As Verdadeiras Boas Obras – Manoel Coelho Jr.



Pregação do Culto da manhã de Primeiro de Abril de 2018 na Congregação Batista Reformada em Belém. Transcrição por Adriane Oliveira. Edição por Manoel Coelho Jr. Leia e medite.


Vamos abrir nossas Bíblias nos seguintes textos:


E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”.

Mateus 15:6-9

Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”.

Efésios 2:8-10

Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

Mateus 5:13-16

Os reis da terra se levantam e os governos consultam juntamente contra o Senhor e contra o seu ungido, dizendo: Rompamos as suas ataduras, e sacudamos de nós as suas cordas”.

Salmos 2:2,3

Servi ao Senhor com temor, e alegrai-vos com tremor”.

Salmos 2:11

Bem define a Confissão de Fé Batista de 1689, no capítulo sobre as Boas Obras, 1° seção:

Boas obras são somente aquelas que Deus ordenou em Sua santa palavra, e não as que, sem autoridade dela, são realizadas por homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção”.

A Fé Reformada e Bíblica crê piamente que toda a Escritura é divinamente inspirada, a fim de que todo o crente seja “perfeitamente instruído para toda a boa obra”, segundo as palavras do apóstolo Paulo, em 2 Timóteo. Seguindo este princípio bíblico, a Confissão nos dá neste parágrafo uma breve definição das verdadeiras boas obras como sendo somente aquelas que o Senhor prescreveu em Sua palavra, em contraste com um conceito muito presente no seio das igrejas de nossos dias e nas mais variadas religiões, embora quase imperceptível, que considera como “boas obras” quaisquer ações praticadas por homens movidos por um zelo cego ou sob qualquer outro pretexto de boa intenção, ainda que não tenha sido orientada pelas Escrituras Sagradas e, em muitos casos, sejam contrárias a ela.

A Confissão de Fé Batista de 1689 foi muito relevante no contexto histórico em que foi criada, de luta contra a Igreja Romana, a qual baseava muitas de suas doutrinas na prática de “boas obras” que não haviam sido prescritas por Deus, em Sua palavra. Em nosso tempo não é diferente, pois o falso conceito de boas obras está presente, tanto no meio religioso e denominacional, quanto no meio secular e ateu de nossos dias. O ateísmo é aclamado por grande parte de nossa sociedade, onde os sábios, os intelectuais, os filósofos modernos dizem: “Nós não precisamos de religião, não precisamos de Deus”. Deus é desconsiderado no meio universitário, na academia, na ciência em nome de um “progresso”, de um “mundo melhor”, em nome de um “zelo” cego, sob pretexto de “boa intenção”. E isso também é religião. O ateu é um homem religioso. Quando você tira Deus da discussão, você está criando outra religião, você está adorando outra coisa, há outro criador, há outro mantenedor, existe outro motivo de tudo ser como é, e para isso você precisa ter fé, e para ser sincero, é necessário muita "fé" para não crer em Deus.

Em nome de “boa intenção”, muitos têm defendido o aborto, o casamento homossexual, a proibição da disciplina dos pais aos filhos, afinal, é em nome da “tolerância”, do “respeito”, do “amor” que tudo isso é anunciado. Em nome de “boa intenção”, muitos religiosos têm pregado uma teologia de riquezas, de bens materiais, de prosperidade, de conforto neste mundo, de status, de poder humano, ainda que Cristo tenha anunciado outra mensagem, ainda que sejamos chamados à renúncia todos os dias. Sob pretexto de “boa intenção” lhes têm sido agradável pregar um evangelho de bonanças terrenas. Tudo isso têm sido muito sutil e perigoso. Estes proclamadores se revelam de “boa aparência”, com discursos bonitos, apaziguadores e agradáveis, e em nome do “bem”, defendido em todas as partes tão firme e religiosamente, reputam qualquer um que deles discorda como “maligno e perverso”.

