Literatura e Reforma – Manoel Coelho Jr.



E, quando esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio de Laodicéia lede-a vós também”. (Colossenses 4:16)

No dia trinta de Outubro rememoraremos o marco da Reforma Protestante. Devemos fazê-lo conforme a Escritura. Ora, o Senhor Jesus Cristo chegou a mencionar que os homens da sua época aparentemente valorizavam os antigos profetas como sendo homens de Deus (Mt 23:29-31). No entanto, na prática ignoraram as suas profecias que apontavam para Ele, e desejaram matá-lo. Assim, é possível que olhemos para o passado, que comemoremos a Reforma e nos maravilhemos diante da obra que Deus fez no passado, levantando homens valorosos e ousados na proclamação do Santo Evangelho, e, porém, não pregarmos, crermos e vivermos este Evangelho, desvalorizando e abandonando as verdades antes anunciadas na Reforma. Não devemos ver a Reforma como um evento histórico apenas, desprovido de significado.

Como está a nossa compreensão do que aconteceu naquela época? Entendemos a causa pela qual aqueles homens lutaram? Será que não temos que nos dispor a lutar novamente por uma Reforma? Penso que sim, pelo seguinte motivo: O termo “evangélico” se relaciona a Reforma, e podemos dizer que significa “povo do Evangelho”, “povo que abraçou o Evangelho”. Porém, no meio evangélico atual, em geral a Reforma se faz novamente necessária, diante da situação em que se encontram muitas igrejas, em um estado, na verdade, pior que aquele em que estava a Igreja medieval, visto que ainda falava do céu, ainda mostrava algo do estado após a morte, enquanto que as igrejas modernas abraçaram a teologia da prosperidade que fez com que os ditos “evangélicos” busquem mais as riquezas desde mundo que as riquezas celestiais. Sim, temos visto toda a sorte de heresias nestas Igrejas ditas “evangélicas” e "herdeiras da Reforma", tornando evidente a carência de uma Reforma Atual. Diante disso, como vamos comemorar a Reforma se nós já nos esquecemos de seu significado e nos fizemos mais necessitados dela que aqueles irmãos do passado? A Reforma não deve ser vista como um objeto de museu, útil somente para memória e visitação, sem utilidade para o nosso tempo. Ainda que na cultura atual a aplicação não possa ser a mesma que no passado, existe um princípio, uma mensagem, que não muda e que se faz necessária para os nossos dias. A Reforma é uma volta às Escrituras e ao Evangelho. Se não a compreendermos, seremos como aqueles homens do passado que mataram a Cristo, ainda que rememorando os profetas antigos que apontavam para o Senhor. De nada adiantará falar de Lutero, Calvino, os puritanos e outros reformadores, se seguirmos as heresias das igrejas modernas, tão contrárias ao que estes antigos mestres ensinaram.

