioria de cristãos é assim? O que há de errado com esse modelo de santidade? Não é difícil responder, e vamos começar do começo. Antes da conversão éramos imundos, tudo em nós era corrompido, pervertido, pecaminoso, justamente o oposto de Deus, que é santo. Fomos convertidos pelo Espírito Santo de Deus, ganhamos uma nova vontade, uma nova natureza, tudo isso sem perder a velha vontade, a velha natureza. Passamos a ter no coração, hóspedes, inimigos entre si, que se odeiam com todas as forças, com tudo que são, inimigos irreconciliáveis, uns puxando-nos prá baixo, e os outros nos puxando prá cima. Essa guerra é composta de muitas batalhas. Uma natureza vai usar todos os recursos para impedir que a outra faça aquilo que deseja, daí resultando o eterno conflito. Pastores abrem a boca nos púlpitos e ensinam esse sobe e desce contínuo e constante na vida dos cristãos como coisa normal. Os cristãos, por sua vez, não conseguindo progredir, e ao mesmo tempo ouvindo dos pastores que a coisa é assim mesmo, e considerando ainda os encantos do mundo, com os seus múltiplos prazeres, não resta ao crente outra alternativa senão contentar-se com a ‘gangorra’ espiritual. Mas essa direção não é a da Palavra de Deus, pelo contrário, é a direção do humanismo, que prega que o pecador, uma vez convertido, precisa operar a sua própria santificação, esforçando-se, usando todos os seus recursos e capacidades, toda a sua sabedoria, todo o seu ‘livre-arbítrio’, para manter-se num nível aceitável de santidade, e que, exigir-se mais do que o homem pode fazer, é puro radicalismo, puro preciosismo e farisaísmo. O desastre ocorre, então, porque esse humanismo tem dado a bússola para a igreja dos tempos modernos, com o seu famigerado materialismo, e com a sua ênfase demasiada sobre os valores do homem. E o arminianismo, sendo o braço religioso do humanismo, dominou o cenário eclesiástico e, por conseguinte, produziu essa geração de crentes da gangorra espiritual.
Não negamos a força da velha natureza, não negamos a força da nossa depravação total, não negamos a força do pecado, não negamos a força do mundo, pelo contrário, afirmamos todas elas, pregamos sobre todas elas, alertamos a Igreja contra as suas terríveis conseqüências, exortamos contra as inúmeras solicitações que elas farão à nossa nova natureza para fazer-lhes concessões, mas tem uma diferença: Ensinamos à Igreja a não mais olhar para os apelos da velha natureza, a não mais olhar para os prazeres que ela reclama, a não mais olhar para as diretrizes que ela tenta nos dar. Ensinamos à Igreja a dar as costas, literalmente, à velha natureza, a fazer ouvidos de mercador aos reclames dos seus interesses, e, dessa maneira, não lhes satisfazer os desejos, mortificá-la, usando, não os nossos recursos, mas os recursos da Palavra de Deus, os recursos da graça, os recursos do estudo bíblico, da comunhão, da oração. Somos crentes que possuem duas naturezas, a velha e a nova, mas que olhamos para as diretrizes da nova. Não somos crentes com duas naturezas, mas que, ignorando a nova, vivem a olhar constantemente para a velha natureza, com saudades, desejando ‘os melões e os alhos do Egito’, com grande facilidade de dar desculpas por pecados cometidos, atribuindo tudo à velha natureza. Somos crentes que nos lembramos da mulher de Ló, que saía de Sodoma quando já descia o fogo, mas estava com saudades (olhava para trás, na linguagem de Gênesis), e foi fossilizada pelas larvas vulcânicas, pelas larvas salinizadas com extrema acidez. Não procedemos como a mulher de Ló, mas nos lembramos do seu erro e não imitamo-la, lembramo-nos para não repetirmos o seu erro.