Quando falamos de Reforma desejamos um retorno aos pilares bíblicos, uma volta aos firmes fundamentos das Escrituras, de forma a vivermos de maneira correta, guiados pelas verdadeiras doutrinas. A igreja contemporânea se encontra em um momento muito delicado, no qual ela precisa remoldar-se a estes padrões bíblicos, adequar-se firmemente às Escrituras e, então, posicionar-se, resoluta e claramente, em defesa do cristianismo, ainda que existam poderosíssimas pressões que nos cerquem no meio religioso, político ou dito científico, ainda que na defesa das doutrinas, da moral e dos costumes cristãos, percamos nossa própria vida, como já têm acontecido em muitos países. Ainda que, sob pretexto de um “zelo cego”, nos considerem como empecilho para promover o “bem” da sociedade, resistamos pelo bem real, Bem Supremo, isto é, Cristo. É tempo de defendermos corajosamente o que é certo, o que é bom, o Evangelho, a doutrina e a prática cristã genuína. E, portanto, devemos nos acautelar quanto ao perigo do engano, buscando continuamente o pleno discernimento entre a genuína prática das boas obras em relação as falsas “boas obras”. Como a Confissão de fé bem definiu, ainda que esses tais sejam extremamente zelosos, dedicados e sinceros, estão cegos, e, portanto, as suas aparentes “boas obras” produzirão um danoso efeito à sociedade.

Com a graça de Deus desejo instruí-los nestas verdades bíblicas, alertando-lhes sobre o trágico efeito da distorção do conceito de “boas obras” que temos vivido em nosso país. Só pra dar-lhes um exemplo bem próximo a nós, lembro essa onda de assassinatos no Estado do Pará. Desde 2014 inúmeras pessoas foram executadas na rua, e no Brasil são por volta de 60.000 assassinatos por ano. A maioria nunca é investigada, nunca ninguém é condenado. Este caos que nós estamos vivendo se dá porque muitos têm defendido as tais “boas obras”, e a população inteira está sendo afetada por isso, morrendo e sendo destruída. Sim, famílias estão sendo destruídas. E nós temos que nos levantar e dizer: Não vamos aceitar isso. Nós vamos defender e viver as verdadeiras boas obras que estão prescritas na Palavra de Deus.

Assim, eu dividirei este assunto em quatro partes:

Primeiro, sobre a falsa prática das boas obras.

Segundo, sobre as verdadeiras boas obras.

Terceiro, darei alguns exemplos práticos dentro de nosso país.

Quarto, procurarei mostrar que somente por meio da Cruz redentora de Cristo podemos praticar as verdadeiras boas obras. Só o Evangelho nos dá a conhecer verdadeiramente o que são boas obras.



I – A falsa prática das boas obras.

Então vamos começar a entender sobre as falsas boas obras. Observemos o que está escrito na Palavra de Deus:

E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela”.


Gênesis 3:6.


Em toda a Escritura existe um padrão de falsas boas obras, o qual também ocorre e pode ser discernida em nossas vidas o tempo todo, e se evidenciou primeiramente já na própria Queda. Eva, antes de pecar foi levada e motivada a agir daquela maneira. Algo aconteceu nela que a levou a considerar o pecado como uma “boa ação”. Houve uma sucessão de fatos: Primeiro, ela viu que aquela árvore era boa para se comer. Logo após, ela viu que o fruto desta árvore era agradável aos olhos e desejável para dar entendimento, e então, concluiu que deveria tomar do fruto e comer, não somente ela, mas também seu marido, Adão. Portanto, antes de qualquer manifestação prática sempre há uma motivação interna, uma ponderação, uma reflexão, um raciocínio. E, como Eva influenciou Adão, a prática de determinado homem pode influenciar seus próximos ao mesmo comportamento. Como dizia um pastor reformado: “Seja amigo de quem é amigo de Jesus”, reafirmando o que a própria Bíblia ensina, sobre o poder de influência das amizades, seja positiva ou negativamente.