Você pode me perguntar o que isso tem a ver com a inauguração de nossa Biblioteca, e eu lhe direi que tem tudo a ver. A Reforma teve seu início no século XVI, em 1517, e prosseguiu até o século XVII. O movimento puritano também surgiu no século XVI, mas prosseguiu também até o século XVII, e todos esses movimentos tinham em comum o desejo de voltar à Escritura e o questionamento de todas as práticas da igreja à luz da mesma. No entanto, uma coisa é muito importante ser dita: Eles não desprezaram 1500 anos de tradição cristã, e esse é o ponto. Ora, como podemos transmitir conhecimento e ter acesso a ele, seja do presente seja do passado? Resposta: Especialmente através do que foi escrito e documentado. Se não tivermos nenhum documento, nenhum registro, nos restará pouco, ou mesmo nenhum conhecimento do passado. Sendo assim, os escritos, os documentos, a arte, e assim por diante, são formas de transmissão do saber. Poderemos por estes meios conhecer o que os antigos criam. O próprio Deus usou do registro escrito para transmitir o conhecimento a todas as gerações de homens, em 66 livros produzidos num período muito grande, e por vários autores. Por que vocês acham que Deus nos deixou em escrito a Revelação de Sua Verdade? Porque nós temos um curto tempo de vida, não somos eternos, e até a volta de nosso Senhor Jesus Cristo precisamos levar a adiante o conhecimento. Tudo o que temos de mais precioso está nas Sagradas Escrituras, e precisamos passá-la adiante, assim como fizeram os nossos antepassados aos nos legaram este Livro Bendito. Cremos que Deus preservou a Escritura para que chegasse até nós. Consequentemente, o princípio reformado básico, Sola Scriptura, não quer dizer que o movimento reformado foi um movimento de desprezo a 1500 anos de tradição, mas sim que a Escritura foi e é a base, a revelação perfeita, pela qual tudo o mais deve ser testado, pois cremos em uma obra do Espírito Santo ao longo da história, dando iluminação e entendimento aos homens do passado para que interpretassem bem as Escrituras. Os reformadores aceitavam os primeiro concílios, documentos e credos da Igreja antiga que tratavam da Trindade, humanidade e divindade de Cristo, todas concepções definidas no início da história. O credo dos apóstolos, por exemplo, foi um documento abraçado e crido pelos reformadores. Não somos contra a tradição. Inclusive nossa confissão de fé é do século XVII, não deixando de ser uma tradição. Todavia os reformadores, e nós os seguimos nisso, não aceitavam a tradição pela tradição, mas tudo testavam pelas Sagradas Escrituras, crendo no poder do Espírito como Condutor de muitos homens do passado às genuínas interpretações bíblicas, e à documentação dessas compreensões, ainda que evidentemente nenhum destes registros sejam inspirados, como o é a Escritura.

Existe, então, a boa tradição, a tradição bíblica, erguida ao longo da história pelos verdadeiros teólogos, e que não podemos desprezar. Existe documentação e boa interpretação escriturística que antecedeu a Reforma, que sempre resistiu debaixo de todas as trevas em que a Igreja passou. Mas existe, também, a falsa tradição, constituída de heresias, erguida por falsos profetas, desde os chamados “pais da igreja”, ainda que entre eles também existissem bons intérpretes, os da boa tradição. Os reformadores, então, se aplicaram a julgar a tradição pelas Escrituras, recebendo a boa tradição e rejeitando a falsa. A Reforma não é um movimento de novidades, como se têm dito algumas ou muitas vezes, mas sim, uma volta aos princípios. E isso foi necessário, porque ao longo da historia surgiram deturpações na doutrina e práticas da Igreja, o que é próprio do homens, e a igreja se tornou idólatra e apóstata. Temos ouvido um evangelho de sensações e sentimentos, no qual não há necessidade de leitura, estudo e meditação. Vivemos em um tempo de tecnologias onde a reflexão não é prioridade e as pessoas se consideram especialistas de um assunto que acabaram de ler. Enquanto que o verdadeiro cristianismo é reflexão, meditação, aprendizado, intelectualidade; é pensar, e pensar direito leva anos, muitos anos de reflexão, na verdade, a vida toda, para apreendermos toda a riqueza que há nas Escrituras. “Por esta razão, nós também, desde o dia em que o ouvimos, não cessamos de orar por vós, e de pedir que sejais cheios do conhecimento da sua vontade, em toda a sabedoria e inteligência espiritual”. (Colossenses 1:9).

Observe que o cristianismo consiste em conhecimento, não em emoção primariamente. Então, primeiro você conhece, fica inteligente espiritualmente, e só depois você vai andar em agrado ao Senhor. “Para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus”. (Colossenses 1:10). Inteligência espiritual não é algo meramente humano, mas se dá sob a operação do Espírito Santo, nas Escrituras. Nós vivemos em um tempo em que as pessoas pensam que as sensações e emoções são evidências da presença do Espírito Santo, e perdem-se em sentimentos desprovidos de conhecimento e intelectualidade. Porém, a verdadeira emoção, vinda do Espírito Santo, conforme as Escrituras, baseia-se no conhecimento de Deus e das doutrinas, e não ocorre sem meditação, estudo e aplicação da Palavra de Deus; este é o culto racional.
Se não temos o hábito de ler, estudar e meditar nas Escrituras, não somos bem-aventurados, segundo o homem de Salmos capítulo primeiro, que medita na Palavra de dia e de noite; só nos restando um “evangelho” cheio de emoções, desprovido de doutrina, algo doentio, pecaminoso e pagão.

