Literatura e Reforma – Manoel Coelho Jr.
“E,
quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o
seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós
também”.
(Colossenses
4:16)
No
dia trinta de Outubro rememoraremos
o marco da Reforma Protestante.
Devemos
fazê-lo
conforme a Escritura. Ora,
o
Senhor Jesus Cristo chegou a mencionar que os homens da sua época
aparentemente valorizavam os antigos profetas como sendo homens de
Deus
(Mt 23:29-31).
No entanto,
na prática ignoraram as suas profecias que apontavam para Ele,
e desejaram matá-lo.
Assim,
é possível que olhemos para o passado, que comemoremos a Reforma e
nos maravilhemos diante da obra que Deus fez no passado, levantando
homens valorosos e ousados na proclamação do Santo
Evangelho,
e, porém,
não pregarmos, crermos
e vivermos este Evangelho,
desvalorizando
e abandonando as verdades antes anunciadas na Reforma. Não devemos
ver a Reforma como um evento
histórico apenas, desprovido de significado.
Como
está a nossa compreensão do que aconteceu naquela época?
Entendemos a causa pela
qual aqueles homens lutaram? Será que não temos que nos dispor a
lutar novamente por uma Reforma?
Penso que sim,
pelo seguinte motivo: O
termo “evangélico”
se relaciona a
Reforma,
e
podemos dizer que
significa “povo do Evangelho”,
“povo
que
abraçou o Evangelho”.
Porém, no meio evangélico atual,
em
geral
a
Reforma se faz novamente necessária,
diante da situação em que se encontram muitas igrejas, em um
estado,
na verdade,
pior que aquele em que estava
a Igreja medieval, visto que ainda falava do céu, ainda mostrava
algo do
estado após a morte, enquanto que as igrejas modernas abraçaram a
teologia da prosperidade que fez com que os ditos “evangélicos”
busquem
mais as riquezas desde mundo que as riquezas celestiais. Sim, temos
visto toda a sorte de heresias nestas
Igrejas ditas “evangélicas”
e
"herdeiras
da Reforma",
tornando evidente a carência de uma Reforma
Atual.
Diante
disso,
como vamos comemorar a Reforma se nós já nos esquecemos de seu
significado e nos fizemos mais necessitados dela que aqueles irmãos
do passado? A Reforma não deve ser vista como um objeto de museu,
útil somente para memória e visitação, sem utilidade para o
nosso
tempo. Ainda que na
cultura atual
a aplicação não possa ser a mesma que
no
passado,
existe um princípio, uma mensagem,
que não muda e que se faz necessária para os nossos dias. A Reforma
é uma volta às Escrituras e ao Evangelho.
Se
não a compreendermos, seremos como aqueles homens do passado que
mataram a Cristo, ainda que rememorando os profetas antigos que
apontavam para o
Senhor.
De nada adiantará falar de Lutero, Calvino, os puritanos e outros
reformadores, se
seguirmos as heresias das igrejas modernas,
tão contrárias ao que estes antigos mestres ensinaram.
Você
pode me perguntar o que isso tem
a ver com
a inauguração de nossa Biblioteca,
e eu lhe direi que tem tudo
a ver.
A
Reforma teve seu início no século XVI,
em 1517,
e
prosseguiu até o século XVII.
O
movimento puritano também surgiu no século XVI, mas prosseguiu
também até o século XVII,
e todos esses movimentos tinham em comum o desejo de voltar à
Escritura e o questionamento de todas as práticas da igreja à luz
da mesma.
No entanto, uma coisa é muito importante ser
dita:
Eles não desprezaram 1500 anos de tradição cristã, e esse é o
ponto.
Ora,
como
podemos transmitir conhecimento e ter acesso a
ele,
seja
do
presente seja
do passado?
Resposta:
Especialmente
através
do que foi escrito e documentado. Se não tivermos nenhum documento,
nenhum registro, nos restará
pouco,
ou mesmo
nenhum conhecimento do passado. Sendo assim,
os escritos, os documentos, a arte, e
assim por diante, são
formas de transmissão
do
saber. Poderemos por estes meios conhecer
o que os antigos criam.
O
próprio Deus usou do
registro
escrito
para transmitir
o
conhecimento a todas as gerações de homens,
em 66 livros produzidos
num
período muito grande,
e
por vários autores.