O que desejo enfatizar é que, quando Eva pegou o fruto, ela pensou estar fazendo uma boa obra, afinal, o fruto da árvore seria muitíssimo benéfico para si própria e para Adão. Porém, o texto diz que não foi isso que aconteceu. No versículo 7 diz: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”. Ao comerem do fruto, perceberam que não lhes foi deleitoso, não sentiram paz ou alegria, mas sim incômodo por estarem nus, e tão pecaminoso, mal, vergonhoso, embaraçoso e infeliz era o que ocorrera, que esconderam-se de Deus. O que Eva considerou com plena convicção ser boa obra, o que creu que produziria benefícios, se revelou uma obra má que não lhe gerou bem algum. Ela fora enganada pelo Diabo. O texto nos diz do versículo 4 ao 5: “Então a serpente disse à mulher: Certamente não morrereis. Porque Deus sabe que no dia em que dele comerdes se abrirão os vossos olhos, e sereis como Deus, sabendo o bem e o mal”. Observamos claramente que a fonte de todo o engano desde o princípio foi a palavra do Diabo. E observamos, mais claramente ainda, o argumento de Satanás, de que melhor seria libertar-se de Deus, afinal, Ele os impedia de obter o pleno conhecimento da realidade. O engano de Satanás estava em convencê-los de que aquilo lhes seria bom, produtivo, enfim, benéfico.


A Bíblia, em Gênesis, começa nos instruindo sobre o perigo de ouvir a voz de Satanás, do pai da mentira, pois a sua mentira produz morte, como Jesus o chama “mentiroso e homicida desde o princípio” (Jo 8:44). Ele matou a humanidade inteira, e era este o seu desejo enquanto convencia Eva de comer do fruto, embora o seu conselho aparentemente estava muito longe de lhes oferecer morte e destruição. Note que a Bíblia é muito clara sobre a fonte de confusão entre boas e más obras, de forma a que venhamos considerar más obras como boas obras e vice-versa. A fonte é a influência do diabo, a palavra do maligno. Enquanto que as pessoas nas igrejas ficam muito preocupadas com possessões demoníacas, esquecem que o Diabo tem convencido a muitos por meio da mentira. A arma dele é o engano.


Mas quero apresentar-lhes uma segunda fonte de engano e mentira:


Porque Deus ordenou, dizendo: Honra a teu pai e a tua mãe; e: Quem maldisser ao pai ou à mãe, certamente morrerá”.


Mateus 15:4.


Deus ordenou isso nos 10 mandamentos, e é enfatizado em outras partes das Escrituras.


Mas vós dizeis: Qualquer que disser ao pai ou à mãe: É oferta ao Senhor o que poderias aproveitar de mim; esse não precisa h:onrar nem a seu pai nem a sua mãe”.


Mateus 15:5.


Os religiosos da época de Jesus haviam inventado uma lei que dizia ser dispensável satisfazer as necessidades de seus pais até a velhice, desde que ofertassem a Deus e declarassem seus bens como “corbã” (do grego kor-bán), uma oferta dedicada ao Templo, desconsiderando por meio de sua lei o requisito divino de honrar pai e mãe.


E assim invalidastes, pela vossa tradição, o mandamento de Deus. Hipócritas, bem profetizou Isaías a vosso respeito, dizendo: Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens”.


Mateus 15:6-9.


Observe que tal prática consistia em uma lei humana de caráter piedoso, seu princípio era “ofertar ao Senhor”, parecia uma boa obra, porém, não passava de uma compensação pelo fato de estarem negligenciando uma lei divina, não honrando pai e mãe. Ainda que estivessem convencidos de que era uma boa obra, não passava de uma lei criada por homens, e, inclusive, era contrária a vontade prescrita de Deus nos dez mandamentos. Existe engano e falsidade tanto da parte de quem inventa tais leis, quanto da parte de quem as pratica. Jesus considera aqueles homens que se submetiam a estas recomendações humanas, não como inocentes, mas como “hipócritas”, pois, ainda que O honrassem com os lábios, o seu coração estava longe Dele. O coração humano é enganoso.


No evangelho de João, Jesus aplica o princípio de Gênesis 3, que revela o engano do Diabo, juntamente ao princípio de Mateus 15, que revela o coração enganoso do homem, e ensina: “Porque eu digo a verdade, vocês não creem em mim, mas vocês seguem o pai de vocês, o Diabo” (Leia Jo 8:37-47). Existe uma certa harmonia maligna entre o coração dos homens depois da queda e a palavra mentirosa de Satanás; entre o coração não regenerado, no caso dos ímpios, ou no caso dos cristãos, entre a natureza pecaminosa e o Diabo, levando-os a praticar más obras como se fossem boas obras. Assim, permita-me dizer-lhe uma coisa: Se não for a Graça de Deus, se não for o Poder do Espírito Santo nos iluminando e nos conduzindo em sabedoria bíblica, seguiremos a vontade do Diabo com pés ávidos que correm para o mal, apressados em derramar sangue (Pv 1:16). Só o poder regenerador e santificador do Espírito Santo pode nos livrar de nós mesmo.