No nosso texto, Deus ordenou a Moisés que transmitisse o imperativo ao povo de serem santos porque o Deus deles era um Deus santo. A santidade de Deus exigia que o povo de Deus também fosse um povo santo. Não era opção, era exigência, por isso que as palavras foram dadas em tom de imperativo, isto é, não há escolhas, a ordem é do imperador e precisa ser cumprida.
Nesse capítulo 19 Deus detalhou para o povo o que significava ser santo. No v.3 Ele falou sobre o quinto e o quarto mandamentos da sua lei moral. No v.4 Ele falou sobre o primeiro mandamento. No v.11 Ele falou sobre o oitavo e o nono. Em todo o capítulo Deus esmiuçou os mandamentos da primeira tábua e também da segunda, além de dar diversos preceitos do culto cerimonial, e tudo isso significava santidade. Os homens do mundo odiavam esse procedimento, só os filhos de Deus
tinham prazer em proceder dessa forma santa. Assim, a santidade de vida do povo de Deus deveria refletir a santidade do próprio Deus.
A santidade é o atributo que cobre todos os aspectos da grandeza e da perfeição moral de Deus, e é característica de todos os seus atributos. O cerne, o miolo, dessa verdade, é que ela é a pureza de Deus, que não pode tolerar qualquer forma de pecado. Foi entendendo a santidade de Deus que o profeta Habacuque disse: “Tu és tão puro de olhos, que não podes ver o mal e a opressão não podes contemplar” (Hc 1.13), como quem dizia “e é só isso que está em nós”. É por causa desse atributo que os pecadores são chamados a estarem em perene humilhação na presença de Deus. A santidade é a excelência propriamente dita da natureza divina: o grande Deus é “glorificado em santidade” (Ex 15.11). Da mesma maneira que o seu poder é o oposto da nossa fraqueza, a sua sabedoria está em contraste com a nossa ignorância, assim a sua santidade é a antítese da nossa corrupção moral, da nossa depravação total. No culto de Israel os levitas foram designados para que “louvassem a beleza da santidade” (2 Cr 20.21).
A Bíblia usa diversas figuras para enaltecer os atributos de Deus: A figura da mão ou do braço é usada para o poder de Deus; a figura dos olhos é usada para a onisciência de Deus; a figura das entranhas é usada para a sua misericórdia, a figura da duração é usada para a sua eternidade, mas a figura usada para a santidade de Deus é a beleza. E é essa figura que, acima de todas, torna o pecador resgatado, imóvel e sem linguagem diante do Deus Santo. Foi esse sentimento que levou Charnock (o grande reformador) a gritar: “Ó Deus, como sendo Tu perfeito em santidade, resolveste salvar um pecador perfeito em transgressão, perfeito em depravação?”.
A ênfase que as Escrituras dão à santidade de Deus, nas suas páginas, é algo tremendamente grandioso. Deus é mais intitulado Santo do que onipotente, e é mais exposto pela sua santidade do que por qualquer outro atributo. Praticamente não encontramos nas Escrituras expressões como: ‘seu poderoso nome’, ou, ‘seu sábio nome’, ou ainda, ‘seu misericordioso nome’, mas, ‘seu grande nome’ e, acima de tudo, ‘seu santo nome’. Este é o maior título de honra para Deus, é ele que contém a majestade e a venerabilidade de Deus. Esse é o atributo que permeia todos os demais e lhes dá brilho. É o atributo dos atributos. Todos os atributos de Deus são santos. Deus mesmo coloca em destaque essa perfeição: “Uma vez jurei por minha santidade que não mentirei a Davi” (Sl 89.35). Deus jura pela sua santidade porque ela é a perfeição que realça todas as outras, por isso somos exortados: “Cantai ao Senhor, vós que sois seus santos, e celebrai a memória da sua santidade” (Sl 30.4). Assim lemos sobre “a formosura do Senhor” (Sl 27.4), que não é outra coisa senão “a beleza da santidade” (Sl 96.9). Abordaremos dois pontos com respeito à santidade de Deus, que são: O que é a santidade de Deus e, qual deve ser a nossa reação diante desse assombroso atributo divino.