Por
que
vocês acham que Deus nos deixou em escrito a Revelação
de Sua Verdade?
Porque nós temos um curto tempo de vida, não somos eternos, e até
a volta de nosso Senhor Jesus Cristo precisamos levar a adiante o
conhecimento. Tudo o que temos de mais precioso está nas Sagradas
Escrituras,
e precisamos
passá-la adiante,
assim
como
fizeram
os nossos antepassados aos
nos
legaram
este Livro Bendito.
Cremos que Deus preservou a Escritura para que chegasse até nós.
Consequentemente,
o
princípio reformado básico, Sola Scriptura, não quer dizer que o
movimento reformado foi um movimento de desprezo a 1500 anos de
tradição, mas sim que a Escritura foi e é a base, a revelação
perfeita, pela qual tudo o mais deve ser testado,
pois
cremos em uma obra do Espírito Santo ao longo da história, dando
iluminação e entendimento aos homens do passado para que
interpretassem bem as Escrituras. Os reformadores aceitavam os
primeiro concílios, documentos
e credos da Igreja antiga que tratavam da Trindade, humanidade e
divindade de Cristo, todas concepções definidas no início
da história. O credo dos apóstolos, por exemplo, foi um documento
abraçado e crido pelos reformadores.
Não somos contra a tradição.
Inclusive
nossa confissão de fé é do século XVII,
não deixando de ser uma tradição.
Todavia
os reformadores, e nós os seguimos
nisso,
não
aceitavam a tradição pela tradição,
mas tudo
testavam pelas
Sagradas Escrituras, crendo no poder do Espírito como Condutor de
muitos homens do passado às
genuínas
interpretações bíblicas,
e à documentação dessas compreensões,
ainda que evidentemente nenhum destes registros sejam inspirados,
como o é a Escritura.
Existe,
então, a boa tradição, a tradição bíblica, erguida ao longo da
história pelos verdadeiros teólogos,
e que não podemos desprezar.
Existe
documentação e boa interpretação escriturística que antecedeu a
Reforma, que
sempre
resistiu debaixo de todas as trevas em que a Igreja passou. Mas
existe, também, a falsa tradição, constituída de heresias,
erguida por falsos profetas, desde os chamados “pais da igreja”,
ainda
que entre eles também existissem
bons
intérpretes,
os da boa tradição.
Os
reformadores,
então,
se aplicaram a julgar a tradição pelas Escrituras, recebendo a boa
tradição e rejeitando a falsa. A Reforma não é um movimento de
novidades, como se têm dito
algumas ou muitas vezes,
mas sim,
uma volta aos princípios. E isso foi necessário,
porque ao longo da historia surgiram deturpações na
doutrina e
práticas da Igreja, o que é próprio do homens, e a igreja se
tornou idólatra e apóstata. Temos ouvido um evangelho de sensações
e sentimentos, no qual não há necessidade de leitura, estudo e
meditação.
Vivemos
em um tempo de tecnologias onde a reflexão não é prioridade e as
pessoas se consideram especialistas de um assunto que acabaram de
ler. Enquanto que o verdadeiro cristianismo é reflexão, meditação,
aprendizado, intelectualidade; é pensar,
e pensar direito leva anos, muitos anos de reflexão,
na verdade,
a vida toda,
para
apreendermos toda a riqueza que há nas Escrituras. “Por
esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não
cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do
conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência
espiritual”.
(Colossenses
1:9).
Observe
que o cristianismo consiste em conhecimento, não em emoção
primariamente.
Então, primeiro você conhece, fica inteligente espiritualmente, e
só
depois você vai andar em agrado ao Senhor. “Para
que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo,
frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de
Deus”. (Colossenses
1:10).
Inteligência
espiritual não é algo meramente humano, mas se dá sob a operação
do Espírito Santo, nas Escrituras. Nós vivemos em um tempo em que
as pessoas pensam que as sensações e emoções são evidências da
presença do Espírito Santo,
e perdem-se em sentimentos desprovidos de conhecimento e
intelectualidade. Porém, a verdadeira emoção, vinda do Espírito
Santo, conforme as Escrituras, baseia-se no conhecimento de Deus e
das doutrinas, e não ocorre sem meditação, estudo e aplicação da
Palavra de Deus; este é o culto racional.
