SANTIFICA-OS NA TUA VERDADE – Manoel Coelho Jr. João 17: 17-19.


Neste trecho, nas palavras de William Hendriksen, chegamos ao lado positivo da solicitação de Nosso Senhor. Cristo orou não somente para que os discípulos fossem guardados do maligno, como vimos nas exposições anteriores, mas para que também fossem santificados. Eis as faces de uma mesma moeda. Por um lado, há proteção das influências do mal. Por outro, há o fortalecimento do que é justo e bom (Jo 17: 15 e 17). Temos aqui, portanto, um pedido de Cristo ao Pai para que o caráter cristão fosse formado neles. Trata-se da santificação, que é um processo para toda a vida, quando o cristão vai sendo moldado à semelhança de Cristo em suas atitudes e obras, “mais e mais de acordo com a Lei de Deus” (Hendriksen). O cristão é justificado em Cristo quando crê (Rm 5). Todavia, isso não é tudo o que ocorre. Inicia-se imediatamente a santificação (Rm 6), que prosseguirá e será implementada por instrumento específico, o qual também Cristo solicita, como vamos estudar (verso 17). Porém, notamos no mesmo trecho, que a santificação se refere, além disso, ao envio ao mundo, à consagração para a missão de testemunhar sobre Cristo. Na medida que o caráter é moldado, os discípulos devem cumprir esta missão de ir ao mundo. É interessante apontarmos, em conexão com estas verdades, o que nos diz outro erudito cristão sobre a relação dos discípulos com este mundo, que é a humanidade caída e alienada de Deus em Adão: “os discípulos foram dados pelo Pai a Cristo, ‘procedentes do mundo’ (v. 6), e ‘não são mais do mundo’ (vv. 14 e 16), apesar de ‘continuarem no mundo' (v. 11) e não serem imediatamente tirados dele (v.15)” F. F. Bruce. Assim, eles são retirados do mundo para pertencerem a Cristo, e não mais ao mundo. Porém, não são levados ao céu imediatamente, mas permanecem, sendo, então, enviados ao mesmo mundo com uma missão. Vamos entender melhor estas coisas nos próximos pontos:
I - Santificados na verdade (Verso 17).
A santificação que Nosso Senhor solicita ao Pai, vem por um instrumento específico, que também aparece na mesma solicitação. Trata-se da verdade. É pela verdade que eles serão santificados. Porém não se refere a qualquer verdade. Não é meramente a verdade filosófica ou científica, ainda que haja verdades nestes campos pela graça comum de Deus. O que Jesus chama de verdade é a que se refere a Ele próprio. Jesus é a Verdade, o Verbo de Deus, o que nos trouxe o conhecimento de Deus, de nossos pecados, e da Redenção (João 14: 14: 6). Sem o conhecimento da Verdade, que é Cristo, não há santificação, pois os homens permanecem, neste caso, na mentira e engano do pecado.
Mas onde encontramos a verdade? Ou perguntando mais conforme texto: O que é a verdade? Jesus mesmo diz: “a tua Palavra é a verdade”. A Palavra de Pai, que Jesus trouxe e os discípulos receberam (versos 8 e 14), é a verdade. Pela Palavra os discípulos vão sendo santificados, pois é ela que revela os seus pecados, e a Cristo, que é nossa sabedoria, justiça, santificação e redenção (I Co 1: 30, 31). É na medida que os cristão ouvem e crêem na Palavra de Deus que vão se arrependendo, buscando em Cristo a vitória sobre seus pecados, sendo então santificados. Assim, a santificação vem somente pela verdade, que é a Palavra de Deus. Daí a importância da meditação diária nas Escrituras, e a exposição regular à fiel pregação no domingo, dia do Senhor (Jo 17: 17; Sl 1: 1, 2; II Tm 4: 1, 2). A Palavra santifica porque aponta a verdade, que é Cristo. Todavia, onde a Palavra de Deus não mostra a Verdade e santifica, o pecado engana e corrompe.
II - Enviados ao mundo (Verso 18).
Como vimos na introdução, a santificação solicitada por Cristo também diz respeito à missão, que é dar testemunho sobre Cristo (Jo 15: 26, 27; 20: 21-23), pois Cristo diz que os envia ao mundo. Na medida que o caráter cristão é moldado, os discípulos devem cumprir esta missão de ir ao mundo e testemunhar. Porém, primeiro precisamos observar que estas palavras são referentes primordialmente aos apóstolos, ou seja, aos onze. Eles, juntos a Matias e Paulo, seriam os que proclamariam inicialmente a Cristo como testemunhas oculares, no poder do Espírito, sendo o fundamento da Igreja, do qual Cristo é a pedra da esquina (Jo 15: 26, 27; Atos 1: 21-26, 9: 11-16; Ef 2: 20-21). No entanto essa missão também deve se referir a todos os discípulos, pois à Igreja em geral foi dada a tarefa de ser sal e luz, proclamando por palavras e obras a esperança em Cristo (Mt 5: 13-16; 28: 19-20; I Pe 3: 15, 16). Assim, todos os cristão têm a missão de anunciar a Cristo com suas vidas, para que outros, como resultado do testemunho, também venham e creiam em Jesus, sendo retirados do mundo, e por sua vez, também enviados ao mesmo mundo, reiniciando-se, então, o processo.
