JUDAS, O FILHO DA PERDIÇÃO – Manoel Coelho Jr. João 17: 12.



No estudo anterior no verso 12, pudemos iniciar nossas meditações em mais um relatório que Cristo fez nesta maravilhosa oração, sobre sua obra . Vimos que Cristo afirma que guardou os discípulos no Nome do Pai, em Sua Revelação do Verdadeiro Deus, e que não perdeu nenhum deles. Prosseguimos olhando para a outra parte do relatório que trata de Judas, que se perdeu, aquele que é a exceção, no sentido que apenas parecia que era um dos discípulos. Observamos que sobre ele já havia uma profecia, o que tem relação com a determinação divina, não que Deus seja o responsável por seu pecado, mas que o entregou ao seu próprio coração, não lhe concedendo graça. Tudo isso mostra que os discípulos estão seguros na Soberania Divina, que preserva os seus e tem controle sobre os inimigos. Agora vamos olhar com mais cuidado para a expressão “o filho da perdição”. Precisamos entender sobre o que ela significa, e como se constitui para aos discípulos um consolo, por mostrar a graça preservadora, e ao mesmo tempo um alerta, por apontar para um exemplo negativo a respeito de alguém que finalmente se perdeu, mesmo estando tão perto de Jesus. Vamos meditar:

I - Um contraste impressionante.
É muito importante notarmos que neste pequeno verso há um importante contraste. Enquanto Nosso Senhor afirma que a nenhum perdeu, dos que lhe foram dados pelo Pai, Judas é chamado de “filho da perdição”. Há aqui uma clara separação entre os que estavam na companhia de Cristo. O que faz o contraste, no final das contas, é o decreto divino. Sabemos, pelo o que já temos estudado, que a graça do Senhor foi o que preservou os discípulos diante das perseguições e seduções do mundo. A mesma graça continuaria preservando-os, pois Cristo orou para que o Pai os guardasse em Seu Nome. Já com relação a Judas, Deus o entregou ao seu próprio coração e ele se perdeu.
No entanto, temos também o fato que, no que diz respeito à responsabilidade humana, há respostas diferentes sendo dadas por Judas, na medida em que ele é exposto à Palavra de Cristo, respostas diferentes dos demais discípulos, que creram e amaram a Cristo (Jo 15: 3; 17: 8. Judas, ao contrário, não creu e não amou a Jesus (Jo 12: 4-8; 13: 17, 18). Judas entrou numa decadência, cedendo cada vez mais ao pecado, o que finalmente o levou à morte, conforme veremos a seguir. Judas acabou por se perder.
II - o pecado e a perdição.
Vamos encontrar a expressão "filho da perdição" também em II Tessalonicenses 2: 3, quando Paulo fala da aparição do “homem do pecado”, do “filho da perdição” que virá no final dos tempos, na apostasia. Ele se oporá a Deus, querendo parecer Deus (Verso 4). Há uma associação, portanto, entre pecado, especialmente idolatria, e a perdição. Assim, podemos sugerir que a expressão “filho da perdição” aponta para o indivíduo que vive dominado pelo pecado no coração e que finalmente se perde. É assim “designado à perdição” (William Hendriksen). Quando olhamos para a trajetória de Judas, percebemos este caráter pecaminoso, e a trajetória no pecado da idolatria, em que se afunda cada vez mais até a perdição final, o que estudaremos no próximo ponto.
III - Decadência e perdição.
Vamos observar agora alguns versos de João e Mateus que nos mostram o que ocorreu com Judas. Notaremos que aconteceu uma decadência até a sua morte, mas que só foi possível devido ao seu coração que sempre amou o dinheiro e não a Cristo. Vejamos os textos. Observe os destaques em maiúsculas:
1 - João 6: 70, 71:
Respondeu-lhe Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? e UM DE VÓS É UM DIABO. E isto dizia ele de Judas Iscariotes, filho de Simão; porque este o havia de entregar, sendo um dos doze”.