A Reforma é um movimento intelectual, de livros, de literatura, de escritos, de reflexão e de debate teológico, em que nós vamos nos aplicar a pensar biblicamente, olhando as Escrituras, e tudo analisando segundo ela. A nossa mente não está inerte enquanto nos emocionamos diante das verdades do Evangelho, mas a nossa razão é atuante, ativa, de forma a mantemos uma emoção saudável, baseada e fundamentada na razão. Assim, cumpriremos toda boa obra. Esta é a boa influência da literatura. Desta forma, estaremos meditando junto a Igreja de Deus, não somente de nosso tempo, não somente com os santos salvos e justificado em Cristo desta geração, mas com toda Igreja, junto a todos os salvos de todos os tempos. Por isso nos reunimos para o culto ao Senhor. Não podemos negar que aprendemos quando lemos a Bíblia sozinhos, mas é na comunhão com a Igreja de Deus que refletimos, ouvimos a exposição da Palavra, compartilhamos e comungamos da fé e somos fortalecidos nela. E refletimos na Palavra, não só com os irmãos presentes, mas também com os santos de todos os séculos da história, que já estão na Glória, mas que deixaram documentados as suas reflexões ao longo de milhares de anos.

1. Os escritos como instrumento de ensino no tempo dos apóstolos.

Os apóstolos – os doze discípulos e Paulo (recomendo o livro “Apóstolos”, do Reverendo Augustus Nicodemos, que faz um estudo muito importante e bíblico sobre ministério apostólico) – foram testemunhas oculares de Cristo ressurreto e, portanto, eram os únicos receptores diretos da Revelação de Deus. Quando eles não podiam estar presentes em determinado local, escreviam cartas às Igrejas, que funcionavam como se lá estivessem. O mesmo ocorre conosco quando os lemos, ou seja, é como se estivessem entre nós. Por isso, as nossas igrejas são apostólicas, não no sentido de que temos apóstolos hoje, mas porque somos dirigidos pela mensagem apostólica, concedida por Deus a eles. Diante disso, concluímos que sempre os escritos e a leitura foram meios usados por Deus para que a Igreja fosse instruída e edificada, e Ele mesmo os preserva de geração em geração. Em primeiro lugar, Deus vai usar as Escrituras, que é a revelação de Sua vontade sem falhas; e em segundo, ele vai usar os escritos, que mesmo não sendo inspirados e sem falhas, são interpretações fiéis das Escrituras, aprovados pelas Escrituras, escritos por homens que foram graciosamente iluminados pelo Espírito Santo.

2. O ensino dos pastores em relação aos apóstolos.

E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo; até que todos cheguemos à unidade da fé, e ao conhecimento do Filho de Deus, a homem perfeito, à medida da estatura completa de Cristo”. (Efésios 4:11-13).

As vocações são dons de Deus para a edificação, crescimento e fortalecimento da Igreja em Cristo. Quais são os ofícios que permanecem e quais os ofícios que cessaram?
Cristo esteve aqui e passou três anos com os seus discípulos lhes ensinando as verdades do evangelho, e lhes deixou claro que não revelaria tudo naquele momento, porque não poderiam suportar, mas que lhes enviaria o Seu Espírito para lhes aprofundar nestas verdades, ensinando-os e revelando o que viria a ser as Sagradas Escrituras.

