NENHUM DELES SE PERDEU – Parte I – Manoel Coelho Jr. João 17: 12.


Mais uma vez Nosso Senhor apresenta um relatório de sua obra terrestre ao Pai Celestial. Já vimos também que a primeira solicitação pelos discípulos foi no verso anterior. Ele vai mesclando entre estes relatos de sua obra cumprida, e pedidos para o futuro, o que mostra as fases em que o Decreto Divino para a salvação dos seus amados vai se cumprindo na história. No presente relatório temos duas informações que se complementam. Em relação aos doze discípulos, temos a informação da preservação de onze por parte de Cristo. Por outro lado, somos informados da perdição de um deles, que é chamado de “filho da perdição”, que sabemos que se trata de Judas, o traidor. Tanto num caso como no outro, os discípulos teriam novamente uma mensagem consoladora, que era o propósito de Cristo na oração sacerdotal, no que diz respeito a eles. Os discípulos saberiam que foi Cristo quem os guardou. Já com relação a Judas, compreenderiam que O Senhor não foi pego de surpresa, mas que tudo na verdade já estava profetizado nas Escrituras, estando, no final das contas, no Decreto Divino. O Conhecimento da Soberania de Deus sobre o seu povo, bem como sobre seus inimigos, infundiria neles a paz em meio as lutas que enfrentariam. O mesmo deve ocorrer conosco ao estudarmos este precioso versículo. Vamos estudá-lo, pois:

I - Guardava-os em Teu Nome.
Cristo relata que por todo o seu ministério particular com os discípulos, os doze, Ele exerceu contínua proteção sobre onze deles. Ele os guardava no Nome do Pai. Naturalmente isso significa que Cristo os mantinha firmes na Revelação que lhes trouxera sobre o Pai. Tratava-se do conhecimento do Verdadeiro Deus em Cristo, Seu Filho, o que é e Vida Eterna, o que os livrara da idolatria (Veja João 17: 3, 6 e I João 5: 19-21). O mundo os atacava por meio das perseguições da liderança judaica contra Cristo, e da sedução, como a que foi colocada sobre Judas, que cedeu ao entregar ao Senhor por dinheiro. No entanto, Cristo guardou os onze de todas estas tentações, de forma que eles não apostataram, como Judas, mas ficaram firmes. E como o Senhor os guardou? Ele os guardou pelo seu poder (João 17: 2), pois eles lhe foram dados pelo Pai, e pela Sua Palavra e obras, os sinais, pelos quais Ele sempre os mantinha direcionados ao conhecimento do Pai, firmando-os, exortando-os, alertando-os, dando-lhes cada vez mais esclarecimentos sobre o Pai, conforme eles podiam suportar (Veja: João 6: 36-40; 6: 65-68; 8:47; 15: 3, 20, 26, 27; 16: 8, 12, 33; 17: 8). Dessa forma, as tentações vinham, mas Cristo com seu Poder e Palavra os guardava e guiava no caminho a seguir.
Vemos aqui que a perseverança deles não lhes é atribuída, como se por seu próprio poder tivessem continuado a seguir a Cristo. Não! Ao contrário, foi Cristo quem os guardou. Eles perseveraram porque Nosso Senhor os protegeu das tentações e da queda, e isso devido a determinação eterna de salvar aqueles que lhe foram dados pelo Pai (João 17: 2). Os discípulos, ao ouvirem esta oração, poderiam ser consolados, por perceberem o grau de segurança em que estavam. Cristo os guardou enquanto andou aqui. O Pai os guardará agora, quando não estará mais o Filho entre eles fisicamente, conforme a sua solicitação (João 17: 11). Podiam olhar para o passado, para toda a sua trajetória e dizer: Chegamos aqui porque Jesus nos guardou. Podiam olhar para o futuro e dizer: Seremos guardados pelo Pai. Quer segurança! Que consolo! Mas não somente para eles era a segurança e consolo, mas também para todos os crentes, inclusive nós, que hoje confiamos em Nosso Senhor.
II - Nenhum se perdeu.
O resultado da proteção que Cristo exerceu, foi que agora todos estavam presentes com Ele, ouvindo esta oração. Louvado Seja Nosso Senhor! Nenhum se perdeu! Em outras palavras Cristo estava dizendo: “Pai, aqui está Pedro, que me deste. Ele não se perdeu… Aqui está Filipe, que me deste. Ele não se perdeu… Aqui está Tomé, que me deste, Ele Não se perdeu… Aqui estão todos os que me deste. Nenhum deles se perdeu!" Isso! Tal expressão, “nenhum deles se perdeu”, mostrava que Cristo não foi frustrado em Sua Obra em prol dos que o Pai lhe dera na Eternidade. João vai lembrar a expressão em João 18: 9, mostrando que Cristo a cumpriu até os últimos momentos que esteve com seus discípulos. Que maravilha! O que podemos dizer? Fica claro que os eleitos de Deus ficarão firmes. Nenhum se perderão, pois quem os protege é o próprio Deus. Há um compromisso divino de que estes, sem falta um sequer, estarão diante dEle em Seu Eterno Reino. Ou como diz Paulo: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos. E aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justificou; e aos que justificou a ESTES TAMBÉM GLORIFICOU” (Romanos 8: 28-30). Todos os que Ele predestinou serão glorificados! Nenhum se perderá!
