Bolsonarismo e os Cinco Solas - Manoel Coelho Jr.

Há uma reação equivocada dos cristãos, e mesmo, infelizmente, dos reformados em geral, em relação a questão política em nossos dias. Descobrimos isso ao fazermos um paralelo entre o procedimento apostólico na Igreja Primitiva diante das culturas de seu tempo, e a situação atual. Ante o judaísmo e paganismo, os apóstolos não se submeteram a nenhumas daquelas culturas, mas as avaliaram pelo cristianismo bíblico, seguindo a cosmovisão cristã.  Ainda que tivessem similaridades com o judaísmo, como o monoteísmo e a crença no Antigo Testamento, os apóstolos e primeiros cristãos, não se deixaram dominar por tais similaridades, mas avaliaram tudo pelo ensino de Cristo, percebendo então as distorções pecaminosas da tradição judaica, seguindo apenas a Cristo, implementado a Cultura Cristã, pregando o Evangelho, sendo sal e luz. O mesmo fizeram com o paganismo, que estava ainda mais distante deles culturalmente. 

A questão é que Cristianismo é avaliar as culturas pela Revelação, e não assumir um pacote cultural devido a similaridades, pois ainda que estas existam, estão cheias de injustiça e pecado, podendo desfigurar a fé cristã, se o pacote for assumido como cristão. Creio que aqui está a falha atual. Os cristãos atuais assumiram a "direita bolsonarista" como cristã e a esquerda como anticristã, e avaliam tudo nesta base. Ainda que a esquerda seja anticristã em muitos aspectos, assumir a "direita bolsonarista" como cristã de forma inocente e acrítica, é sair do princípio apostólico de avaliar tudo pelo cristianismo bíblico, comprando um pacote, desfigurado o próprio cristianismo, finalmente. 

Daí que neste caso o movimento de reforma estará ameaçado, pois abandona-se o "Soli Deo Gloria" pela glória do político preferido, do grupo, partido, ou ideologia. Abandona-se também o "Sola Scriptura", pois a Bíblia não é mais a julgadora da situação, mas a sim, a palavra e as atitudes do líder, ou as ideias e narrativas que o grupo crê e espalha. Vinculado a isso está a confiança no que é meramente humano, no que o homem é capaz de fazer. Se confiamos na ideologia ou no político que a personifica, a consequência é que nossa confiança está posta no homem, o que é próprio a toda a espécie de idolatria. Logo quebra-se também o princípio do "Sola Gratia", pois não se espera mais em Deus e sim no homem, como também anula-se um dos Cinco Pontos do Calvinismo, isto é, a depravação total, visto que confia-se nos "recursos" que estão em Adão, e não em Cristo. A consequência será o afastamento do "Solus Chistus", e do "Sola Fide", como é característico de toda a religiosidade humana. Tristemente em todo este processo não se está glorificando a Deus, nem mesmo buscando sua glória em algum sentido genuíno, mas a glória do ídolo humano. No entanto, o que é mais dramático, isso vem disfarçado de culto a Deus, pois a idolatria é um poder mui obscurecedor, que disfarça em adoração genuína. Concluímos que o Bolsonarismo é Antirreforma, é incompatível e venenoso para o Movimento Reformado. Assim exorto: Avaliemos tudo pelo cristianismo bíblico. Glorifiquemos a Deus.

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