Se
não temos o hábito de ler, estudar e meditar nas Escrituras, não
somos bem-aventurados, segundo o homem de Salmos capítulo primeiro,
que medita na Palavra de dia e de noite; só nos restando um
“evangelho” cheio de emoções, desprovido de doutrina, algo
doentio, pecaminoso e pagão.
A
Reforma é um movimento intelectual, de livros, de literatura, de
escritos, de reflexão e de debate teológico, em que nós vamos nos
aplicar a pensar biblicamente, olhando as Escrituras, e tudo
analisando segundo ela. A nossa mente não está inerte enquanto nos
emocionamos diante das verdades do Evangelho, mas a nossa razão é
atuante, ativa, de forma a mantemos uma emoção saudável, baseada e
fundamentada na razão. Assim, cumpriremos toda boa obra. Esta é a
boa influência da literatura. Desta forma, estaremos meditando junto
a Igreja de Deus, não somente de nosso tempo, não somente com os
santos salvos e justificado em Cristo desta geração, mas com toda
Igreja, junto a todos os salvos de todos os tempos. Por isso nos
reunimos para o culto ao Senhor. Não podemos negar que aprendemos
quando lemos a Bíblia sozinhos, mas é na comunhão com a Igreja de
Deus que refletimos, ouvimos a exposição da Palavra, compartilhamos
e comungamos da fé e somos fortalecidos nela. E refletimos na
Palavra, não só com os irmãos presentes, mas também com os santos
de todos os séculos da história, que já estão na Glória, mas que
deixaram documentados as suas reflexões ao longo de milhares de
anos.
1.
Os escritos como instrumento de ensino no tempo dos apóstolos.
Os
apóstolos – os doze discípulos e Paulo (recomendo o livro
“Apóstolos”, do Reverendo Augustus Nicodemos, que faz um estudo
muito importante e bíblico sobre ministério apostólico) – foram
testemunhas oculares de Cristo ressurreto e, portanto, eram os únicos
receptores diretos da Revelação de Deus. Quando eles não podiam
estar presentes em determinado local, escreviam cartas às Igrejas,
que funcionavam como se lá estivessem. O mesmo ocorre conosco quando
os lemos, ou seja, é como se estivessem entre nós. Por isso, as
nossas igrejas são apostólicas, não no sentido de que temos
apóstolos hoje, mas porque somos dirigidos pela mensagem apostólica,
concedida por Deus a eles. Diante disso, concluímos que sempre os
escritos e a leitura foram meios usados por Deus para que a Igreja
fosse instruída e edificada, e Ele mesmo os preserva de geração em
geração. Em primeiro lugar, Deus vai usar as Escrituras, que é a
revelação de Sua vontade sem falhas; e em segundo, ele vai usar os
escritos, que mesmo não sendo inspirados e sem falhas, são
interpretações fiéis das Escrituras, aprovados pelas Escrituras,
escritos por homens que foram graciosamente iluminados pelo Espírito
Santo.
2.
O ensino dos pastores em relação aos apóstolos.
“E
ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros
para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o
aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo;
até
que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de
Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”.
(Efésios
4:11-13).
As
vocações são dons de Deus para a edificação, crescimento e
fortalecimento da Igreja em Cristo. Quais são os ofícios que
permanecem e quais os ofícios que cessaram?
Cristo
esteve aqui e passou três anos com os seus discípulos lhes
ensinando as verdades do evangelho,
e lhes deixou claro que não revelaria tudo naquele momento, porque
não poderiam suportar, mas que lhes enviaria o Seu Espírito para
lhes aprofundar nestas verdades, ensinando-os e revelando o que viria
a ser as Sagradas Escrituras.
“Assim
que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos
santos, e da família de Deus;
Edificados
sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo
é a principal pedra da esquina”.
(Efésios
2:19,20).
Esse
fundamento (as Escrituras) foi lançado. O fundamento é importante
na construção de uma casa, é o início
da construção e lhe garante firmeza e estabilidade. Porém, a
construção de uma casa não consiste apenas em lançar fundamentos,
isso é feito apenas uma única vez, sendo erguida, então, as
paredes. Quem lançou fundamento? Resposta:
Os
apóstolos e profetas. Após lançado do
fundamento,
o trabalho de construção deve ter
continuidade. O fundamente já foi posto, Cristo é a pedra angular,
a principal pedra e os ofícios apostólico e profético lançaram a
base, porém, esses ofícios eram de caráter passageiro,
cada
um ao seu tempo; os profetas, no Velho Testamento e os apóstolos, no
Novo Testamento. Sendo assim, os dois primeiros ofícios (apóstolos
e profetas) cessaram – cremos que, antes mesmo do final
do século
primeiro, depois de Cristo,
após
lançarem o fundamento (o cânon das Escrituras). Todos os ofícios
posteriores vieram sobre essa base.