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus; Edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina”. (Efésios 2:19,20). Esse fundamento (as Escrituras) foi lançado. O fundamento é importante na construção de uma casa, é o início da construção e lhe garante firmeza e estabilidade. Porém, a construção de uma casa não consiste apenas em lançar fundamentos, isso é feito apenas uma única vez, sendo erguida, então, as paredes. Quem lançou fundamento? Resposta: Os apóstolos e profetas. Após lançado do fundamento, o trabalho de construção deve ter continuidade. O fundamente já foi posto, Cristo é a pedra angular, a principal pedra e os ofícios apostólico e profético lançaram a base, porém, esses ofícios eram de caráter passageiro, cada um ao seu tempo; os profetas, no Velho Testamento e os apóstolos, no Novo Testamento. Sendo assim, os dois primeiros ofícios (apóstolos e profetas) cessaram – cremos que, antes mesmo do final do século primeiro, depois de Cristo, após lançarem o fundamento (o cânon das Escrituras). Todos os ofícios posteriores vieram sobre essa base.

Quais ofícios que permaneceram como aqueles que lançam paredes sobre o fundamento? Resposta: Pastores e doutores. O pastor é alguém chamado por Deus para o ofício específico de ensinar, é um doutor, um mestre, um bom intérprete, que vai cuidar de uma Igreja local, ensinando a Palavra de Deus fielmente. O pastor não recebe revelação direta de Deus, mas vai estudar o fundamento que já foi lançado por aqueles que receberam tal revelação direta. Ele vai ser guiado e iluminado pelo Espírito Santo para entender o fundamento, não ensinando algo “novo”, mas se limitando a somente estudar e ensinar o que já foi lançado, isto é, a Palavra de Deus. O Espirito Santo os guiará na compreensão das Escrituras para que possam pregar de maneira fiel e zelosa. A pregação vai ser o instrumento principal na proclamação do Evangelho e através dela Deus leva a diante a Sua obra, pois “como crerão se não houver quem pregue?” (Romanos 10: 13-15). Os apóstolos eram pregadores; os profetas eram pregadores; e os pastores-mestres também são pregadores.

No entanto, chamo-lhes atenção para o fato que ainda que a pregação seja o meio primário usado por Deus para o avanço do Evangelho, e não haja nenhum outro livro que chegue a esse patamar, o Senhor também usa bons interpretes da Bíblia no decorrer da história, para escreverem livros que, com a Sua graça, edificarão a muitos. Por exemplo, Agostinho lutou contra o ensino herético de Pelágio e foi usado por Deus naquele momento. Aquela boa interpretação que o Senhor lhe concedeu das Escrituras influenciou, tanto a igreja da época, como a as igrejas posteriores. Deus pode destacar muitas vezes um pastor-mestre para que lute contra determinada heresia e isso seja registrado. Se você estudar o que outros escreveram no decorrer da história, você vai se tornar precavido quanto a certas heresias que estão hoje em voga. Esse conhecimento passa de uma geração a outra, não por uma tradição oral, mas por uma tradição escrita.

Ao mesmo tempo em que tivemos bons intérpretes ao longo da história, a apostasia foi também acontecendo desde a patrística, nos primeiros séculos. Teólogos, homens importantes escreveram, e desde aquele período inicial eles foram se desviando da verdade. Ao lermos a carta aos Hebreus, e estudamos as demais partes do Novo Testamento, percebemos claramente que desde a época dos apóstolos, ao saírem eles para a semeadura do Evangelho, seguia-se quase imediatamente a semeadura dos hereges, cheios de doutrinas falsas, tentando distorcer a pura mensagem. Gálatas foi um exemplo disso. Paulo pregou naquela região, e os hereges vieram e distorceram o evangelho logo em seguida, introduzindo o legalismo, distorcendo a salvação pela fé. A boa doutrina e a falsa doutrina seguem pela história da Igreja, e o Novo Testamento previne isso o tempo todo, chamando-nos a cautela quanto aos falsos profetas e lobos vestidos de ovelhas. A Igreja medieval se perdeu e se tornou (ainda que isso seja ofensivo, devemos dizê-lo claramente) uma sinagoga de satanás. O século XVI, que precedeu a Reforma, foi um período de densas trevas e o Espírito Santo de Deus iluminou alguns homens, os pré-reformadores. Logo após veio Lutero que estudou as Escrituras, as cartas aos Gálatas e aos Romanos, e descobriu, através da revelação de Deus nas Escrituras, a doutrina da justificação pela fé somente em Cristo Jesus, somente pelo evangelho da graça, sem obras, sem indulgências. Diante daquela triste realidade em que a Igreja medieval passava, ele lançou as suas teses, momento esse que comemoramos no dia trinta e um de outubro, o início da Reforma.