Este texto está no contexto em que muitos abandonam a Cristo depois de terem comido dos pães e peixes na multiplicação, porque não suportaram o discurso do Senhor, preferindo o pão material que ao próprio Jesus (Jo 6: 26, 27). Judas ainda é pior do que estes, em certo sentido, pois, secretamente, sendo um dos doze, tendo sido escolhido por Cristo para estar com Ele, era “um diabo”, ou seja, um falso acusador. Nele só havia hipocrisia, falsidade, mentira. Ele não amava a Cristo no coração, mas também o lucro material, como a multidão. Mas ainda era pior que esta, enfatizo, pois havia sido escolhido para o núcleo mais íntimo de Cristo. Judas no coração idolatrava ao dinheiro e bens materiais. Judas no coração não amava a Jesus e não queria suas palavras de Vida Eterna, como Pedro (Jo 6: 66- 69).
2 - João 12: 1-8:
Foi, pois, Jesus seis dias antes da páscoa a betânia, onde estava Lázaro, o que falecera, e a quem ressuscitara dentre os mortos. Fizeram-lhe, pois, ali uma ceia, e Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele. ENTÃO MARIA, TOMANDO UM ARRÁTEL DE UNGÜENTO DE NARDO PURO, DE MUITO PREÇO, UNGIU OS PÉS DE JESUS, E ENXUGOU-LHE OS PÉS COM OS SEUS CABELOS; e encheu-se a casa do cheiro do ungüento. ENTÃO, UM DOS SEUS DISCÍPULOS, JUDAS ISCARIOTES, FILHO DE SIMÃO, O QUE HAVIA DE TRAÍ-LO, DISSE: POR QUE NÃO SE VENDEU ESTE UNGÜENTO POR TREZENTOS DINHEIROS E NÃO SE DEU AOS POBRES? ORA, ELE DISSE ISTO, NÃO PELO CUIDADO QUE TIVESSE DOS POBRES, MAS PORQUE ERA LADRÃO E TINHA A BOLSA, E TIRAVA O QUE ALI SE LANÇAVA. Disse, pois, Jesus: Deixai-a; para o dia da minha sepultura guardou isto; PORQUE OS POBRES SEMPRE OS TENDES CONVOSCO, MAS A MIM NEM SEMPRE ME TENDES”.
Aqui, numa situação concreta, vemos a demonstração da avareza idolátrica de Judas, de seu amor ao dinheiro e não a Cristo. Ele aparentemente se mostra preocupado com os pobres. Mas, sendo um ladrão, o que ocorreu na realidade é que ele se viu frustrado de uma oportunidade de roubo. Observemos que Cristo fala que, ainda que seja necessário ajudar os pobres, havia uma urgência com relação a Ele, pois logo morreria. Cristo está acima até mesmo dos pobres. E na verdade não se ajudará aos pobres, de fato, sem priorizar a Cristo, como claramente se mostra em Judas, que não queria doar o dinheiro realmente aos necessitados, mas roubá-lo, porque o dinheiro era seu deus, porque amava o dinheiro e não a Cristo. Mas o ponto que devemos destacar nesse momento é a avareza idolatria de Judas, manifesta numa situação concreta.
3 - João 13: 1-3:
Ora, antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que já era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, como havia amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim. E, acabada a ceia, TENDO JÁ O DIABO POSTO NO CORAÇÃO DE JUDAS ISCARIOTES, FILHO DE SIMÃO, QUE O TRAÍSSE, JESUS, sabendo que o Pai tinha depositado nas suas mãos todas as coisas, e que havia saído de Deus e ia para Deus”.