1 – O que é a santidade de Deus?

– A santidade de Deus é o atributo que lhe faz separado de tudo quanto é pecado, errado, injusto, profano, impuro, e que, ao mesmo tempo, dedica-se a buscar a honra e a glória devidas à sua pessoa. A palavra ‘santo’ é usada para descrever as duas partes do tabernáculo, por exemplo. O tabernáculo era um local separado do mal, santo, era uma tenda, uma barraca de camping, diríamos hoje, e possuía dois ambientes: o primeiro chama-se ‘Lugar Santo’, e o segundo ambiente, separado do primeiro por um espesso véu, chama-se ‘Santo dos Santos’, onde ficava a arca da aliança e era o lugar mais separado do mal e do pecado, absolutamente consagrado ao culto do Senhor. Está escrito: “o véu vos fará separação entre o Lugar Santo e o Santo dos Santos” (Ex 26.33). Era nesse lugar, o Santo dos Santos, no interior do tabernáculo, que Deus habitava. Davi, referindo-se ao templo que havia de ser edificado no monte Sião disse: “Quem Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte? (Sl 15.1)”. Após a criação, Deus estabeleceu o elemento que caracterizaria a sua santidade, o sábado: “E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou” (Gn 2.3). Literalmente, Deus consagrou esse dia. Esse dia foi santificado porque dele foram excluídas todas as atividades comuns do mundo, sendo dedicado exclusivamente ao culto de Deus. Da mesma forma, Arão e seus filhos deviam ser santificados (consagrados), separados das atividades comuns, longe do mal e do pecado do mundo, para servirem aos turnos dos cultos que se prestavam a Deus (Ex 30.25-33). A santidade de Deus é aquilo que o seu povo deve imitar, “Santos sereis”. Quando tirou o povo do Egito e ordenou-lhe que obedecesse à sua voz, Ele disse: “Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.4-6). Deus queria uma nação afastada do mal, separada do pecado, santa. Cada israelita deveria ser um sacerdote, tão puro, tão separado como o eram os sacerdotes instituídos. Israel falhou e Deus transferiu esse privilégio para a sua Igreja, por isso está escrito: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz” (1 Pe 2.9). É assim que os crentes da nova aliança devem seguir “a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14) e saber que a disciplina de Deus vem para que sejamos “participantes da sua santidade” (Hb 12.10). O padrão de todas as ações de Deus é a santidade. Tudo aquilo que Ele faz está rigorosamente de acordo com a sua santidade. Paulo disse que a Lei é santa (Rm 7.12). A lei de Deus proíbe o pecado em todas as suas variações, desde o mais grosseiro até o mais refinado, desde a contaminação do corpo como os intentos da mente, desde o ato abertamente praticado até o desejo secreto no coração. Entendem os irmãos por que Davi gritava e perguntava: “Quem subirá ao monte do Senhor?”. O que temos a dizer de nós mesmos diante da santidade de Deus? A santidade de Deus não conhece o pecado, Deus odeia o pecado, Deus quer que sejamos separados do pecado, Deus trabalha para que o seu povo seja separado do pecado, e Ele vai conseguir o seu intento, infalivelmente. Todos os obstáculos serão removidos, sem dor ou com dor. A advertência é clara, 2 Co 6.14-7.1 [..].
Irmãos, a santidade de Deus se revelou na cruz de maneira espantosa e solene quando, na expiação, a santidade infinita de Deus demonstrou seu ódio ao pecado castigando-o até o limite extremo da sua culpa, quando imputou o castigo ao Seu Filho! A ira de Deus foi demonstrada de forma plena, cabal, irrestrita, sem misericórdia, sobre Jesus Cristo, e isso para satisfazer a santidade do Justo Deus. Se somarmos todos os vasos da ira de Deus, resultado dos seus juízos sobre o mundo, derramados e por derramar, se somarmos todas as chamas de fogo nas consciências dos pecadores, se somarmos todas as sentenças irrevogáveis pronunciadas sobre os demônios rebeldes, se somarmos todos os gemidos das criaturas que estão no inferno, e ainda vão, se somarmos tudo isso, ainda ficaremos infinitamente longe do cálice da ira de Deus derramado sobre Jesus para satisfazer a justiça requerida pela sua santidade para salvar a mim e a você! Será que começamos a ter uma fraca percepção do que seja a santidade de Deus? Será que começamos a ter uma fraca percepção da agressão que o nosso pecado produz na santidade de Deus?