A informação que os discípulos tiveram por meio desta oração, sobre o fato de que Cristo não fora frustrado, que não perdera nenhum deles, dava-lhes o senso da segurança em que estavam. Eles podiam dizer: Cristo guardou a todos nós sem exceção. E mais; Continuaremos guardados pelo Pai, conforme a solicitação de Cristo, sem exceção. O Senhor já tinha dito: Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a TODOS QUANTOS LHE DESTE (17: 2). Agora diz: Tenho guardado aqueles que tu me deste, e NENHUM DELES SE PERDEU” (17: 12). Ao ouvirem estas coisas eles mais uma vez seriam consolados e pacificados. Da mesma forma nós, os crentes de hoje, pois o Senhor inclui a todos neste “TODOS QUANTOS LHE DESTE” do verso 2, conforme diz no verso 20. Que Segurança! Nenhum se perderá dos que o Pai deu ao Filho!
III - Senão o filho da perdição.
No entanto, há um que se perde. Este é o chamado por Cristo como o “filho da perdição". De fato ele é uma exceção. Mas será que é uma exceção dentre os eleitos? Será que um dentre os que o Pai deu ao Filho para serem salvos, Nosso Senhor não conseguiu salvar e finalmente se perdeu? Devemos afirmar que não, por pelo menos dois motivos:
1 - Já vimos, em estudo anterior, que a expressão “todos quantos lhe deste” e outras semelhantes, conforme aparecem aqui em João 17 e outras vezes neste Evangelho, não admite que Cristo perca um dos que realmente lhe foram dados pelo Pai. Leia os seguintes textos e observe a segurança que eles possuem no propósito divino. Faço destaques com maiúsculas:
“E Jesus lhes disse: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome, e quem crê em mim nunca terá sede. Mas já vos disse que também vós me vistes, e contudo não credes… TODO O QUE O PAI ME DÁ VIRÁ A MIM; E O QUE VEM A MIM DE MANEIRA NENHUMA O LANÇAREI FORA… Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou. E a vontade do Pai que me enviou é esta: Que NENHUM DE TODOS AQUELES QUE ME DEU SE PERCA, mas que o ressuscite no último dia. Porquanto a vontade daquele que me enviou é esta: Que TODO AQUELE QUE VÊ O FILHO, E CRÊ NELE, TENHA A VIDA ETERNA; e eu o ressuscitarei no último dia”
João 6: 34-40.
“Eu sou o bom Pastor, e CONHEÇO AS MINHAS OVELHAS, E DAS MINHAS SOU CONHECIDO. Assim como o Pai me conhece a mim, também eu conheço o Pai, e DOU A MINHA VIDA PELAS OVELHAS. Ainda tenho outras ovelhas que não são deste aprisco; TAMBÉM ME CONVÉM AGREGAR ESTAS, E ELAS OUVIRÃO A MINHA VOZ, E HAVERÁ UM REBANHO E UM PASTOR. Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai”.
João 10: 14-18.
“Assim como lhe deste poder sobre toda a carne, para que dê a vida eterna A TODOS QUANTOS LHE DESTE”. João 17: 2
“Manifestei o teu nome AOS HOMENS QUE DO MUNDO ME DESTE; ERAM TEUS, E TU MOS DESTE, e guardaram a tua palavra”. João 17: 6.
“Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, MAS POR AQUELES QUE ME DESTE, PORQUE SÃO TEUS”. João 17: 9.
“Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado AQUELES QUE TU ME DESTE, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que a Escritura se cumprisse”. João 17: 12.
“E não rogo SOMENTE POR ESTES, MAS TAMBÉM POR AQUELES QUE PELA TUA PALAVRA HÃO DE CRER EM MIM”. João 17: 20.
“Pai, AQUELES QUE ME DESTE quero que, onde eu estiver, também eles estejam comigo, para que vejam a minha glória que me deste; porque tu me amaste antes da fundação do mundo”. João 17: 24.
Quando lemos esses textos, observando os destaques com letras maiúsculas, não podemos chegar a conclusão de que um dentre as ovelhas de Cristo, ou dentre os que o Pai deu ao Filho para serem salvos, finalmente se perderão, Fica claro que as verdadeiras ovelhas de Cristo ouvem a sua voz, que haverá um rebanho e um Pastor, que não lançará fora a nenhum dos que o Pai lhe deu, nenhum perderá, enfim.