Vejam, irmãos, como foi que ele fez isso. Primeiro, estudou a própria Escritura. A Igreja medieval do tempo de Lutero havia apostatado, desviando-se do Evangelho. E isso vem acontecendo com muitos grupos ditos “cristãos”, no decorrer da história da Igreja. É também o que tem acontecido com a Igreja evangélica moderna no Brasil, nos Estados Unidos, como ocorreu na Europa. Há um princípio no coração dos homens de amor e apego à mentira, que só é vencido pela ação do Espírito de Deus, pela graça, pela luz de Deus. Sendo assim, se somos reformados temos um princípio a seguir que a reforma nos legou: Devemos sempre nos reformar, voltando às Escrituras para ver se não estamos nos desviando e seguindo uma novidade, avaliando continuamente nossa doutrina e cultos à luz da Bíblia.

A Reforma Protestante foi uma volta ao antigo, à Bíblia, com o auxílio de bons intérpretes ao longo da história da Igreja, não negando a tradição, mas julgando-a pelo firme fundamento já posto: As Escrituras, a Doutrina doa Apóstolos. A apostasia é novidade. Havia tanto lixo sobre o fundamento colocado pela apostasia, que ele foi enterrado embaixo de um entulho de tradições humanas, espúrias, falsas “revelações”, palavras do diabo, o pai da mentira, que persegue a Igreja o tempo todo, a fim de corrompê-la e levá-la ao desvio e abandono da Genuína Fé. Diante de tanto entulho que foi acrescentado, não temos dúvida de que a Reforma foi uma obra da graça, sem a qual Lutero nunca teria descoberto o que descobriu. Uma recomendação minha: Leiam Lutero para entenderem a Reforma. A partir daquele momento os entulhos começaram a ser tirados de forma gradual. Porém, Lutero não conseguiu tirar tudo. Ele cometeu muitas falhas, mas teve seu trabalho continuado por outros que vieram e prosseguiram em tirar os entulhos, a tradição humana. Dentro do movimento reformado tivemos o movimento calvinista, e o movimento puritano, por exemplo. Vários movimentos vieram a surgir, levando adiante a Reforma. Eles olharam para o passado e estudaram a Bíblia, não negando os primeiros credos da igreja, isto é, a Ortodoxia Cristã e Bíblica, e foram tirando os entulhos, meus irmãos. Foi uma obra do Espírito Santo que explodiu naquela região, que transformou vidas e nações, para a glória de Deus. E na medida em que eles iam estudando a Bíblia e as compreensões bíblicas dos homens do passado, na confirmação e orientação do Espirito Santo, eles entenderam que também tinham que deixar escrito suas compreensões, segundo Deus lhes revelava pela Palavra. E veio, pela providência divina, a invenção da impressa, e a Reforma prosseguiu. Lutero diligentemente escreveu e divulgou os seus escritos. Calvino também escreveu, legando-nos as Institutas, sistematizando as doutrinas. E os puritanos vieram depois, deixando-nos muitos escritos. Aqueles homens documentaram as compreensões que o Espírito lhes concedia, na medida em que estudavam a Palavra de Deus, e deixaram um vasto legado escrito para a posteridade, como documentos de fé, resumos de sua fé, e entre eles está a Confissão de Fé Batista (CFB 1689), um importantíssimo documento da Reforma Puritana Batista, o qual todos devem estudar.