Observamos nos textos anteriores o que havia no coração de Judas, isto é, amor ao dinheiro e não a Cristo. O coração de Judas, como acontece com os homens não regenerados, os filhos do diabo (Veja Jo 6: 39-47), era um terreno muito propício às seduções do mundo, e às seduções daquele que é o príncipe do mundo (Jo 14: 30), o diabo. Este que tentou Eva num jardim maravilhoso, soube se aproveitar muito bem da fraqueza de Judas, de seu amor ao dinheiro. Ele colocou em seu coração a tentação de trair Jesus exatamente por dinheiro. Judas recebeu e guardou em seu coração esta tentação, cedendo a ela, e determinando-se a fazer exatamente conforme insinuava, porque estava de acordo com sua própria concupiscência, que o enganou e matou finalmente, conforme as falsificações do diabo (Leia Tiago 1: 13-15).
4 - Mateus 26: 14-16:
Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes, E disse: QUE ME QUEREIS DAR, E EU VO-LO ENTREGAREI? E eles lhe pesaram TRINTA MOEDAS DE PRATA, E desde então BUSCAVA OPORTUNIDADE PARA O ENTREGAR”.
Agora Judas põe em execução, aquilo que já tinha proposto em seu coração, quando aceitou a tentação maligna. Ele entrega a Cristo por aquilo que realmente amava, ou seja, as míseras moedas de prata, passando apenas a esperar uma oportunidade de entregar o Senhor. O pecado no coração se torna prática. Judas vai decaindo.
5 - João 13: 21- 30:
Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e afirmou, dizendo: Na verdade, na verdade vos digo que um de vós me há de trair. Então os discípulos olhavam uns para os outros, duvidando de quem ele falava. Ora, um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava, estava reclinado no seio de Jesus. Então Simão Pedro fez sinal a este, para que perguntasse quem era aquele de quem ele falava. E, inclinando-se ele sobre o peito de Jesus, disse-lhe: Senhor, quem é? Jesus respondeu: É aquele a quem eu der o bocado molhado. E, MOLHANDO O BOCADO, O DEU A JUDAS ISCARIOTES, FILHO DE SIMÃO. E, após o bocado, ENTROU NELE SATANÁS. Disse, pois, Jesus: O QUE FAZES, FAZE-O DEPRESSA. E nenhum dos que estavam assentados à mesa compreendeu a que propósito lhe dissera isto. Porque, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe tinha dito: Compra o que nos é necessário para a festa; ou que desse alguma coisa aos pobres. E, tendo Judas tomado o bocado, SAIU LOGO. E ERA JÁ NOITE”.
Podemos entender que o ato de Cristo dar o bocado molhado a Judas era um alerta. Ao oferecer o bocado, num ato de gentileza, Cristo mostra a gravidade do que ele estava pensando em fazer, pois trairia Aquele com quem comia o pão (Jo 13: 18, Sl 41: 9). Mas Judas resistiu ao alerta de Cristo. Então, após o bocado, entrou nele Satanás, o adversário de Deus e de Cristo. Judas resistira ao alerta de Nosso Senhor dando o último passo de sua entrega ao maligno. Agora satanás o possuia plenamente. Ele está endurecido. Apostatou totalmente e definitivamente. Não há mais volta. Cristo, portanto, diz: “o que fazes, faze-o depressa”. Assim, ele sai da presença de Cristo, a Luz do mundo, e do meio de seus discípulos. Era noite! Havia trevas lá fora. Judas adentra nas densas trevas. Eram trevas fora. Eram trevas dentro de Judas. Seu coração estava endurecido e obscurecido. Ele caíra totalmente no engano de seu próprio coração, e do mundo, e do diabo. Judas se perdeu!
6 - Mateus 27: 1-10:
E, chegando a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, formavam juntamente conselho contra Jesus, para o matarem; E maniatando-o, o levaram e entregaram ao presidente Pôncio Pilatos. ENTÃO JUDAS, O QUE O TRAÍRA, VENDO QUE FORA CONDENADO, TROUXE, ARREPENDIDO, AS TRINTA MOEDAS DE PRATA AOS PRÍNCIPES DOS SACERDOTES E AOS ANCIÃOS, DIZENDO: PEQUEI, TRAINDO O SANGUE INOCENTE. Eles, porém, disseram: Que nos importa? Isso é contigo. E ELE, ATIRANDO PARA O TEMPLO AS MOEDAS DE PRATA, RETIROU-SE E FOI-SE ENFORCAR. E os príncipes dos sacerdotes, tomando as moedas de prata, disseram: Não é lícito colocá-las no cofre das ofertas, porque são preço de sangue. E, tendo deliberado em conselho, compraram com elas o campo de um oleiro, para sepultura dos estrangeiros. Por isso foi chamado aquele campo, até ao dia de hoje, Campo de Sangue. Então se realizou o que vaticinara o profeta Jeremias: Tomaram as trinta moedas de prata, preço do que foi avaliado, que certos filhos de Israel avaliaram, E deram-nas pelo campo do oleiro, segundo o que o Senhor me determinou”.