2 – Qual deve ser a nossa reação diante da santidade de Deus?

Falando ao povo de Israel, que hesitava entre servir a Deus e servir aos prazeres, Josué os alertou nos seguintes termos, Js 24.19 [..]. Noutra ocasião, falando ao povo de Israel, que havia olvidado a palavra profética de que não servisse a Deus desatentamente, Isaías, falando pela boca de Deus, disse, Is 1.4 [..]. O povo não feriu a soberania de Deus, nem a sua misericórdia, nem a sua sabedoria, nem o seu poder, mas a sua santidade, “blasfemaram do Santo de Israel”, reclama Deus. Irmãos, será que estamos servindo ao Senhor desatentamente? Será que estamos servindo ao Senhor relaxadamente? Será que nós, como Igreja santa, temos conhecido todos os erros de Israel e ainda os repetido? Se estivermos assim, seremos tidos por piores do que aqueles rebeldes judeus!
Havia em Israel um profeta pertencente à nobreza, à aristocracia. Era um perfeito estadista, tinha acesso à corte da época. Era amigo de reis e de príncipes. Foi usado por Deus para profetizar ao longo dos reinados de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias. O chamado desse profeta foi singularmente dramático, aconteceu no ano da morte do rei Uzias. Uzias foi um rei que governou por cerca de 52 anos. Subiu ao trono com 16 anos e seu reinado foi um dos melhores de Judá. Muito tempo! Nos últimos 50 anos, no Brasil, tivemos Getúlio Vargas, Café Filho, Juscelino Kubtscheck, Jânio Quadros, que renunciou ensejando o surgimento do parlamentarismo, com os primeiros-ministros Tancredo Neves, Brochado da Rocha e Hermes Lima. Depois voltou o presidencialismo e foi empossado João Goulart, que caiu, sendo substituído por Ranieri Mazzilli, que passou o governo às mãos de Castelo Branco, depois Costa e Silva, depois Garrastazu Médici, depois Ernesto Geisel, João Batista Figueiredo, José Sarney, Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique, 18 presidentes ao todo (Obs: este texto é de 2001). No reinado de Uzias, muitas pessoas em Judá passaram a vida inteira sob o seu governo. Ele começou o seu reinado em santidade, “fazendo o que era reto perante o Senhor” (2 Cr 26.4). Deus o abençoou grandemente. Foi vitorioso nas batalhas que empreendeu, edificou muitas cidades importantes e desenvolveu o país. Foi conhecido como um grande e amado rei. Entretanto, seu reinado terminou tristemente. O sucesso do reinado lhe subiu à cabeça e alimentou o orgulho que começou a enxergar o seu extraordinário poder e riquezas. Atreveu-se a entrar no templo do Senhor e, com arrogância, desempenhar funções que somente aos sacerdotes era concedido. Quando os sacerdotes do templo tentaram impedir o ato de sacrilégio, Uzias se enfureceu. Enquanto gritava com fúria, apareceu lepra em sua testa, 2 Cr 26.16-21 [..]. Quando Uzias morreu, apesar desse vexame, foi uma tristeza só, luto nacional. Isaías foi ao templo, talvez procurando consolo nessa época de lamento, de tristeza, e de incerteza política. Foi nessa ocasião que outro Rei lhe chamou. Os olhos de Isaías, que estavam postos em Uzias e no seu reinado, agora são redirecionados para o Senhor e o seu Reino, Is 6.1 [..].