Observe que baseado nas Escrituras tratei de duas fontes de engano: O Diabo e o próprio coração humano. Sendo assim, destaco quatro aplicações práticas encontradas nestes dois textos:


Primeiro, existem duas fontes de engano: o Diabo e o coração do homem, e que, de certa forma, agem juntas e em perfeita harmonia, invertendo o conceito de boas obras, considerando mal como bem, e vice e versa.


Segundo, ambas as coisas produzem uma ilusão muito grande, o que é evidente tanto no caso de Eva, que a levou a desobedecer a ordem dada por Deus, quanto no caso dos religiosos da época de Jesus que perguntaram a Ele: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? pois não lavam as mãos quando comem pão” (Mt 15:2).


Ora, os fariseus estavam defendendo uma tradição que não condizia com a Palavra de Deus. Esta é a religião humana, que não trata do coração, que consiste apenas em práticas mortas e em rituais religiosos. Jesus os advertiu, ensinando-lhes que não era o comer de mãos sujas que contaminava o homem, mas sim, a fonte de contaminação oculta em seu coração. Em resposta, Ele lhes dirige outra pergunta: “Por que transgredis vós, também, o mandamento de Deus pela vossa tradição?”, ou seja, a tradição daqueles homens os levava contra Lei de Deus. Observe que eles estavam tão iludidos com aquela tradição que confrontavam O Verbo, O próprio Deus encarnado, Jesus Cristo, aquele que é a Palavra. Quão densas trevas cercam a mente humana dominada pela ilusão do Diabo e do seu próprio coração enganoso! Por isso que Jesus chama o Espírito Santo de Deus de “Espírito da Verdade”, o “Espírito que ilumina”, porque sem a poderosa obra do Espírito Santo, os homens não podem sair da terrível ilusão do pecado.


Em terceiro, tudo isso afronta Deus, e este é o problema. Ainda que, “sob pretexto de boa intenção”, Eva tivesse comido o fruto, ela afrontou a Deus. O seu feito foi um declaração de seu desprezo a vontade de Deus e de obediência a Satanás. Os fariseus e os escribas de Mateus 15 também fizeram algo contrário a vontade de Deus, pois em seu íntimo não desejavam honrar a Deus, ainda que o dissessem. Aqui está o problema, essas “boas obras” são uma afronta ao Senhor Deus, Todo Poderoso.


Em quarto e último lugar, elas são mortais. Não existe neutralidade. Ninguém é neutro no universo, ou seja, ou nossas obras vivificam os nossos próximos ou os matam. Se eu não sou um homem convertido, ou ainda que eu seja, mas se eu estiver vivendo em pecado, se eu estiver iludido pelo meu próprio coração e pela mentira de Satanás, se eu estiver afrontando a Deus, eu estarei matando não só a mim mesmo, como também quem está próximo a mim. Quando alguém peca destrói a vida de outros em algum sentido e grau. Quando Eva pegou o fruto e deu a Adão, ela matou não somente a Adão, mas a todos os que viriam após eles, toda a raça humana, pois ele era o cabeça federal, tanto que quando Deus vem a eles depois de terem cometido o pecado, Ele não questiona Eva, mas sim, Adão. Afinal, ele tinha que defender Eva, tinha que a impedir tamanha loucura, mas ao contrário, caiu junto com Eva, e todos nós caímos em Adão. Este é o princípio: Toda vez que agimos mal, que pecamos, nós prejudicamos os que estão em nossa volta. E quanto mais próximos de nós, mais prejudicados serão.