Este foi o fim de Judas. Desesperado, tira a própria vida. Judas morreu. Eis o engano do diabo, do mundo, e do próprio coração humano. Em nome de seus ídolos vãos, os homens se deixam iludir e seduzir por falsas promessas de benefícios, assim como Adão e Eva no Paraíso. Mas o final é o desespero e morte.
Concluímos, pois, que Judas, o filho da perdição, amava o dinheiro no coração, e não a Cristo. Ainda que andasse com o Senhor o tempo todo, era um hipócrita e ladrão (Jo 12: 1-8). Então o diabo pôs em seu coração a ideia de trair Jesus, para alcançar o que mais amava, o dinheiro. Ele recebeu um alerta de Cristo (Jo 13: 26), mas resistiu. Consequentemente o diabo nele entrou, e saindo do meio dos discípulos, penetrou na densa escuridão da noite, entregando o Mestre (Jo 13: 30). Finalmente caiu em desespero e se matou (27: 1-10). O salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito é a Vida Eterna em Cristo (Rm 6: 23). Vemos em Judas um coração idólatra, que primeiro recebe a tentação do diabo, depois resiste aos alertas de Cristo, entregando-se completamente ao domínio de satanás. Então trai e entrega o salvador, e finalmente se mata em desespero, perdendo a sua alma para sempre. Há uma decadência até a predição. Por isso Judas é o “filho da perdição”.
IV - Conselhos:
Ao completarmos nossos estudos neste precioso versículo 12, desejo deixar-lhes alguns conselhos:
1 - Tenhamos grande consolo na Verdade de que o Senhor Jesus nos conserva no Nome de Seu Pai e nos guarda da perdição. Nosso livramento vem dEle, independente de nossas fraquezas. Louvado Seja Nosso Senhor!
2 - Nos consolemos na verdade do controle absoluto do Senhor sobre inimigos e traidores. Há uma grande tristeza na Igreja quando se manifestam os apóstatas e traidores do Evangelho. Mas devemos sempre nos lembrar que mesmo sobre isso o Senhor é Soberano. Ainda que não devamos nos alegrar com a perdição de quem quer que seja, podemos nos regozijar, que como no caso de Judas, tudo cooperará para o bem da Igreja e a glória do Senhor, e que Ele nunca é pego de surpresa, mas tem os inimigos em suas mãos. Não devemos, portanto, nos escandalizar, mas estarmos consolados (Jo 16: 1-3).
3 - Consideremos Judas como um alerta. Duas perguntas devem ser feitas diante do terrível exemplo de Judas: Estamos realmente em Cristo em fé e amor? Se sim, estamos agindo diferentemente de Judas, ouvindo os alertas de Cristo, mortificando o pecado? Os que são realmente de Cristo ouvirão sua Palavra (Jo 17: 8.
4 - Prossigamos firmemente confiando nestas verdades. Lembremos que tudo é pela graça do Senhor que nos guarda no Nome do Pai. Nesta fé devemos nos levantar e prosseguir. O Senhor está conosco e nos dará Sua Graça! Nenhum Ele perderá. Prossigamos, pois!
5 - Oremos pedindo sua graça continuamente, confiando nestas verdades. Ele nos ouvirá! Amém!
*Esboço do sermão do dia do Senhor, 08 de maio de 2022.

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