Quais
ofícios que permaneceram como aqueles que lançam paredes sobre o
fundamento? Resposta: Pastores e doutores. O pastor é alguém
chamado por Deus para o ofício específico de ensinar, é um doutor,
um mestre, um bom intérprete, que vai cuidar de uma Igreja local,
ensinando a Palavra de Deus fielmente. O pastor não recebe revelação
direta de Deus, mas vai estudar o fundamento que já foi lançado por
aqueles que receberam tal revelação direta. Ele vai ser guiado e
iluminado pelo Espírito Santo para entender o fundamento, não
ensinando algo “novo”, mas se limitando a somente estudar e
ensinar o que já foi lançado, isto é, a Palavra de Deus. O
Espirito Santo os guiará na compreensão das Escrituras para que
possam pregar de maneira fiel e zelosa. A pregação vai ser o
instrumento principal na proclamação do Evangelho e através dela
Deus leva a diante a Sua obra, pois “como crerão se não houver
quem pregue?” (Romanos 10: 13-15). Os apóstolos eram pregadores;
os profetas eram pregadores; e os pastores-mestres também são
pregadores.
No
entanto, chamo-lhes atenção para o fato que ainda que a pregação
seja o meio primário usado por Deus para o avanço do Evangelho, e
não haja nenhum outro livro que chegue a esse patamar, o Senhor
também usa bons interpretes da Bíblia no decorrer da história,
para escreverem livros que, com a Sua graça, edificarão a muitos.
Por exemplo, Agostinho lutou contra o ensino herético de Pelágio e
foi usado por Deus naquele momento. Aquela boa interpretação que o
Senhor lhe concedeu das Escrituras influenciou, tanto a igreja da
época, como a as igrejas posteriores. Deus pode destacar muitas
vezes um pastor-mestre para que lute contra determinada heresia e
isso seja registrado. Se você estudar o que outros escreveram no
decorrer da história, você vai se tornar precavido quanto a certas
heresias que estão hoje em voga. Esse conhecimento passa de uma
geração a outra, não por uma tradição oral, mas por uma tradição
escrita.
Ao
mesmo tempo em que tivemos bons intérpretes ao longo da história, a
apostasia foi também
acontecendo
desde a patrística, nos primeiros séculos. Teólogos, homens
importantes escreveram,
e desde aquele período inicial eles foram se desviando da verdade.
Ao lermos a carta aos Hebreus, e
estudamos
as demais partes do Novo
Testamento, percebemos claramente que desde a época dos apóstolos,
ao
saírem eles para a semeadura do Evangelho,
seguia-se
quase imediatamente
a
semeadura
dos hereges, cheios de doutrinas falsas,
tentando distorcer a pura
mensagem.
Gálatas foi um exemplo disso. Paulo pregou naquela região, e os
hereges vieram e distorceram o evangelho logo em seguida,
introduzindo o legalismo, distorcendo a salvação pela fé.
A boa doutrina e a falsa doutrina seguem pela história da Igreja, e
o Novo Testamento previne isso o tempo todo, chamando-nos a cautela
quanto aos falsos profetas e lobos vestidos de ovelhas. A Igreja
medieval se perdeu e se tornou
(ainda
que isso seja ofensivo,
devemos dizê-lo
claramente)
uma sinagoga de satanás. O século XVI, que precedeu a Reforma, foi
um período de densas trevas e o Espírito Santo de Deus iluminou
alguns homens, os pré-reformadores. Logo após veio Lutero que
estudou as Escrituras, as cartas
aos Gálatas e aos Romanos, e descobriu, através da revelação de
Deus nas Escrituras, a doutrina da justificação pela fé somente em
Cristo Jesus, somente pelo evangelho da graça, sem obras, sem
indulgências. Diante daquela triste realidade em que a Igreja
medieval passava,
ele lançou as suas teses, momento esse que comemoramos no dia trinta
e um de outubro, o início da Reforma.