Você que é casado ou que pensa em casar, você que tem filhos, irmãos, família, pessoas próximas a você, entenda que, ou a sua vida os está vivificando, ou os está matando, e quanto mais próximo de você, maior é a sua influência sobre esta pessoa para o bem ou para o mal. Quantos pais hoje dizem que amam os filhos, mas não os disciplinam, não os educam, criam uma idolatria materialista para os filhos, tentam trazer para a igreja, mas não têm uma dedicação, um zelo em conduzi-los à piedade? Quantos pais mataram seus filhos, não com facas, não com armas, mas com suas vidas, pelos seus péssimos exemplos, e pelas suas más obras, afastando-os de Cristo?


Tudo isso consiste em uma questão bem prática de influência benéfica ou maléfica. Se você não vive uma vida santa, se você não vive uma vida que produz as verdadeiras boas obras, quão penoso será para aquele que vive próximo a você, quão danoso você será a ele, por mais que você diga que o ama. A Bíblia mostra isso claramente em Mateus 15. Aqueles religiosos que seguiam aquela lei humana que, sob pretexto de já terem “ofertado a Deus” os seus bens, se sentiam desobrigados em suprir as necessidades de seus pais, prejudicavam muitíssimo os seus próximos mais próximos.


Em resumo, existem quatro verdades sobre a questão das falsas obras: Primeiro, elas provém do Diabo ou do próprio coração do homem. Segundo, elas iludem. Terceiro, elas afrontam a Deus. Quarto, elas matam.



II – As verdadeiras boas obras.


Quanto às boas obras, desejo destacar um primeiro princípio: Ao contrário das falsas boas obras, que provém do Diabo e do coração do homem, mais especificamente do vínculo de ambas, as verdadeiras boas obras provém de Deus, de Sua Sábia instrução. Ele determina o que é bom e o que é mal. Ele é a fonte de toda boa obra. Os dez mandamentos provam isso. Êxodo 20 começa dizendo “então falou Deus todas estas palavras”, onde Deus se identifica como o autor de todas aquelas prescrições. Nelas, o Senhor nos instrui de que modo devemos viver, não sendo uma aplicação somente ao povo de Israel, mas a todos os crentes, em todos os tempos. O primeiro mandamento diz: “Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim”. Neste mandamento está contido o princípio para todos os outros.


O segundo princípio que desejo destacar é que as verdadeiras boas obras glorificam a Deus e, portanto, cumprem o primeiro mandamento e todos os demais. Observe que, enquanto as falsas boas obras são uma afronta a Deus, as verdadeiras boas obras O glorificam. Portanto, devemos adorar somente a Ele, não produzindo e adorando imagens ou esculturas. Não usemos também Seu Santíssimo nome em piadinhas, nem O desonremos considerando-nos obedientes à Sua Lei, mas vivendo uma vida que O afronta. Guardemos o Seu dia com zelo, para ouvir a Sua palavra, para O adorar, para ter comunhão com os irmãos. Assim Ele é glorificado.


Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.


Mateus 5:13-16.


O terceiro princípio que desejo destacar é que as boas obras são realistas. Tanto a ilusão de Eva quanto a ilusão dos escribas de Mateus 15 tinham algo em comum. Ambas não estavam levando Deus em consideração. O ateísmo prático, que inclusive estudamos no Salmo 53 e Salmo 14 em nosso cultos de oração, e que na verdade são o mesmo salmo, pois bem, este ateísmo prático ocorre quando alguém vive como se Deus não existisse. Tal pessoa O despreza como se não fosse o Criador do Universo. As boas obras glorificam a Deus, e portanto, se conformam a realidade de que “os mundos pela palavra de Deus foram criados” (Hb 11:3).


E, finalmente, o quarto ponto que desejo destacar sobre as boas obras é que elas são vivificadoras. Quando amamos a Deus, nos amamos e amamos nossos próximos. Assim, todos são verdadeiramente beneficiados. Por isso Jesus resumiu a lei em dois mandamentos: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. Baseado nisso, o apóstolo Paulo disse que aquele que ama a sua esposa, deve amá-la como sendo sua própria carne, afinal ninguém faz mal a si mesmo (Ef 5:28, 29). O amor por Deus nos capacita a amar o nosso próximo.