2 - No próprio verso 12 vemos Nosso Senhor afirmar claramente que a exceção é a respeito daquele que a Escritura há muito já profetizara que seria o traidor, e a quem Cristo agora chama de “filho da perdição”. Isso implica que o Senhor não foi pego de surpresa, e que no final das contas, baseando-nos da verdade bíblica sobre a Soberania Absoluta de Deus, não havia no propósito divino a escolha de Judas para estar entre aqueles que o Pai deu ao Filho para serem salvos.
Por estas duas razões, devemos afirmar que a exceção que Cristo faz a Judas, como aquele que se perdeu, não é em relação aos que o Pai lhe deu para a salvação.
Então em que sentido Judas é uma exceção? A resposta está dentro daquele contexto dos doze que Cristo primeiro escolheu para estar com Ele em seu ministério. Sabemos que Judas estava com Cristo e com os demais apóstolos continuamente, e com eles pregava e até fazia milagres (Leia Marcos 3: 13-16 e Mateus 10: 1-8). Judas parecia um deles de fato, e ninguém desconfiava que ele era um hipócrita, um traidor, de maneira que a surpresa foi muito grande quando Cristo anunciou que um dos doze o trairia (Leia João 13: 21-30). Judas parecia, mas nunca esteve com Cristo. Judas estava fisicamente muito perto de Cristo. Ao mesmo tempo, seu coração estava muitíssimo distante do Senhor. Judas amava a prata (Mateus 26: 14-16). Judas era aquele galho que não permanece na Videira, porque verdadeiramente nunca creu em Cristo nem o amava, não produzindo fruto, sendo finalmente retirado, jogado para secar e ser queimado (João 15: 6). Judas não era um galho verdadeiramente, mas apenas parecia estar ligado a Cristo. Era tudo aparência. Ele nunca foi dos que o Pai dera ao Filho, ainda que parecesse ser. Neste sentido ele foi uma exceção, ou seja, no sentido em que estava com eles, pregava com eles, até operava milagres e expulsava demônios com eles, mas finalmente se perdeu, porque no coração nunca foi um deles realmente. Judas era um “filho da perdição”. Todos foram guardados, menos Judas. Jesus não perdeu nenhum dos apóstolos, com exceção de Judas porque no final das contas ele não era um deles, ele não era um dos que o Pai deu ao Filho, apesar de aparentemente estar aliado a eles. Este é o sentido da exceção. No sentido que Judas era um galho, que no final foi retirado da videira, e isso porque na verdade nunca creu e permaneceu em Cristo realmente, nunca foi dos que o Pai deu ao Filho. Judas era um hipócrita.
Agora vamos olhar para o fato de que Cristo diz que já estava profetizado nas Escrituras que Judas o trairia (Veja João 13: 8 e Salmo 41: 9). Isso implica a Soberania de Deus inclusive sobre Judas e seu pecado. No entanto, não significa que Deus é o responsável pelo pecado de Judas. Deus é Santíssimo, não pode ser tentado pelo mal e a ninguém tenta. A tentação vem da própria concupiscência, que leva ao pecado, e finalmente à morte (Veja: Tiago 1: 13-15). Foi isso que aconteceu com Judas. Paulo mostra que Deus predestina para a salvação, e consequentemente, chama o que predestinou. Este chamado é a obra do Espírito no coração operando a fé e arrependimento. Quando, então, a pessoa crê, é justificada. Finalmente esta mesma pessoa será glorificada (Veja: Romanos 8: 28-30). Em cada aspecto destes, é Deus quem primeiramente opera por sua graça. Mas quanto ao pecado, é o homem quem peca, levado por seu próprio coração. Assim foi com Judas. Paulo mostra em Romanos 1, que Deus de forma justa, visto que os homens rejeitam sua revelação (Verso 20 ao 24 e 28), os entrega às concupiscências de seus corações (verso 24), os abandona às paixões infames (Verso 26), e os entrega a um sentimento perverso (Verso 28). Enquanto que na obra da salvação dos predestinados, Deus opera graciosamente o chamado, a fé e o arrependimento, conforme vimos em Romanos 8, na manifestação de sua justiça sobre os que rejeitam Sua Revelação, Deus os entrega às suas próprias concupiscências. Este segundo caso foi o que ocorreu com Judas. Deus o entregou ao seu amor à prata. O pecado, portanto, é de Judas. Todavia vemos aqui a Soberania de Deus, que salva por pura graça aos que Ele mesmo predestinou, e entrega os outros de forma justa aos próprios desejos deles.
*Esboço do sermão do dia do Senhor, Primeiro de maio de 2022.
**Aguardem… Se Deus quiser, semana que vem publicaremos a segunda parte deste estudo de João 17: 12.

Leitura sugerida... Perseverança dos Santos de C.H. Spurgeon. Adquira...

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