O que tem ocorrido nestes últimos cinco séculos após a Reforma? Mais novidades. Tivemos no século XVIII uma série de avivamentos, mas também o início de alguns problemas. Já o século XIX foi desastroso. As Igrejas históricas chegaram ao Brasil. Ainda que atrasadas, chegaram firmes, mas já decaindo do antigo vigor reformado. A Fé Reformada foi sendo abandonada. Surgiram movimentos como o pentecostalismo, com sua ênfase nas novidades e crendo em “profetas modernos”; o movimento neopentecostal, que foi mais longe, crendo que não há só “profetas”, mas “apóstolos modernos”. Atualmente temos o liberalismo teológico, que destruiu várias partes da Europa, duvidando das Escrituras Sagradas, apontando uma série de “erros”, destruindo o Cristianismo Histórico. Esses movimentos não se caracterizam como movimentos reformados, mas são movimentos de antirreforma. Estes são os dois movimentos prevalecentes no decorrer da história da Igreja: Reforma e Antirreforma. Todos esses movimento de Antirreforma fizeram com que as pessoas se afastassem da verdade bíblica, ainda que sob pretexto dela. Se começamos a acrescentar à pregação do evangelho revelações “quentinhas”, somos levados a considerar a Bíblia uma revelação antiga, ultrapassada, e a abandonamos finalmente. Por isso vivemos em uma sociedade secularizada, mística, de sensações, porque o evangelho pregado se baseia em revelações “diretas” de Deus, tornando a Bíblia antiquada e esquecida. Tudo isso é movimento de Antirreforma, resultando em uma Igreja, hoje, que foi mais longe em heresias do que até mesmo a Igreja Medieval.

Eu me alegro em ver vislumbres da Reforma no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. Temos que fazer o que os antigos fizeram, ou seja, voltar à Bíblia com ajuda dos bons intérpretes. Não querendo inventar a roda, mas voltando ao princípio do Sola Scriptura.
Oh, como devemos ler as Escrituras! Oh, como devemos ler os antigos!

E logo os irmãos enviaram de noite Paulo e Silas a Beréia; e eles, chegando lá, foram à sinagoga dos judeus. Ora, estes foram mais nobres do que os que estavam em Tessalônica, porque de bom grado receberam a palavra, examinando cada dia nas Escrituras se estas coisas eram assim”. (Atos 17:10,11).

Tenhamos a mesma disposição dos bereanos. Devemos ler a Bíblia, desarmados, deixando-a falar, e então com base nela, julguemos tudo que temos ouvindo e lido. A Bíblia é o único livro que não pode ser julgado, mas em tudo receber o “Amém”. Isto que os reformadores fizeram.

Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos os pés dos que anunciam o evangelho de paz; dos que trazem alegres novas de boas coisas”. (Romanos 10:13-15).

Para que eu possa invocar ao Senhor, eu preciso crer. Mas para que eu creia, devo ouvir, porque ninguém crê no que não sabe, e para saber eu tenho que ouvir, e eu só posso ouvir se alguém a mim pregar. A Bíblia não diz “leia e não vá ouvir pregação”, tampouco devemos nos limitar a assistir pregações pela internet. Antes, devemos nos congregar onde existe um pregador fiel, que expõe zelosamente a palavra de Deus. A pregação é o meio primordial para a salvação das almas.

A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo”. (Romanos 10:9).

Gostaria, então de recomendar: Leiam, leiam muito. Porém, ouçam mais ainda pregação. Não deixem de se congregar, pois a pregação é um instrumento de Deus para a conversão, e a edificação e da Igreja. A leitura é auxiliar e não substitui o ato de se expor à pregação. A leitura vai nos ajudar na Reforma hoje. Devemos voltar aos clássicos, começar a ler os antigos, aos bons pais da igreja, com cautela, mas leiam. Leiam, especialmente, os reformadores, pré-reformadores e puritanos, escritos oriundos dos movimentos que foram uma obra do Espirito Santo de volta às escrituras. Isso é Reforma, leiam!

Lembrem-se que não são os mais sábios aqueles que leem mais, porém aqueles que leem o que é mais necessário e proveitoso. Leiam bastante aqueles livros que vos direcionem a um curso de comunhão diária com Deus e santa ordenação de vossa vida diária”. Richard Baxter.

*Transcrição da aula da EBD na Congregação Batista Reformada em Belém, manhã de 29 de Outubro de 2017, por ocasião da Inauguração da Biblioteca Batista Reformada.

**Transcrito por Adriane Oliveira.

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