Observe os mandamentos dados por Deus em Êxodo 20, a partir do versículo 12. Perceba quão benéfico é um homem que honra pai e mãe, pois se deleita em auxiliá-los; que não derrama sangue inocente, e não é um assassino; que ama fielmente a sua esposa e respeita a mulher de seu próximo, e não adultera; que é grato pelos meios que Deus lhe concede para alcançar seu sustento, sendo um homem íntegro e justo, respeitando os bens do seu próximo, não furtando; que ama seus próximos de forma a não caluniá-los, e nem destruir sua reputação dizendo falso testemunho contra eles; e que se deleita na provisão do Senhor e, portanto, não cobiça os bens do seu próximo, mas vive contente com os benefícios que Deus lhe concede. Ora, todos estes mandamentos são vivificadores, pois quando eu os cumpro estou promovendo o bem do meu próximo.


Resumindo, existem quatro verdades sobre as verdadeiras boas obras: Primeiro, elas vem de Deus, da Sua palavra. Segundo, elas glorificam a Deus. Terceiro, elas são realistas. Quarto, elas são vivificadoras.


Perceba que não é uma coisa pelo qual devemos ser indiferentes, não é uma coisa em que possamos agir com leviandade. Está no cerne da santificação, do temor a Deus, da genuína vida cristã, do verdadeiro evangelho.




III – Exemplos práticos em nosso país.


Observemos agora alguns exemplos práticos em nosso país para pensarmos e meditarmos um pouco dentro da situação contemporânea. Depois desejo finalizar falando da cruz, de onde vem a solução de todos esses problemas.


Eu gostaria de falar rapidamente sobre a questão dos revolucionários de nosso tempo, que estão na grande mídia, que estão na política, que estão nas universidades, na intelectualidade, na literatura, afinal. Como revolucionários eles deixam a entender que tudo que existe tem que ser destruído porque é mau. Portanto, a família tem que ser revista, o casamento tem que ser revisto, os conceitos antigos que fundamentam a sociedade têm que serem revistos porque são maus. Dentro deste aspecto desejo enfatizar alguns temas bem atuais, e que nós cristãos devemos sempre ter um posicionamento muito firme.


Uma pessoa que defende o aborto não o vê como uma coisa má. Mas eu quero enfatizar que tal pessoa não pode ser cristã, pois o aborto não condiz com o cristianismo, visto que, não deixa de ser uma defesa ao assassinato. Permita-me dar-lhe um exemplo: Se tiver um prédio a ser derrubado por implosão, e houver dúvidas se há uma pessoa dentro do prédio, alguém optaria por derrubá-lo? É evidente que não! A dúvida a respeito da existência de uma vida humana imediatamente proíbe a ação. Ora, como nunca se provará que aquele ser que está em formação, o feto, não é um ser humano vivo, que não tem a essência humana, o que seria o aborto se não um terrível e infame ato assassino contra um ser inocente e indefeso? Os abortistas não podem responder isso. Eles não encaram esta realidade, mas tentando se esquivar da questão fundamental, dizem que tal ato é coisa necessária para o bem das mulheres; manipulam estatísticas afirmando que há muitas delas morrendo em abortos ilegais no Brasil, que é preciso “discutir sobre aborto”. Mas eu lhes pergunto: É preciso discutir se é certo ou não matar pessoas? Todo mundo sabe que é errado matar, portanto, aborto não se discute. Qualquer pessoa com um mínimo senso moral dirá ser contra o aborto, sem discussão. Não, não e não, não há o que discutir. Matar sempre é errado e perverso, sempre absolutamente errado e perverso!


Observe que os abortistas já começam confrontando as ideias contrárias às deles com mentiras, colocando a possibilidade de que aquilo seja debatido quando não se tem o que debater, pois, não há como discutir o assassinato de uma pessoa. Eles dizem “inúmeras mulheres estão morrendo em lugares clandestinos”. E quem morre? Eles dizem: “As negras, as pobres e desfavorecidas”. É fumaça para encobrir a realidade de que aquilo é um assassinato.