Eu vi o Senhor. Note como está escrita a palavra ‘Senhor’. Começa com maiúscula e as demais são minúsculas. Não é erro de tradução nem de impressão, a grafia está correta. Na maioria das vezes a palavra é escrita em letras maiúsculas. Olhemos, por exemplo, o Sl 8.1 [..]. A explicação é a seguinte: “Senhor” é a tradução do termo hebraico ‘adonai’, que significa soberano. Não é o nome de Deus, mas um título, na verdade é o título supremo com o qual se fazia referência a Deus no Antigo Testamento. Já “SENHOR” é a tradução do hebraico ‘Yahweh’, que é o nome sagrado de Deus, o mesmo que Ele se revelou a Moisés na sarça. É o nome que o judeu não pronunciava, o nome inefável, santo, guardado da profanidade de Israel. Então, no Sl 8.1 quando
Davi diz: “Ó SENHOR, Senhor nosso”, ele está dizendo: “Ó Yahweh, nosso adonai, quão magnífico é o teu nome em toda a terra”. Portanto, SENHOR é o nome de Deus; Senhor é o seu título. Considerando o presidente Fernando Henrique, por exemplo, Fernando é o seu nome, presidente é o seu título.
Pois bem, quando Isaías estava no templo, Uzias estava morto e havia uma crise de soberania na terra, e o texto diz que ele viu o Senhor. Ninguém pode ver a face de Deus e permanecer vivo, dizem as Escrituras. Moisés viu os milagres de Deus no Egito, operados por sua mão, e ficara extasiado, mas, quando subiu ao monte, pediu para ver a face de Deus, anelava por uma experiência espiritual ímpar. Deus não lhe atendeu o pedido, mas respondeu que faria passar diante dele toda a sua bondade e mais, que quando passasse a glória de Deus, Moisés olharia pela fenda da rocha e veria a Deus pelas costas, mas a face não veria (Ex 33.19-23). Quando Moisés desceu do monte, seu rosto brilhava tanto que as pessoas não conseguiam fitá-lo e fugiam apavoradas. Moisés cobriu o rosto com um véu e as pessoas puderam aproximar-se, aterrorizadas, pela visão da glória de Deus refletida em um homem que se achegara ao Senhor (e era um reflexo das costas de Deus, não da sua face). Se o povo estava aterrado com essa visão, como poderia encarar seu rosto santo? Is 6.2 [..]. Os serafins não são homens, são anjos, da alta corte angelical, mas mesmo assim precisam proteger os olhos para não contemplar a face de Deus, e para isso, Deus os proveu de duas asas para esse fim. Outras duas asas serviam para voar e as outras duas para cobrir os pés. Não esqueçamos que a visão foi dada a um mortal, a um humano, e precisa ter elementos que ele compreendesse. Quando apareceu a Moisés na sarça, Deus ordenou que tirasse as sandálias porque aquela terra estava santificada pela presença do Senhor. A terra estava corrompida pelo pecado, os homens também. Aquilo que nos liga à terra são os nossos pés. As sandálias servem para minimizar (figuradamente) os efeitos da maldição sobre a terra. Moisés precisou tirar as sandálias, num reconhecimento de que era terreno, da terra. As asas dos serafins a cobrir-lhes os pés, indicavam a Isaías a presença santa de Deus.
Is 6.3 [..]. Aqui é o ponto extremo da visão do profeta, quando ele escuta o coro celeste a entoar o Triságio, que significa três vezes santo: “Santo, Santo, Santo”. É a repetição de uma única palavra e sugere à Igreja o seu hino mais augusto. A repetição da palavra Santo é um recurso da literatura hebraica para designar importância, para dar ênfase. Em português utilizamos outros recursos para enfatizar, tais sejam, aspas, sublinhado, negrito, itálico, e outros mais. No hebraico utilizava-se a repetição. Jesus utilizou a repetição em diversas ocasiões, como, por exemplo, ‘Em verdade, em verdade “, como sinal de que Ele ia falar algo importante, equivalente ao juramento.