Vejam,
irmãos, como foi que ele fez isso. Primeiro, estudou a própria
Escritura.
A
Igreja medieval do tempo de Lutero havia apostatado, desviando-se do
Evangelho.
E isso vem acontecendo com muitos grupos ditos “cristãos”, no
decorrer da história da Igreja.
É também
o que tem
acontecido com a Igreja evangélica moderna no Brasil, nos
Estados Unidos,
como ocorreu
na Europa.
Há
um princípio no coração dos homens de amor e apego à mentira,
que só é vencido pela ação do Espírito de Deus, pela graça,
pela luz de Deus.
Sendo
assim, se somos reformados temos um princípio a
seguir
que a reforma nos legou: Devemos sempre nos reformar, voltando às
Escrituras para ver se não estamos nos desviando e seguindo uma
novidade, avaliando
continuamente
nossa doutrina e cultos à luz da Bíblia.
A
Reforma Protestante foi uma volta ao antigo, à Bíblia, com o
auxílio de bons intérpretes ao longo da história da Igreja, não
negando a tradição, mas julgando-a pelo firme fundamento já posto:
As Escrituras, a Doutrina doa Apóstolos. A apostasia é novidade.
Havia tanto lixo sobre o fundamento colocado pela apostasia, que ele
foi enterrado embaixo de um entulho de tradições humanas, espúrias,
falsas “revelações”, palavras do diabo, o pai da mentira, que
persegue a Igreja o tempo todo, a fim de corrompê-la e levá-la ao
desvio e abandono da Genuína Fé. Diante de tanto entulho que foi
acrescentado, não temos dúvida de que a Reforma foi uma obra da
graça, sem a qual Lutero nunca teria descoberto o que descobriu. Uma
recomendação minha: Leiam Lutero para entenderem a Reforma. A
partir daquele momento os entulhos começaram a ser tirados de forma
gradual. Porém, Lutero não conseguiu tirar tudo. Ele cometeu muitas
falhas, mas teve seu trabalho continuado por outros que vieram e
prosseguiram em tirar os entulhos, a tradição humana. Dentro do
movimento reformado tivemos o movimento calvinista, e o movimento
puritano, por exemplo. Vários movimentos vieram a surgir, levando
adiante a Reforma. Eles olharam para o passado e estudaram a Bíblia,
não negando os primeiros credos da igreja, isto é, a Ortodoxia
Cristã e Bíblica, e foram tirando os entulhos, meus irmãos. Foi
uma obra do Espírito Santo que explodiu naquela região, que
transformou vidas e nações, para a glória de Deus. E na medida em
que eles iam estudando a Bíblia e as compreensões bíblicas dos
homens do passado, na confirmação e orientação do Espirito Santo,
eles entenderam que também tinham que deixar escrito suas
compreensões, segundo Deus lhes revelava pela Palavra. E veio, pela
providência divina, a invenção da impressa, e a Reforma
prosseguiu. Lutero diligentemente escreveu e divulgou os seus
escritos. Calvino também escreveu, legando-nos as Institutas,
sistematizando as doutrinas. E os puritanos vieram depois,
deixando-nos muitos escritos. Aqueles homens documentaram as
compreensões que o Espírito lhes concedia, na medida em que
estudavam a Palavra de Deus, e deixaram um vasto legado escrito para
a posteridade, como documentos de fé, resumos de sua fé, e entre
eles está a Confissão de Fé Batista (CFB 1689), um importantíssimo
documento da Reforma Puritana Batista, o qual todos devem estudar.
O
que tem ocorrido nestes últimos cinco séculos após
a Reforma? Mais novidades.
Tivemos no século XVIII uma série de avivamentos, mas também o
início de alguns problemas. Já o século XIX foi desastroso.
As
Igrejas históricas chegaram ao
Brasil.
Ainda
que atrasadas, chegaram firmes, mas já
decaindo do antigo vigor reformado.
A
Fé Reformada foi sendo abandonada. Surgiram movimentos como o
pentecostalismo, com sua ênfase nas novidades e crendo em “profetas
modernos”;
o movimento neopentecostal, que foi mais longe,
crendo que não há só “profetas”, mas “apóstolos
modernos”.