Sobre o casamento homossexual os revolucionários dizem: “Temos que pensar nas minorias”, e “Porque dois homens não podem ter o mesmo direito que um homem e uma mulher?”, “eles tem quer ter os mesmos direitos!”. Mas, primeiramente, o que é o casamento? Descubramos com Aquele que o instituiu. A Escritura mostra que Deus criou o Casamento como uma união entre um homem e uma mulher a fim de serem uma só carne. É impossível unir dois homens em matrimônio. É física e emocionalmente incompatível. Observe que Deus viu que o homem não estava bem sozinho e, portanto, lhe fez uma auxiliadora idônea, própria para ele, ele fez uma mulher. Portanto, não dá pra unir dois homens e chamar isto de casamento, pois não será. A Bíblia claramente mostra que isso é abominação (Lv 18:22) , confusão é.


Toda a estrutura bíblica é vivificadora. Você tem um pai, uma mãe, e os filhos a serem criados sob esta união complementar. O homem como sendo o cabeça, liderando piedosamente a sua família. A mulher sendo submissa, auxiliando-o em nesta liderança, e as crianças crescendo naquele ambiente piedoso, estruturado, sendo copiosamente beneficiadas. Para exemplificar, observe as consequências que o ataque à aplicação da vara como meio de disciplinar os filhos têm gerado nas últimas décadas. O resultado é a rebeldia nas escolas, onde o professor não possui a mesma autoridade em sala de aula, refletindo o que têm ocorrido dentro das famílias, isto é, pais e mães que não conseguem controlar seus filhos. Esse caos se constituiu porque a estrutura familiar foi destruída em nome de uma “revolução progressista”. A mesma coisa, ou muito pior, vai acontecer na questão do casamento homossexual. Imagine você desconstruir uma estrutura que começa na Criação, e que protege e guarda a família, e desconstruir de forma tal nunca ocorrida antes em toda a história. Pense no caos que produzirá alterar toda a base da sociedade, a família, por causa de uma minoria que tem “direitos”. Em nome de uma minoria, se pretende destruir toda uma sociedade. É o que eles têm chamado de “boa obra”. Nós, como cristãos, temos que nos posicionar claramente contra todo esse tipo de “revolução social”. O homossexual não tem direito de casar. Não temos que apoiar nenhum tipo de reivindicação para uma coisa destas, pois é abominação, é destruir o casamento, é destruir a sociedade. Ainda que soframos por isso, somos chamados a “sermos participantes das aflições de Cristo, para que, também, na revelação de Sua glória regozijemo-nos e alegremo-nos” (1Pe 4:13). Não nos calaremos diante do “politicamente correto”, porque em nome disso a sociedade tem sido destruída. E nós não estamos aqui para agradar A, B ou C, mas estamos aqui para apregoar a Verdade dos Mandamentos Divinos, da Palavra de Deus.


Entrando no campo religioso, existe uma falsa boa obra muito presente nas igrejas contemporâneas: A teologia da prosperidade.


Novamente o transportou o diabo a um monte muito alto; e mostrou-lhe todos os reinos do mundo, e a glória deles. E disse-lhe: Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares”.


Mateus 4:8,9.


Quem foi o primeiro teólogo da prosperidade? Resposta: O Diabo. A sua audácia o levou a tentar o próprio Jesus, o Filho de Deus. E ele faz isso aos homens, prometendo dinheiro e bens a fim de levá-los a transgredirem a lei de Deus. As pessoas têm chamado de boa obra apregoar ideias como: “conquistar”, “Deus tem que me dar”, “eu não aceito isso”, considerando tudo isso como atos de “fé”, ou seja, boa obra.


Ora, o abortista diz que o que ele está fazendo é “boa obra” tanto quanto o que defende o casamento homossexual, como também o teólogo da prosperidade e seus seguidores. Mas na verdade tudo é falsa boa obra.


Vejamos outro exemplo:


E disse também esta parábola a uns que confiavam em si mesmos, crendo que eram justos, e desprezavam os outros: Dois homens subiram ao templo, para orar; um, fariseu, e o outro, publicano. O fariseu, estando em pé, orava consigo desta maneira: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo. O publicano, porém, estando em pé, de longe, nem ainda queria levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem misericórdia de mim, pecador! Digo-vos que este desceu justificado para sua casa, e não aquele; porque qualquer que a si mesmo se exalta será humilhado, e qualquer que a si mesmo se humilha será exaltado”.