Em poucas oportunidades as Escrituras repetem algo três vezes . Mencionar algo três vezes seguidas é eleva-lo ao grau superlativo, é dar-lhe ênfase extremamente importante. Outra ocasião em que se repete três vezes é em Ap 8.13, onde o julgamento de Deus é declarado por uma águia no céu que diz em alta voz:” Ai! Ai! Ai! Dos que moram na terra”. Somente uma vez nas Escrituras um atributo de Deus é escrito três vezes sucessivamente, e é justamente aqui: Santo! Santo! Santo! A Bíblia nunca diz que Deus é amor, amor, amor; ou bondade, bondade, bondade; ou ira, ira, ira. Diz que é Santo! Santo! Santo, e que toda a terra está cheia da sua glória.
Is 6.4 [..]. Quando Deus apareceu no templo as bases do limiar se moveram. A matéria inerte e inanimada, a madeira, o ouro, que não ouvem nem falam, foram movidos na presença de Deus. Literalmente, estremeceram, começaram a tremer. Uma pesquisa feita junto a membros que abandonaram as igrejas e estavam em casa, mostrou que o motivo principal pelo qual deixaram a
comunhão foi que o culto estava enfadonho, não encontravam uma experiência que os fizesse tremer, como as bases do limiar.
Is 6.5 [..]. Não só as bases do templo tremiam, o profeta também. Talvez tremesse mais do que as próprias bases. Quando viu o Deus vivo, o monarca que comanda o Universo, o Senhor do céu e da terra, revelado bem diante dos seus olhos em toda a sua santidade, Isaías clamou: “Ai de mim!”. É tarefa muito difícil compreender, hoje, o que significa ‘ai de mim’. O humanismo baniu frases desse tipo, do vocabulário cotidiano. Frases que levam o homem prá baixo devem ser excluídas, dizem eles. O humanismo, lembrando, é a ciência que eleva o homem à condição de Deus.
Só compreenderemos o significado dessa exclamação de Isaías se fizermos uma revisão na palavra profética. Quando os profetas anunciavam as mensagens de Deus, faziam-no em forma de oráculo. Oráculos eram proclamações de Deus que podiam ser boas ou ruins, para o povo. As boas iniciavam-se com “Bem-aventurados” como no sermão do monte, utilizadas por Jesus. As ruins iniciavam-se com “Ai”, como em “Ai de vós escribas e fariseus hipócritas!”. A Bíblia utiliza o
recurso “Ai de vós” para condenar cidades, nações e indivíduos. No caso de Isaías, ele pronunciou o “Ai” sobre si mesmo. Quando viu o Senhor, clamou: “Ai de mim!”, invocando a maldição de Deus sobre a sua própria cabeça, invocando o anátema de julgamento e destruição de Deus. Uma coisa é o profeta anunciar maldição sobre outros, em nome do Senhor, e outra coisa é pronunciar uma maldição sobre si mesmo. Imediatamente depois de dizer “Ai de mim”, ele exclamou “Estou perdido”, literalmente, “Estou perecendo”, isto é, estava perdendo a compostura. O que estava acontecendo com Isaías é o que os psicólogos chamam de desintegração pessoal. Desintegrar significa exatamente o que a palavra diz: des integrar, ou seja, separar as partes. Isaías era um homem íntegro, reto, completo. Seus contemporâneos o consideravam um homem justo. Era respeitado como um exemplo de virtude. De repente, teve uma visão do Deus