Atualmente temos o liberalismo teológico, que destruiu várias
partes da Europa, duvidando das Escrituras Sagradas, apontando uma
série de “erros”, destruindo o Cristianismo
Histórico.
Esses movimentos não se caracterizam como movimentos reformados, mas
são movimentos de antirreforma.
Estes
são os dois movimentos prevalecentes no decorrer da história da
Igreja: Reforma
e Antirreforma.
Todos
esses movimento de Antirreforma
fizeram com que as pessoas se afastassem da verdade bíblica, ainda
que sob pretexto dela. Se começamos a acrescentar à pregação do
evangelho revelações “quentinhas”, somos levados a considerar a
Bíblia uma revelação antiga, ultrapassada,
e a abandonamos
finalmente.
Por isso vivemos em uma sociedade secularizada, mística, de
sensações, porque o evangelho pregado se baseia em revelações
“diretas” de Deus, tornando a Bíblia antiquada e esquecida. Tudo
isso é movimento de Antirreforma,
resultando em uma Igreja, hoje, que foi mais longe em heresias do que
até
mesmo a Igreja
Medieval.
Eu
me alegro em ver vislumbres da Reforma no Brasil, nos Estados Unidos
e na Europa. Temos que fazer o que os antigos fizeram, ou seja,
voltar à Bíblia com ajuda dos bons intérpretes. Não querendo
inventar a roda, mas voltando ao princípio do Sola Scriptura.
“E
logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles,
chegando lá, foram à sinagoga dos judeus.
Ora,
estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque
de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras
se estas coisas eram assim”. (Atos
17:10,11).
Tenhamos
a mesma disposição dos bereanos. Devemos ler a Bíblia, desarmados,
deixando-a falar, e então com base nela, julguemos tudo que temos
ouvindo e lido. A Bíblia é o único livro que não pode ser
julgado, mas em tudo receber o “Amém”. Isto que os reformadores
fizeram.
“Porque
todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.
Como,
pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele
de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?
E
como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão
formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem
alegres novas de boas coisas”. (Romanos
10:13-15).
Para
que eu possa invocar ao Senhor, eu preciso crer. Mas para que eu
creia, devo ouvir, porque ninguém crê no que não sabe, e para
saber eu tenho que ouvir, e eu só posso ouvir se alguém a mim
pregar. A Bíblia não diz “leia e não vá ouvir pregação”,
tampouco devemos nos limitar a assistir pregações pela internet.
Antes, devemos nos congregar onde existe um pregador fiel, que expõe
zelosamente a palavra de Deus. A pregação é o meio primordial para
a salvação das almas.
“A
saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu
coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás
salvo”. (Romanos
10:9).
Gostaria,
então de recomendar: Leiam, leiam muito. Porém, ouçam mais ainda
pregação. Não deixem de se congregar, pois a pregação é um
instrumento de Deus para a conversão, e a edificação e da Igreja.
A leitura é auxiliar e não substitui o ato de se expor à pregação.
A leitura vai nos ajudar na Reforma hoje. Devemos voltar aos
clássicos, começar a ler os antigos, aos bons pais da igreja, com
cautela, mas leiam. Leiam, especialmente, os reformadores,
pré-reformadores e puritanos, escritos oriundos dos movimentos que
foram uma obra do Espirito Santo de volta às escrituras. Isso é
Reforma, leiam!
“Lembrem-se
que não são os mais sábios aqueles que leem mais, porém aqueles
que leem o que é mais necessário e proveitoso. Leiam bastante
aqueles livros que vos direcionem a um curso de comunhão diária com
Deus e santa ordenação de vossa vida diária”.
– Richard Baxter.
*Transcrição da aula da EBD na
Congregação Batista Reformada em Belém, manhã de 29 de Outubro de
2017, por ocasião da Inauguração da Biblioteca Batista Reformada.
**Transcrito por Adriane Oliveira.
***Pode ser copiado, distribuído, e
traduzido livremente para outro idioma, desde que indicada a fonte, a
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Caros amigos, como o propósito do blog é mostrar o que a Bíblia ensina para a nossa edificação espiritual, e não fomentar polêmicas, que tendem a ofensas e discussões infrutíferas, não publicarei comentários deste teor, tão pouco comentários com linguagem desrespeitosa. Grato pela compreensão.