Lucas 18:9-14.


Aqui está outro problema muito presente no meio religioso contemporâneo: A justiça própria.


Existem muitos outros semelhantes, mas eu estou apenas citando alguns exemplos mui brevemente, tanto no mundo ateu e secularizado, quanto no mundo chamado “cristão” ou “religioso”, a respeito de como o Diabo e o coração dos homens estão trabalhando. Nós temos que dizer abertamente que tudo isso consiste em falsas boas obras. Defender o aborto é falsa boa obra, tanto quanto defender o casamento homossexual, como defender ou crer na teologia da prosperidade ou crer na justiça própria. É tudo falsa boa obra. Afinal de contas, o fariseu dizia “ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros; nem ainda como este publicano. Jejuo duas vezes na semana, e dou os dízimos de tudo quanto possuo”. Falsa boa obra!


Algumas coisas até se contradizem, pois algumas pessoas que defendem a teologia da prosperidade vão se considerar aptas para combater os abortistas e outros grupos. Uma coisa ou outra é perniciosa, é destrutiva, está matando, e nós temos que chamar tudo isso, embora haja coisas mais graves que outras, de más obras, ilusões de Satanás.



IV – Cruz Redentora de Cristo e as verdadeiras boas obras.


Finalizo, então, com Efésios 2, falando da obra de Cristo que é purificadora e regeneradora. O apóstolo Paulo nos aponta a solução para todos estes problemas, ou seja, Cristo:


E vos vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados, em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência; Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também. Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou, estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus; para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas”.


Efésios 2:1-10.


Estes versículos nos ensinam o princípio de que as verdadeiras boas obras só existem em Cristo. Portanto, você pode crer que há moralidade e bons costumes fora de Cristo, mas as genuínas boas obras só existem em Cristo, e só podem ser praticadas por quem está em Cristo, por quem foi regenerado pelo Espírito e purificado pelo precioso sangue de nosso Amado Salvador. Então, qual é a solução para o Brasil? Como cristãos, precisamos entender e falar de política, inclusive nos posicionando em favor dos princípios bíblicos e denunciando a política ímpia. Porém, a solução para tudo isto não está simplesmente nas nossas denúncias, não está na nossa política. Embora seja útil tais conhecimentos e posicionamentos, esta não é a solução final. Ainda que exista uma parcela de contribuição nisso para iluminar o entendimento das pessoas, a solução está somente no Evangelho.


A igreja verdadeira não vai combater a carnalidade, o mundanismo e as ilusões de Satanás expressas nessas ideologias simplesmente com discurso político, porque o nosso problema está além disso. Como o Apóstolo Paulo disse, a nossa luta não é contra o sangue ou contra a carne, mas é contra os principados, os poderes do Diabo. O nosso problema com os homens não é somente uma questão de intelectualidade, de convencê-los do que é bom, mas o problema deles é que são maus e anelam o que é mau, ainda que o considerem “bom”. Se os homens não forem regenerados pelo Espírito, e limpos pelo eficaz sangue de Cristo para a purificação dos pecados e de toda imundície, eles não estarão aptos à prática das boas obras. Deus regenera os seus eleitos, em Cristo na medida em que a igreja prega e vive o evangelho. Portanto, se nós anelamos por uma mudança em nosso país, não me entendam mal, busquemos ser pessoas atualizadas, busquemos estudar, ler e debater a respeito, mas tendo sempre em mente que somente o Evangelho pode mudar essa situação, o verdadeiro Evangelho, e não outro, pois somente o Evangelho Bíblico transforma uma sociedade. Então que preguemos e vivamos o Evangelho, com oração a aquele que pode ressuscitar, regenerar e purificar pecadores para uma vida de boas obras. Que Ele faça na vida de nossos próximos o que fez por nós e em nós, visto que “deu a si mesmo por nós para nos remir de toda a iniqüidade, e purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras”. Tito 2:14. Que seja assim! Que em nossa nação muitos venha a glorificar ao Pai por nossas boas obras. Amém!


Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que estão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.

Mateus 5:13-16.




*Pode ser copiado, distribuído, e traduzido livremente, desde que indicada a autoria, a fonte, e o link original!

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