Santo. Naquele instante teve sua auto-estima arrebentada, pois ficou exposto, nu, por poucos segundos, ao olhar penetrante do modelo absoluto de santidade. Antes, garanto que Isaías, ao se comparar com as outras pessoas, tinha um elevado conceito de si mesmo, do seu próprio caráter, talvez tenha dito: eu sou o máximo, sou imbatível, sou o melhor! No instante em que se viu diante da santidade suprema, foi destruído, aniquilado moralmente, espiritualmente também. Desintegrou-se. Caiu aos pedaços. Sua integridade desintegrou-se. Com a consciência arrasada, se era que ainda tinha, clamou: “Sou homem de lábios impuros”. Não ousou dizer que era um homem de coração impuro, ou mesmo um homem de pensamentos impuros, não! Foi mais claro, inconfundivelmente claro, pois disse: sou de lábios impuros. De fato, Jesus, posteriormente declarou que a boca fala do que está cheio o coração (Lc 6.45), e ainda, “Não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto sim, contamina o homem” (Mt 15.11). Dessa forma falou também Tiago quando disse, Tg 3.6-12 [..]. Isaías reconheceu a sua vil condição e também que não estava sozinho nessa situação. Entendeu que toda a nação estava contaminada com pessoas de boca suja: “Habito no meio dum povo de impuros lábios”. Compreendeu, num instante, a gravidade do pecado. Viu que estava impregnado do mal junto com os seus patrícios. Is 6.6,7 [..]. Lá estava Isaías, prostrado, tremendo dos pés à cabeça, desejando que o telhado desabasse sobre ele com desabou sobre os que escarneceram de Sansão, desejando que a terra o tragasse como o fez com Acã. Invejou a condição de Jonas, quando foi engolido pelo grande peixe. Não havia nenhum arbusto para se esconder como o fez Adão, estava com o coração despedaçado, como se estivera fora do corpo. Todos os seus poros transpiravam culpa, culpa, culpa!
Nesse momento, a santidade de Deus chamou a graça para acudi-lo. O consolo chegou. Providências foram tomadas para restaurar-lhe a alma e limpar o seu coração. O ser angélico voou com rapidez e, do fogo ardente, tirou uma brasa viva, tão quente que até o anjo precisou pegá-la com uma tenaz. O anjo pressionou a brasa contra os lábios do profeta. O local escolhido pelo anjo foi o mesmo local que Isaías sentiu a sua iniqüidade. Sua carne queimou, a fumaça subiu pelas narinas, a dor foi excruciante. A misericórdia de Deus foi dura, foi um ato doloroso de purificação. A imundície de sua boca foi queimada, ele foi purificado pelo fogo da santidade de Deus. Em Is 6.8 lemos, [..]. O profeta vira a glória de Deus, o coro dos anjos, a brasa nos lábios. Agora se calaram os anjos, e a voz que ecoou nos ouvidos do profeta foi a voz do próprio Deus que
dizia: “A quem enviarei e quem há de ir por nós?” Isaías respondeu: “Eis-me aqui, envia-me a mim”. Há uma diferença enorme entre dizer “Estou aqui” e “Eis-me aqui”. Se tivesse sido a primeira resposta, ele estaria apenas dando a sua localização de posição, mas, com a segunda resposta, o profeta mostrou o espírito voluntário que só quem possui é quem está conhecendo a santidade de Deus.