Mas não podemos esquecer que tal missão é comparada por Nosso Senhor neste texto, com a sua própria missão de vir ao mundo. Ele, em seu estado de humilhação, revestido de humanidade, estava com uma missão ao mundo da parte do Pai. Qual foi a missão de Cristo? Trazer a verdade sobre Deus, a Palavra de Deus. Ele é a Verdade, o Verbo (João 1: 1-5, 14, 18; 3: 12, 13; 14: 6, 8-11; 17: 8, 14) . Agora, quando Ele está voltando para o Pai como aquele que cumpriu tal gloriosa missão (João 17: 4, 5), por sua vez envia seus discípulos para também proclamarem a mesma Palavra de Deus, que é a verdade, que é Jesus. Aqui está o paralelo entre a missão de Cristo e a de todos os discípulos. Como Cristo foi enviado para trazer a Palavra do Pai, sendo Ele mesmo a Palavra, o Verbo de Deus, os discípulos também devem proclamar a mesma Palavra ao mundo, a Palavra de Deus. Devem, portanto, proclamar a Cristo. Esta é sua missão. Que privilégio!
III - Santificados em Cristo (Verso 19).
Cristo mostra no verso 18 que a santificação dos seus amados está totalmente atrelada a sua própria santificação. Ou seja, a santificação dos discípulos depende completamente da santificação de Cristo. Ele se santifica para que eles sejam santificados na verdade. Mas em que sentido Cristo se santifica? Jamais pode ser no sentido de um processo, como no nosso caso, em que cada vez mais nos tornamos obedientes à Lei, pois Nosso Senhor é perfeito homem, obedecendo totalmente a Lei (Mt 5: 17-20). Cristo não precisa de aperfeiçoamento, pois já é perfeito. Não precisa de santificação nesse sentido, visto que é Deus-homem, nascido de uma virgem por um milagre do Espírito Santo, sendo Santo Filho de Deus (Lc 1: 35). Então em que sentido Cristo se santifica? Obviamente aqui está em destaque a sua auto-consagração à missão que o Pai lhe concedeu de salvar os que lhe foram dados como seus discípulos. Cristo nasceu Santo, viveu uma vida santa, sendo o apropriado e santo cordeiro de Deus que foi sacrificado pelo pecado do mundo, que tira assim o pecado do mundo (Jo 1: 29-32, 36; Hb 7: 24-28). Dessa forma “O Senhor Jesus, pela SUA PERFEITA OBEDIÊNCIA E SACRIFÍCIO DE SI MESMO, QUE ELE, PELO ESPÍRITO ETERNO, UMA VEZ OFERECEU A DEUS, satisfez plenamente a justiça de Deus; obteve a reconciliação e adquiriu uma herança eterna no reino dos Céus, para todos quantos foram dados a Ele pelo Pai” (Confissão de Fé Batista de 1689, Capítulo VIII, quinto parágrafo). Cristo Jesus é o Sumo-sacerdote tipificado no Antigo Testamento. Mas além de ser o Sumo-sacerdote, Ele mesmo é a vítima que deve ser sacrificada, que se entregou voluntariamente, e pelo Seu Sangue temos perdão de nossos pecados e reconciliação com Deus (Hb 9: 11-15). Por isso, Cristo teve de ser santificado neste sentido, para que hoje seus discípulos pudessem ser santificados, pois por causa dEle e de Sua Obra eles recebem justificação e o Espírito Santo, que os santifica e os capacita para a missão de testemunhar (Ro 8: 1- 14; Jo 15: 26, 27).
Isso mostra que jamais a santificação, no sentido do Novo Testamento, é independente da Obra de Cristo. Não se pode alcançá-la antes que Cristo salve a pessoa, sem que seja justificada nEle e receba o Espírito Santo. Sem Cristo qualquer coisa que se chame de santificação, não passa de um moralismo ineficaz, ou de farisaísmo hipócrita (Cl 2: 18-23). Os cristãos genuínos devem sempre prosseguir em santificação, portanto, confiando em Cristo, “o qual para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção; Para que, como está escrito: Aquele que se gloria glorie-se no Senhor” (I Co 1: 30, 31). Além disso, não somente santificação do caráter depende de Cristo, mas também a consagração para a missão de testemunhar é possível somente por causa dEle, que envia o Espírito, Aquele que testifica pelos seus discípulos.
IV - Conselhos:
1 - Cresçamos em santidade pela Verdade, que é a Palavra de Deus. Busquemos a Palavra, lendo, ouvindo e meditando, aplicando-a às nossas vidas, nos arrependendo de nossos pecados. E olhando para Cristo em fé, obedeçamos! Lembremos: A santificação vem somente pela verdade, que é a Palavra de Deus. Daí a importância da meditação diária nas Escrituras, e a exposição regular à fiel pregação no domingo, dia do Senhor (Jo 17: 17; Sl 1: 1, 2; II Tm 4: 1, 2).
2 - Exerçamos nossa missão no mundo. Fomos separados e consagrados pelo Senhor para testemunhar ao mundo sobre Cristo em nossa vida e palavras. A santificação também está relacionada a ela. Na medida que vamos sendo moldados à imagem de Cristo, devemos falar da razão da esperança que há em nós (Leia I Pe 3: 8-17).
3 - Lembremos que a santificação de nosso caráter, e a missão de testemunhar, são possíveis somente em Cristo. Devemos, portanto, progredir na vida cristã olhando e dependendo sempre dEle em fé, e nunca de nossos próprios recursos humanos. Guardemos isso: Sem Cristo qualquer coisa que se chame de santificação, não passa de um moralismo ineficaz, ou de farisaísmo hipócrita (Cl 2: 18-23).
4 - Oremos pela nossa santificação e de nossos irmãos conhecidos e dos crentes em geral, confiando que o Pai nos ouvirá, pois é uma solicitação de Seu Filho. Oremos também pela libertação daqueles que conhecemos que ainda estão em incredulidade, dominados por seus pecados, escravizados, sem conhecer a verdade. Que o Senhor tenha misericórdia deles, e os justifique e santifique em Seu Filho, pela verdade que é a Palavra de Deus.

*Esboço do sermão do dia do Senhor, 12 de junho de 2022.

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