Conclusão

Irmãos, será que já experimentamos esse momento em que fomos dominados pela presença de Deus e sentimos que estávamos perecendo diante dele? Quando sentiu a santidade de Deus a resposta de Isaías foi “Ai de mim, estou perdido”, qual tem sido a nossa? Será que, no máximo, temos dito um “Sinto muito?” De que modo precisamos ser refinados pelo fogo da santidade de Deus? O profeta estava pesaroso por seu pecado, dominado pelo arrasamento moral, e Deus enviou-lhe a cura. Seu pecado foi retirado. Sua dignidade permaneceu intacta. Sua culpa foi removida, mas sua humanidade não foi insultada. A convicção de pecado que sentiu foi construtiva porque todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus. Seu castigo não foi cruel. Um instante de queimadura nos lábios trouxe uma cura que se estendeu por toda a eternidade. O profeta se desintegrou, mas rapidamente Deus o reintegrou. Sua boca havia sido purgada, ele estava limpo. Só será santo quem tiver contato com o Deus santo. O contato com o Deus santo purificará o nosso coração, por isso, “Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus” (Mt 5.8). Ninguém espere ter uma visão como Isaías teve. Deus cessou os antigos modos de revelação, diz Hb 1.1,2. Jesus, quando orava ao Pai na chamada ‘oração sacerdotal’, pediu a Deus que nos santificasse na verdade, a Sua Palavra (Jo 17.17). A santidade de Deus deve ser procurada, deve ser vista, e está nas páginas da Palavra. Mas não basta somente ler, ou estudar, é necessário ter o ensino aplicado no coração, por isso que todo estudo da Palavra deve ser feito debaixo de muita humilhação e oração, porque Deus está perto dos que têm o coração quebrantado. É necessário ver a Deus, é imprescindível ver a santidade de Deus, porque, “sem a santidade ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14). Meu irmão, o rosto de Moisés só brilhou porque ele teve contato com o Deus Santo. Se você não vir a santidade de Deus no estudo da Sua Palavra, seu rosto jamais brilhará, sua boca jamais será purificada, seu coração jamais será enbranquecido, seu pecado jamais deixará de ser da cor escarlate. Nossas palavras, nossos pensamentos e nossas ações estão de conformidade com a santidade de Deus? Temos sido santos como Ele nos mandou ser? Temos sido santos porque Ele é Santo? Temos sido santos em toda a nossa maneira de viver, como disse Pedro (1 Pe 1.15)? O Senhor disse: “Serei santificado naqueles que se cheguem a mim, e serei glorificado diante de todo o povo” (Lv 10.3). Como tem sido a nossa vida secreta, aquela que ninguém vê? Como tem sido a nossa vida secreta, aquela que só Deus vê? Temos escondido dos homens mas ficados expostos, escancarados diante de Deus, como faz o avestruz, que enterra a cabeça na terra para fugir do perigo? Lembremo-nos que o nosso pecado nos há de achar (Nm 32.23). Se não conhecermos a santidade de Deus vamos considerar o nosso pecado não tão grave, vamos considera-lo leve e vamos agredir a santidade de Deus a atrair juízo sobre nós mesmos, porque Deus não permite que a sua santidade seja desprezada sem punir o culpado. Conhecer a santidade de Deus é fugir do pecado; fugir do pecado é crescer em santidade; crescer em santidade é conformar-se mais e mais à imagem de Jesus. Essa característica é exclusiva dos cidadãos do céu, daqueles que hão de habitar no tabernáculo do Senhor, daqueles que hão de subir ao seu monte santo. Irmãos, não saiam desse culto na certeza de que estiveram diante de um homem santo.
Ao virem-me pregar sobre santidade não concluam que devo ser tão santo quanto a mensagem que prego. É nessas situações que tenho vontade de clamar “Ai de mim!” e clamo mesmo: “Ai de mim!” Não pensem os irmãos que uma pessoa que estuda sobre santidade seja necessariamente santa. O desejo do meu coração é aprender a respeito desse assunto e isso se deve ao fato de saber que não sou santo. Sou um homem profano, que gasta mais tempo fora do templo do que dentro dele. Porém, já provei o suficiente da santidade de Deus para querer sempre mais. Sei que todo pregador é vulnerável à hipocrisia. Na verdade, quanto mais fiel à Palavra de Deus for a pregação de um homem, mais ele estará sujeito à hipocrisia. Por quê? Porque quanto mais fiel à Palavra, mais elevada será a mensagem, e mais dificuldade o pregador terá de aplica-la a si próprio. No entanto, sei o que é ser perdoado e o que é ser enviado em uma missão. Minha alma clama por mais. Minha alma precisa de mais. Todos nós precisamos de mais. Maranata Senhor Jesus! AMÉM

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Caros amigos, como o propósito do blog é mostrar o que a Bíblia ensina para a nossa edificação espiritual, e não fomentar polêmicas, que tendem a ofensas e discussões infrutíferas, não publicarei comentários deste teor, tão pouco comentários com linguagem desrespeitosa. Grato pela compreensão.

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